quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Decretar GLO em Belém é medida correta

Por O Globo

Operações com militares já obtiveram sucesso em eventos internacionais — e crime organizado na região preocupa

Foi acertada a decisão do governo federal de decretar operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a segurança da Cúpula de Líderes e da Conferência da ONU sobre o Clima (COP30), que acontecerão nos próximos dias em Belém, com a presença de autoridades nacionais e internacionais. O decreto atende a pedido do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e abrange, além da capital, os municípios paraenses de Altamira e Tucuruí, permitindo o uso das Forças Armadas no patrulhamento. Não se pode arriscar diante de um megaevento, especialmente num momento em que o país vive crise aguda na segurança pública.

A agenda climática, o mapa e o dinheiro, por Vera Magalhães

O Globo

Brasil tem a chance de ocupar vácuo deixado pelos EUA e por outras grandes potências que recuam da agenda climática

A ministra Marina Silva tem usado com frequência a expressão “mapa do caminho” para designar o que deveria ser o eixo da COP30: implementar todos os acordos já traçados em conferências anteriores do clima para frear o aquecimento global e evitar as consequências para o planeta.

Trata-se de um diagnóstico como sempre correto, mas que esbarra em dois problemas. Primeiro, não falta um mapa para saber o que precisa ser feito, mas sim dinheiro para fazer. Segundo, no caminho, também do Brasil, há vários obstáculos que não se superam apenas com mapa, mas com vontade política firme e inequívoca.

O plano proposto por Marina, que deverá fazer parte da colaboração do Brasil durante a COP30 em Belém, prevê um cronograma para a redução e, em longo prazo, o fim do uso de combustíveis fósseis, com a definição de setores prioritários que deveriam acabar com a dependência de petróleo, gás e carvão.

Talibã na Penha, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Proposta da direita abre caminho a sanções econômicas e intervenções militares no Brasil

A direita descobriu uma fórmula mágica para acabar com o tráfico: rotular as facções criminosas como organizações terroristas.

A proposta já passou pela Comissão de Segurança da Câmara, dominada pela bancada da bala. Agora pode ser aprovada na Comissão de Constituição e Justiça, com apoio de governadores bolsonaristas.

A ideia parte de uma premissa verdadeira para chegar a uma conclusão falsa. A verdadeira: os bandidos são violentos, oprimem as comunidades e precisam ser combatidos. A falsa: isso exigiria equipará-los a terroristas.

O que é terrorismo? Por Renato Galeno

O Globo

A História nos mostra que agir por medo e manipular informação com objetivos eleitorais não funciona

A recente operação policial no Rio de Janeiro, que provocou a morte de 121 pessoas e medo em toda a cidade, trouxe à tona um tema: o terrorismo. Fala-se em mudar a legislação, políticos ganham seguidores nas redes sociais — há muitos gritos e pouca conversa. Mas… o que é terrorismo?

Terrorismo é um fenômeno recente. Como só se teme o que se conhece ou se imagina, o ponto central desse tipo de ação — causar medo em uma ampla população, um temor que vá além dos diretamente atingidos — depende dos meios de comunicação modernos. A primeira iniciativa para criar uma lei internacional é de 1937, no âmbito da Sociedade das Nações. Foi também o primeiro de muitos fracassos nas tentativas de formalizar uma definição universalmente aceita de terrorismo.

Retomada territorial é próximo passo contra o crime, por Fernando Exman

Valor Econômico

População sofre com a expansão da violência em áreas abandonadas pelo Estado

Em formação, os policiais avançaram pelas ruas dos complexos do Alemão e da Penha na terça-feira (28), no Rio, seguindo à risca o plano que resultaria na morte de 121 pessoas. O tiroteio era intenso. Ao ouvir os relatos da operação, muitos podem ter se surpreendido com a informação de que as forças de segurança era monitoradas por drones e um sofisticado sistema de câmeras instalado pelo narcotráfico. Ficou no passado a cena de jovens alertando os comparsas com rojões, enquanto empreendiam fuga comunidade adentro. Mas uma coisa não mudou: passada a operação e recolhidos os corpos, a polícia bateu em retirada. A população mais uma vez foi abandonada pelo Estado.

Os governos federal, estaduais e municipais precisam, com urgência, aprofundar as discussões sobre a retomada dos territórios dominados pelo crime.

É verdade que dois importantes passos foram dados pelo governo Lula recentemente. Mas, ressalte-se, ambos tardios.

