DEU NO VALOR ECONÔMICO
Egressos dos extremos da cadeia partidária e coincidentes na pauta da moralidade, DEM e P-SOL chegam à véspera da sucessão presidencial de flerte com o ocaso.
Um está no clube dos grandes do Congresso desde sempre. Já chegou a ser o partido com o maior número de prefeitos do país. Hoje comanda metade dos mil municípios de seu apogeu. Dos sete governadores que teve nos anos 90, hoje se limita ao quase nenhum da capital federal.
Ocupou os mais poderosos ministérios, estatais e autarquias até a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que, na única vez em que encabeçou chapa para a Presidência da República, com Aureliano Chaves em 1989, não tenha obtido percentual de votos que chegasse a um dígito.
O outro está no clube dos nanicos desde que surgiu, da costela do PT. Tem quatro deputados federais, um senador - José Nery (PA) - e nenhum governador de Estado. Nunca comandou cargos de poder na administração federal. Isso não impediu que, em 2006, na primeira eleição nacional que disputou, alcançasse, com a então senadora Heloísa Helena, 6,8% do total de votos para a Presidência da República, perdendo apenas para os dois finalistas.
O PT chegou ao poder pelo centro e, no governo, comeu bordas à direita e à esquerda. Às vésperas de o PT iniciar seu último ano como inquilino do Palácio do Planalto, é nas margens do quadro partidário que o quadro sucessório lhe serve de balanço.
No P-SOL, o sucesso da disputa presidencial de 2006 não teve sustentação. Na eleição seguinte, sua fatia no colégio de 51.748 vereadores do país passou de 20 para 25 vereadores.
Naquela eleição, Heloísa Helena enfrentaria a exploração de seus adversários de uma dívida que acumulara com a Receita pelo não recolhimento de impostos incidentes sobre a verba extra a que tinha direito, nos anos 90, como deputada estadual pelo PT. O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça e, na batalha de recursos, a Receita está à frente.
Naquele mesmo ano, a deputada federal Luciana Genro (RS), candidata em Porto Alegre, seria bombardeada internamente depois de receber contribuição da Gerdau à sua campanha.
O economista Cesar Benjamin, vice de HH em 2006, assistiria de longe o partido sucumbir à pira do denuncismo. Voltaria à tona agora para anunciar que não é capaz de distinguir um piadista boquirroto de um aliciador de menores - deficiência que não o impede de exercer o cargo de diretor-presidente de uma rede estadual de rádio e televisão morando a 852 quilômetros de seu local de trabalho.
Em 2010, a única expressão eleitoral de abrangência nacional da extrema esquerda já anunciou que pretende apoiar a senadora Marina Silva (PV). Vale conferir qual será o desempenho do P-SOL nas Câmaras de Vereadores das eleições seguintes.
No DEM, a encrenca de José Roberto Arruda acrescentou pneumonia num paciente terminal. Seus candidatos mais competitivos a governos estaduais - Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte - estão na região onde Lula elege até uma lamparina.
No Senado, repositório de poder do partido, a situação é igualmente crítica. Da atual bancada de 13, pelo menos metade deve sucumbir ao rolo compressor da aliança governista nos Estados.
O DEM minguou longe do poder, mas foi no exercício do seu mais vistoso cargo que o partido lembrou o que é capaz de fazer quando empossado. A oração da propina jogou por terra a estratégia do mais aplicado partido de oposição no Congresso. Investido dessa condição, o DEM chegou até a apresentar projeto de lei para para proibir as empreiteiras de captar financiamento junto ao BNDES para obras no exterior. É um projeto que não teria dificuldades de arrastar o P-SOL se este partido tivesse mais do que uma cadeira na Casa.
Além de não lhes arrebatar novos eleitores, o discurso da moralidade, contradito, abriu um fosso em relação a seu eleitorado tradicional.
São ambos reféns de um governo que, capturado na sua própria armadilha ética, radicalizou as políticas inclusivas e a mistificação da figura do presidente. É jogo jogado.
