sábado, 8 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

A COP 30 num Momento Crítico da Humanidade

Por Revista Será?

A Cúpula de Chefes de Estado da COP 30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – ocorre num momento crucial da civilização, tendo que enfrentar um desafio decisivo para o futuro da humanidade: efetivar uma redução significativa da emissão de gases de efeito estufa capaz de impedir a elevação da temperatura mundial a mais de 1,5º acima da era pré-industrial. Esta é a segunda vez que o Brasil sedia a reunião de líderes mundiais para discussão do meio ambiente, a primeira conferência foi a Rio 92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992, que abriu caminho para o Protocolo de Kyoto (1997) e, principalmente, o Acordo de Paris (2015), quando foram definidas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa: declínio de 37% até 2025. Ao contrário desta expectativa criada pelo Acordo de Paris, nos últimos nove anos, de 2015 a 2024, as emissões cresceram cerca de 2,5%, registrando, em todo caso, uma leve desaceleração.

Um populista em Nova York, por Thaís Oyama

O Globo

Ele optou por campanha que ofereceu soluções simples para o problema complexo que é o custo de vida na cidade

Não é todo dia que um socialista ganha uma eleição no coração do capitalismo prometendo deixar os ricos mais pobres. Reconhecido o fato extraordinário, é preciso ir devagar com o andor. Diferentemente do que têm afirmado políticos e comentaristas no Brasil, Zohran Mamdani não foi eleito prefeito de Nova York pela “classe trabalhadora”, nem sua vitória é uma prova de que a esquerda vence quando “é mais esquerda”.

O muçulmano nascido em Uganda numa família de artistas e intelectuais não foi erguido em triunfo pelos desvalidos — percentualmente, mais ricos (48%) votaram nele do que pobres (44%). Alavancaram a vitória de Mamdani sobretudo os jovens, em especial millennials com curso superior, moradores dos bairros hipsters do Brooklyn e do Queens.

Péssimo calendário eleitoreiro, por Flávia Oliveira

O Globo

Política militarizada de mortes não vencerá crime organizado

Depois de breve recolhimento, em que preferiu não aparecer na mesma foto dos governadores açodados por surfar a popularidade súbita do colega fluminense, Cláudio Castro, Tarcísio de Freitas, de São Paulo, foi às redes sociais pela política de confronto. Presidenciável do campo bolsonarista, de extrema direita, escreveu que “não se combate essa ameaça [a perda da soberania do Estado para o crime organizado] apenas asfixiando financeiramente ou com discursos”. Justo ele, à frente do estado alvo da mais bem-sucedida ação integrada de desarticulação financeira da facção criminosa que domina São Paulo, a Operação Carbono Oculto. Justo ele, que viu as operações policiais de sua gestão, na Baixada Santista, citadas como suspeitas de “execuções extrajudiciais” em relatório do governo de Donald Trump sobre violações de direitos humanos no Brasil. Justo ele, cobrado pelo aumento de casos de latrocínios e furtos — sem falar na execução, no intervalo de dez meses, de Vinícius Gritzbach, delator do PCC, e de Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral da Polícia Civil paulista.

Notícias que não vamos ler, por Eduardo Affonso

O Globo

‘Greta e sua flotilha chegam à Faixa de Gaza, com ajuda humanitária para os palestinos vítimas do grupo terrorista Hamas’

— Greta leva sua flotilha para salvar vidas no SudãoSomáliaHaiti e Mianmar.

— Esquerda pede aos editores do Aurélio, do Houaiss, do Michaelis e do Caldas Aulete que criem novas palavras para designar a ação da polícia carioca, porque já usou banho de sangue, matança, massacre, chacina, carnificina, morticínio, extermínio e genocídio, e a única que falta é holocausto, mas esta ela se recusa a pronunciar.

— Direita diz que desiste de rotular ações do Comando Vermelho como terrorismo se a esquerda concordar em chamar Farc e Hamas de terroristas, e vice-versa.