Governo mira nos CEOs do crime organizado, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Medidas de regulação e fiscalização da esfera federal têm mirado como nunca o suprimento de dinheiro para as facções

O combate ao crime organizado virou cenário de batalha entre governo e oposição no Congresso Nacional, com dois projetos de lei disputando prioridade na Câmara dos Deputados e a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. Numa via paralela, medidas de regulação e fiscalização da esfera federal têm mirado como nunca o suprimento de dinheiro para as facções.

As fintechs, algumas das quais foram flagradas na operação Carbono Oculto lavando dinheiro do crime, são alvo de pelo menos três iniciativas. Na última segunda-feira, o Banco Central subiu a régua dos requerimentos de capital mínimo para essas instituições. Também determinou o fim das contas-bolsão, que foram usadas por algumas delas para ocultar a origem do dinheiro sujo.

Dois delegados comandarão a CPI das organizações criminosas do Senado, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Os senadores Contarato (PT-ES) e Vieira (MDB-SE) têm condições de conduzir os trabalhos com critérios técnicos para separar as facções da criminalidade comum

O governo teve uma importante vitória, nesta terça-feira, na instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado do Senado Federal: a eleição do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência e de Alessandro Vieira (MDB-SE) à relatoria. Ambos são delegados de carreira, em condições de conferir à comissão um caráter técnico, político e simbólico que contrasta com o debate emocional e ideológico sobre uma das pautas mais sensíveis da agenda nacional, sob o impacto da mais letal operação policial da história do Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos.

Por 6 votos a 5, Contarato derrotou o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), em votação secreta, contendo a ofensiva da oposição para transformar a agenda da segurança pública numa plataforma eleitoral de extrema-direita. O centro do debate, porém, permanece: a violência urbana, o papel das facções e a responsabilidade do Estado. A CPI será um espelho da própria crise do Estado brasileiro no combate ao crime organizado, dividido entre a necessidade de reafirmar sua autoridade e a exigência de legalidade e respeito aos direitos humanos.

Nossa barbárie, nossa torpeza, por Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

O problema não é apenas ético, achando que os fins justificam os meios. É anterior, é limitação cognitiva

Sabemos produzir chacinas. Foram dois meses de planejamento, informaram as autoridades do Rio de Janeiro. Sabemos matar, com espetáculo, integrantes do crime organizado. Mas não sabemos identificar e interromper suas fontes de financiamento, seus canais de aliciamento, suas condições de manutenção e de expansão, suas expressões de poder sobre a população.

Contentamo-nos com pouco, com muito pouco. Mesmo que, por fantasiosa hipótese, todos os assassinatos da chacina da semana passada tenham sido de pessoas ligadas ao Comando Vermelho, a operação policial foi um sucesso? Será este o grande e difícil desafio para alcançar a paz: matar uma centena e meia de criminosos?

A ajuda da Câmara ao PCC e ao CV, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Ao classificar facção como terror, lei tira de Estados e Gaecos o combate ao crime e tumultua processos

Do jeito que está, o projeto que classifica as ações das facções criminosas como terrorismo, retira das polícias estaduais a competência do combate ao crime organizado e afasta de investigações os Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos), dos Ministérios Públicos estaduais, um dos mais efetivos instrumentos de enfrentamento a esses bandidos.

Ora, nos Gaecos há promotores especializados, como Lincoln Gakiya, que por anos denunciaram acusados e conhecem as provas e as investigações em curso, como a Carbono Oculto. Os casos terão de migrar da Justiça Estadual para a Federal, o que pode provocar atrasos em inquéritos e processos e levar à soltura de presos. E ao questionamento de prisões decretadas.

Os juros por um advérbio, Por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

A dúvida é se o Copom vai tirar a palavra ‘bastante’ que vem com o adjetivo ‘prolongado’ do comunicado

O desfecho da reunião do Copom hoje não será surpresa alguma para ninguém: manutenção da taxa Selic em 15%. Isso já foi amplamente telegrafado pelo Banco Central. Mas a grande expectativa de analistas e investidores está concentrada num simples sintagma nominal do comunicado a ser divulgado com a decisão: se o Copom irá deixar ou retirar do texto o advérbio “bastante” que acompanha o adjetivo “prolongado” da sua sinalização sobre os próximos passos da política monetária.

Crítica de Haddad ao Banco Central não ajuda nem o governo, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ministro da Fazenda agora prega corte de juros como qualquer político do governo

Selic não cai tão cedo e, se caísse agora, causaria tumulto ruim também para Lula 3

No Banco Central, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), daria um talho da Selic, pois taxa real de juros de 10% ao ano "não se sustenta", afirmou nesta terça. Não se sustenta, é verdade. Dá em aumento ainda mais descontrolado da dívida pública, crescimento menor da economia, aumento ou estagnação da desigualdade de renda etc. É óbvio.

