quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Voto distrital misto é uma luz nas trevas, por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Folha de S. Paulo

Novo formato frearia a proliferação de partidos e ajudaria eleitor a escolher melhor seu deputado

No sistema atual, legenda do presidente eleito não forma bancada suficiente para apoiá-lo

O sistema eleitoral brasileiro de voto proporcional com listas abertas parece muito democrático, mas é uma aberração política. Se o Brasil fosse um país pequeno e relativamente homogêneo, como Dinamarca e Noruega, esse formato poderia ser uma boa solução, mas não diante das nossas características exatamente opostas.

Por isso, ao ler nesta Folha (1º/11) que o presidente da Câmara dos DeputadosHugo Motta (Republicanos-PB), e o relator Domingos Neto (PSD-CE) estão prestes a acelerar a tramitação do projeto de lei que estabelece o voto distrital misto, fiquei surpreso e animado. É uma luz nas trevas. A ideia é que o projeto possa ser aprovado pelas duas Casas do Congresso para valer nas eleições gerais de 2030.

Eu defendo o voto distrital misto desde 1961, quando soube que o novo sistema eleitoral da Alemanha era dessa natureza. No sistema alemão, o eleitor deposita dois votos: um para seu candidato no distrito e o outro para o partido político que apoia —que, como os demais, tem uma lista fechada de candidatos a serem possivelmente eleitos pelo voto proporcional, ordenados conforme decisão da legenda. Assim, apurados os votos, os primeiros das listas serão eleitos, observando-se o número de votos que a sigla obteve.

Até quando vai o arrocho do BC, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Projeção de inflação do BC para o segundo trimestre de 2027 cai para 3,3%, mas não basta

Selic fica em 15%, BC espera mercado de trabalho mais frio e expectativa de IPCA menor

A estimativa de inflação do Banco Central para o segundo trimestre de 2027 caiu de 3,4% para 3,3% (em 12 meses, em um ano), lê-se no comunicado em que a autoridade monetária anunciou Selic ainda em 15% ao ano.

A meta de inflação é de 3%. Parece que se está perto da meta, nas contas do BC, pois. Mas o BC, ao que parece, quer ver contenção maior em emprego e salário e expectativa de inflação menor. Corte da Selic, por ora, só a partir de março de 2026.

Parêntese: por que interessa o segundo trimestre de 2027? É o "horizonte relevante" para o BC, aquele momento em que a política monetária, de juros, deveria estar fazendo mais efeito.

Queda dos juros para o ano eleitoral, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Manutenção desagrada governo e deverá ter consequências na escolha de Lula para os dois novos diretores

Presidente do BC parece querer fazer todo o trabalho de ancoragem das expectativas de inflação enquanto a pressão política ainda está suportável

manutenção da taxa Selic no patamar de 15% pela terceira vez consecutiva eleva as cobranças sobre o presidente do Banco CentralGabriel Galípolo, que passou a enfrentar uma artilharia mais pesada de críticas de integrantes do governo contra a política de juros altos.

No comunicado da decisão desta quarta (5), Galípolo e os demais diretores foram duros ao insistir na avaliação de que será preciso manter a taxa no nível atual por um período "bastante" prolongado. O bastante, nesse caso, tem peso e pode, inclusive, empurrar o início da queda dos juros de janeiro para março de 2026.

Chacina é a única saída para questão da segurança? Por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

No mesmo mês, duas concepções opostas de como lidar com o crime organizado

Ações precisam ser multidimensionais, como são as atividades das máfias

sangrenta operação policial promovida na semana passada pelo governador Cláudio Castro foi a sua quarta desde 2021, quando ele passou a comandar o estado do Rio de Janeiro. Denominada Contenção, teve o mesmo intuito e seguiu o mesmo roteiro das anteriores, delas diferindo apenas na multiplicação dos cadáveres que deixou expostos.

Em todas elas, armamentos e munições foram apreendidos, prisões feitas —e muita gente morreu: 28 pessoas na Favela do Jacarezinho, em maio de 2021; entre 23 e 25 na Vila Cruzeiro, no mesmo mês do ano seguinte; 19 em julho de 2022, no Complexo do Alemão. Não há o mais remoto indício de que essas mortes tenham servido para diminuir o controle do crime organizado sobre aqueles territórios. Esse será o provável resultado da operação que, agora, custou a vida de mais de uma centena de pessoas, no Complexo do Alemão.