— Secom adverte presidente de que a única forma de ter chance de reeleição em 2026 é não falar de improviso, principalmente se for para dizer o que pensa sobre tráfico e segurança pública.

— Bancada religiosa tem consenso de que dificultar aborto legal em crianças vítimas de estupro é mais importante que combater o abuso infantil.

Verdades amazônicas, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Na COP30, os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no norte do Brasil

A realização da COP30 em Belém significa a redescoberta da Amazônia para brasileiros e alguns estrangeiros. Os europeus conhecem a região desde há muito. Ingleses roubaram o látex para fazer borracha na Malásia, e diversos produtos da região foram patenteados por marcas internacionais. Mas o resultado da reunião na capital do Pará será positivo, porque os técnicos, os teóricos e os curiosos poderão, afinal, conhecer um pouco da Amazônia, de seus problemas e das ambições do povo que vive no Norte do Brasil.

Os governos brasileiros sempre mantiveram posição dúbia na relação com a Amazônia. A primeira reação é nacionalista, no sentido de que a Amazônia é brasileira e ninguém toca.  Mas os governos nada fizeram em 500 anos para integrar a região que é a metade do território nacional. Getúlio Vargas iniciou tímida marcha para oeste com a criação das cidades de Ceres e Rialma, em Goiás. E visitou Belém rapidamente. Juscelino Kubitschek fez mais: criou a rodovia Belém-Brasília sob violentas críticas dos chamados especialistas no Sul do país. Jânio Quadros, sucessor de JK, chegou a designar a obra de estrada das onças. Hoje, ao longo de seu trajeto, florescem boas cidades médias com economia própria e dinamismo impressionante. O Brasil cresce apesar dos críticos.

A primeira classe também cai, por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Os economistas talvez nos possam dizer quanto nos falta para vislumbrar, num cinzento horizonte, o espectro da guerra civil

Os acontecimentos do dia 28 de outubro no Rio de Janeiro só nos deixam uma certeza: hoje, o País é outro; seu nível de conflito não voltará a ser o que era antes.

Repare, prezado leitor, que não estou aqui reeditando minhas elucubrações, que sei serem ardidas. Estou propondo uma simples constatação: a primeira classe também cai. Não estou afirmando que o avião vai cair.

Seria, entretanto, ingenuidade ignorar que aquela fileira de corpos estendida no chão é um marco macabro em nossa história. Designem-na como matança, como violência excessiva, como repressão policial indispensável à bandidagem organizada – como quiserem –, mas ao mesmo tempo e acima de tudo isso ela é o que escrevo acima: um marco macabro em nossa história. Os “arrastões” de Copacabana, casos de turistas assassinados à faca, tudo isso foi também fotografado e as fotos correram o mundo, muitas vezes implicando o cancelamento de centenas de reservas nos hotéis cariocas. Mas as reservas sempre voltaram. Penso que voltarão desta vez também, mas com uma aura, um halo, uma atmosfera psicológica diferente, que só se modificará se todos os protagonistas agirem com sensatez, construindo bases mais seguras para a paz social.

Contenção e tentação, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Questão conceitual-marqueteira à parte, sobre se seria ocupação (modelo UPP, associado ao fracasso) ou retomada de território (como quer vender o governador do Rio), certo é que haverá novas operações policiais – com incursão em favelas – até a eleição. Claudio Castro, ante a aprovação do 28 de outubro, está desafiado pela tentação eleitoreira da operação policial; a ideia de que mais duas ou três como aquela produziriam um candidato a presidente.

Sozinha, aquela ação – marco do pós-Bolsonaro, primeiro fato político relevante da direita que tem Jair nem como coadjuvante – já deu ao governador a emancipação da família. Se nunca pôde haver dúvida de que segurança pública seria o tema de 2026, seguro doravante será afirmar que o debate se desenvolverá em função da atividade policial para que as cidadelas do crime sejam reintegradas à República.