No passado, o golpismo serviu de refúgio para a direita desprovida de voto e a clandestinidade, à esquerda derrotada pelos seus erros. Hoje não há alternativa às urnas, por mais duro que isso possa parecer.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
Egressos dos extremos da cadeia partidária e coincidentes na pauta da moralidade, DEM e P-SOL chegam à véspera da sucessão presidencial de flerte com o ocaso.
Um está no clube dos grandes do Congresso desde sempre. Já chegou a ser o partido com o maior número de prefeitos do país. Hoje comanda metade dos mil municípios de seu apogeu. Dos sete governadores que teve nos anos 90, hoje se limita ao quase nenhum da capital federal.
Ocupou os mais poderosos ministérios, estatais e autarquias até a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que, na única vez em que encabeçou chapa para a Presidência da República, com Aureliano Chaves em 1989, não tenha obtido percentual de votos que chegasse a um dígito.
O outro está no clube dos nanicos desde que surgiu, da costela do PT. Tem quatro deputados federais, um senador - José Nery (PA) - e nenhum governador de Estado. Nunca comandou cargos de poder na administração federal. Isso não impediu que, em 2006, na primeira eleição nacional que disputou, alcançasse, com a então senadora Heloísa Helena, 6,8% do total de votos para a Presidência da República, perdendo apenas para os dois finalistas.
O PT chegou ao poder pelo centro e, no governo, comeu bordas à direita e à esquerda. Às vésperas de o PT iniciar seu último ano como inquilino do Palácio do Planalto, é nas margens do quadro partidário que o quadro sucessório lhe serve de balanço.
No P-SOL, o sucesso da disputa presidencial de 2006 não teve sustentação. Na eleição seguinte, sua fatia no colégio de 51.748 vereadores do país passou de 20 para 25 vereadores.
Naquela eleição, Heloísa Helena enfrentaria a exploração de seus adversários de uma dívida que acumulara com a Receita pelo não recolhimento de impostos incidentes sobre a verba extra a que tinha direito, nos anos 90, como deputada estadual pelo PT. O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça e, na batalha de recursos, a Receita está à frente.
Naquele mesmo ano, a deputada federal Luciana Genro (RS), candidata em Porto Alegre, seria bombardeada internamente depois de receber contribuição da Gerdau à sua campanha.
O economista Cesar Benjamin, vice de HH em 2006, assistiria de longe o partido sucumbir à pira do denuncismo. Voltaria à tona agora para anunciar que não é capaz de distinguir um piadista boquirroto de um aliciador de menores - deficiência que não o impede de exercer o cargo de diretor-presidente de uma rede estadual de rádio e televisão morando a 852 quilômetros de seu local de trabalho.
Em 2010, a única expressão eleitoral de abrangência nacional da extrema esquerda já anunciou que pretende apoiar a senadora Marina Silva (PV). Vale conferir qual será o desempenho do P-SOL nas Câmaras de Vereadores das eleições seguintes.
No DEM, a encrenca de José Roberto Arruda acrescentou pneumonia num paciente terminal. Seus candidatos mais competitivos a governos estaduais - Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte - estão na região onde Lula elege até uma lamparina.
No Senado, repositório de poder do partido, a situação é igualmente crítica. Da atual bancada de 13, pelo menos metade deve sucumbir ao rolo compressor da aliança governista nos Estados.
O DEM minguou longe do poder, mas foi no exercício do seu mais vistoso cargo que o partido lembrou o que é capaz de fazer quando empossado. A oração da propina jogou por terra a estratégia do mais aplicado partido de oposição no Congresso. Investido dessa condição, o DEM chegou até a apresentar projeto de lei para para proibir as empreiteiras de captar financiamento junto ao BNDES para obras no exterior. É um projeto que não teria dificuldades de arrastar o P-SOL se este partido tivesse mais do que uma cadeira na Casa.
Além de não lhes arrebatar novos eleitores, o discurso da moralidade, contradito, abriu um fosso em relação a seu eleitorado tradicional.
São ambos reféns de um governo que, capturado na sua própria armadilha ética, radicalizou as políticas inclusivas e a mistificação da figura do presidente. É jogo jogado.
No passado, o golpismo serviu de refúgio para a direita desprovida de voto e a clandestinidade, à esquerda derrotada pelos seus erros. Hoje não há alternativa às urnas, por mais duro que isso possa parecer.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
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