Troca de favores, por William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula ganhou nos erros dos adversários, mas adotou agora tática arriscada

Lula decidiu desafiar uma convenção do marketing político segundo a qual, se a onda é forte, o melhor é passar por baixo dela. E passou a criminalizar a atuação da polícia na megaoperação no Rio, que desfruta hoje de um apoio na população tão inédito quanto o número de mortos registrado no confronto com uma organização criminosa preparada para combater.

Considerando que segurança pública é a preocupação n.º 1 do eleitor, o tipo de assunto no qual governos petistas apanham fácil, peitar a onda em favor da megaoperação é postura de alto risco. O que levaria um político experiente a optar por um cálculo que só promete desvantagens?

STF entra de cabeça em nova polêmica, por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Nem todo ministro compartilha o mesmo conceito de institucionalidade de Edson Fachin

Há pouco mais de um mês no comando do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin já viu fracassar seu plano de manter a Corte longe da rinha política. Ele preferia que o tribunal se manifestasse sobre a megaoperação no Rio de Janeiro em decisões judiciais, mas outros ministros optaram por declarações públicas. Alexandre de Moraes foi além: viajou até a capital fluminense para se reunir com autoridades locais.

A intenção de Fachin era dar uma contribuição institucional para solucionar a crise no Rio. Entretanto, nem todo ministro do STF compartilha o mesmo conceito de institucionalidade. O governador Cláudio Castro chamou de “maldita” a decisão do tribunal que criou regras para a realização de operações policiais na cidade. Diante do silêncio de Fachin, Gilmar Mendes e Flávio Dino saíram em defesa do tribunal.

O novo teste para Lula e para a direita, por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

A violência não se explica por variáveis macroeconômicas. Ela invade o cotidiano e redefine prioridades

Como quase tudo na vida, os equilíbrios alcançados na política, mesmo quando ótimos, não são estáticos nem perenes. A durabilidade de um equilíbrio político depende da capacidade das instituições e dos líderes de oferecer respostas congruentes com as expectativas da maioria da sociedade diante de choques e imprevistos.

Choques podem ter naturezas variadas. Às vezes são endógenos, nascem do próprio sistema político – como o surgimento de um novo líder carismático. Outras vezes são exógenos, resultado de eventos externos, como uma crise econômica internacional ou uma pandemia.

Se o tarifaço imposto pelos EUA foi um presente para Lula – que antes estava nas cordas e voltou à condição de favorito à reeleição em 2026 –, a dificuldade de oferecer uma resposta consistente às expectativas da sociedade diante da crise da segurança pública e da violência do crime organizado tem o potencial de fragilizá-lo.

Ninguém quer cortar gastos no Brasil, por Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Ou bem avançamos com uma reforma fiscal e orçamentária, para valer, ou o País caminhará a passos largos para o vinagre

O mais recente episódio da saga para dilapidar as contas públicas ocorreu nesta semana, no Congresso Nacional. Aprovou-se medida para blindar uma parte dos gastos da Defesa Nacional, afastando-se as chamadas regras fiscais.

Em paralelo, há um cardápio de propostas a serem aprovadas, com urgência, sem as quais o governo terá de mudar a meta fiscal de 2026. Não se verifica nem um fiapo do vigor presente na defesa dessa nova contabilidade criativa nos gastos com Defesa quando se trata de apoiar a agenda do ajuste.

Para ter claro, a blindagem dos R$ 33 bilhões de gastos com programas e ações orçamentários na área de Defesa Nacional é um escárnio. Fere a lógica básica do novo arcabouço fiscal ( Le i Complementar n . º 200/2023) e comprova que, na hora do vamos ver, ninguém está disposto a cortar gastos.

Boa notícia sobre voto distrital, por Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

Há ainda muito chão pela frente. Cabe também uma melhoria do sistema atual

Matéria na Folha de S. Paulo no dia 1.º deste mês v e i o com este título: Relator diz que voto distrital afasta facções e tem sinal positivo dos maiores partidos. O relator do projeto é o deputado Domingos Neto (PSD-CE), que disse também que a “urgência do projeto pode ser aprovada em novembro”, o que facilitaria o trâmite. O presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu a mudança do sistema eleitoral para 2030, o que já demonstra que não será tão simples. E o sistema distrital seria misto, acomodando em parte o sistema atual.

Poesia | Aos que virão depois de nós, Bertolt Brecht

 

Música | Milton Nascimento, Lo Borges - Nada será como antes