Supõe-se então que o ministro acredite no seguinte: se a direção do BC diminuir a taxa Selic nesta quarta, não haverá efeito colateral, prejuízo para a atividade econômica. Ou, então, tais efeitos seriam menores do que os custos de manter a Selic no nível em que está.

Mesmo que alguém pudesse acreditar nesse balanço positivo de perdas e ganhos, o problema nem é esse. Dados o nível de inflação, a inflação esperada para 2027 (3,8%, meta de 3%) e o descrédito dos credores no controle do tamanho da dívida e na moeda brasileira, BC não vai cortar a Selic. Nem mudar a meta de inflação, "na prática" —não agora.

Crime não nasce no colo materno, por Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Onde faltam creches, renda e política pública, sobram milícia, tráfico e morte precoce

Quando o Estado falha no começo (planejamento, escola, saúde, proteção), 'compensa' no fim com fuzil

Um recorte da operação no Rio escancara o retrato de família à brasileira. Um terço dos mortos não tinha o nome do pai no registro. Não é detalhe burocrático, é herança social, mas reforça a tese conveniente e falaciosa de que "faltou homem em casa". Mulheres criam filhos sem a figura masculina todos os dias e não os perdem para a marginalidade. Este é, infelizmente, o resultado da falta de Estado, políticas públicas e responsabilidade paterna.

Não esperem muita coisa da CPI do crime organizado, por Thaísa Oliveira

Folha de S. Paulo

No fundo, até os membros da comissão talvez reconheçam que ela não precisava existir

Governo Lula sabe que banco de réus pelo atual estado da segurança pública é extenso

Por incrível que pareça, o governo Lula (PT) diz estar tranquilo com a recém-criada CPI do crime organizado. Por um voto, conseguiu emplacar o presidente, Fabiano Contarato (PT-ES). Também tem alguma confiança no relator, Alessandro Vieira (MDB-SE). Mas esse não é o motivo principal.

Um governista me pergunta quem estará no "banco dos réus" da CPI. Lula? O PT? Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública? Governadores? Cláudio Castro, do Rio? Ou convocarão Fernandinho Beira-Mar, líder do Comando Vermelho cujo paradeiro é conhecido (um presídio federal)?

A hipocrisia de Tarcísio e governadores de direita com o Consórcio da Paz, por Uirá Machado

Folha de S. Paulo

Líder paulista disse que é preciso virar o jogo contra o crime e que o Rio "deu uma grande demonstração"

Diante de tanta ambiguidade, grupo deve definir, afinal, que apito toca

Os governadores de direita, com o perdão do trocadilho, nem ficaram vermelhos. Dois dias após a operação que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, eles lançaram o Consórcio da Paz.

O nome remete de imediato ao livro "1984", de George Orwell. No romance, um governo autoritário manipula a linguagem com o objetivo de controlar o pensamento. O órgão encarregado de promover a guerra, por exemplo, chama-se... Ministério da Paz.

Na distopia orwelliana, fala-se a novilíngua, idioma caracterizado pela distorção do vocabulário e a condensação de duas palavras em uma só —mesmo que tenham sentidos contraditórios entre si.

Da proteção das minorias à censura legal: o caminho da intolerância, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Avançamos a passos largos para transformar em crime a opinião que reprovamos

Já não se pede que se tolere a opinião minoritária, mas que se puna a opinião oposta

Sou de uma geração em que a esquerda e os progressistas gabavam-se de que, apesar de serem uma força subalterna ante a hegemonia da direita e dos conservadores, ao menos eram muito mais esclarecidos, mais tolerantes e muito menos autoritários do que sua contraparte.

Hoje entendo que o apelo à tolerância a estilos de vida e valores e o apego à autonomia individual e às liberdades (inclusive de expressão), bem como a defesa intransigente da legitimidade do dissenso, eram pura questão de sobrevivência. Quando se é minoria política diante de uma hegemonia hostil, valores liberais e princípios democráticos tornam-se a principal linha de defesa.

O jogo, contudo, mudou —e, com ele, o apreço dos progressistas por esses mesmos princípios. Já não se sabe, entre progressistas e conservadores, quem mais se dedica a proibir, vetar, censurar, intimidar e mandar calar —ou a reduzir, com mais afinco, os limites do que ainda deve ser tolerado.

Poesia | E agora, José, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Lô Borges - Orquestra Paganini‬e ‪e Filarmônica /MG‬ - Estrelas/ Clube da Esquina Nº 2