Lula entre os bancos e as fintechs, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Veto para os bancos fazerem a portabilidade de salários e aposentadorias é entrave à concorrência

Em jogo, um embate sobre segurança versus competição que vai nortear decisões com potencial impacto na vida dos brasileiros

O veto de Lula ao prazo de dois dias para as instituições financeiras fazerem automaticamente a portabilidade de salários e aposentadorias se transformou em mais um foco de tensão na disputa entre bancos e fintechs.

Em jogo, um embate sobre segurança versus competição, que vai nortear decisões regulatórias do Ministério da Fazenda e do Banco Central nos próximos meses e anos —e com potencial impacto no dia a dia da vida dos brasileiros com conta em alguma instituição financeira.

'Primeiro, conquistamos Manhattan', por Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Promessas de novo prefeito configuram programa tão ousado quanto arriscado

Mamdani não pode candidatar-se a presidente, mas lançou desafio a Trump

"Condenaram-me a vinte anos de tédio/ por tentar mudar o sistema por dentro/ Estou chegando agora, estou chegando para recompensá-los/ Primeiro, conquistamos Manhattan, depois conquistamos Berlim". O compositor Leonard Cohen escreveu o verso em 1987, para uma canção que definiu como tributo a "nossos terroristas, Jesus, Freud, Marx, Einstein". Zohran Mamdani nasceria apenas quatro anos depois, mas seu triunfo em Nova York parece a muitos uma confirmação: só o radicalismo salva.

Trump colheu derrotas em série na terça passada, um reflexo da queda livre de sua aprovação desde a posse (de +18% a -1% entre brancos, de -8% a – 37% entre hispânicos e de -37% a -76% entre negros). As vitórias democratas na Virginia e em Nova Jersey inscrevem-se na equação das pesquisas. Nova York, porém, descortinou a opção estratégica que divide os democratas: Cuomo, o pragmatismo centrista, ou Mamdani, o giro à esquerda. Interpreta-se, febrilmente, o resultado como lição.

Cláudio Castro se aproveita da crise de segurança, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Incapaz, governo desconsidera retomada de territórios

Com espetacularização, é mais fácil e barato conseguir votos

Ele não é apenas "El Matador". Sob a gestão Cláudio Castro, o Rio de Janeiro afundou na pindaíba. Mas a responsabilidade, segundo o próprio governador, não é dele —deve ser de Deus ou do Diabo. A exemplo dos territórios ocupados por milicianos e traficantes, o culpado é sempre o governo federal, a quem Castro continua a estender o pires, pedindo mais e mais dinheiro.

Na Alerj, discute-se um projeto que autoriza o governador a alienar 62 imóveis, entre os quais o estádio do Maracanã, para quitar parte da dívida com a União —R$ 12,3 bilhões a pagar em 2026.

O tempo desafia a lógica, por Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

A reprodução das sociedades está sob os impulsos da categoria social que controla os meios de produção

No livro Epistemics and ­Economics, George ­Shackle cuida de encarar a questão da racionalidade, tão cara aos economistas. “O tempo e a lógica”, comenta Shackle, “são estranhos um ao outro. O primeiro implica a incerteza, o segundo demanda um sistema de axiomas, um sistema envolvendo tudo que é relevante. Mas, infelizmente, o vazio do futuro compromete a possibilidade da lógica”.

George Shackle afirma que a economia é uma área do conhecimento submetida às incertezas da vida humana em sociedade. Ela procura estudar o comportamento dos agentes privados em busca da riqueza, nos marcos de um quadro social e político determinado temporalmente, isto é, cada nova decisão de acumular riqueza tem um caráter crucial, porquanto tem o poder de reconfigurar as circunstâncias em que foi concebida.

Cancelados na Operação Contenção, por Pedro Serrano

CartaCapital

A ação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho fere princípios humanitários e judiciais

A cultura do cancelamento, como fenômeno contemporâneo, em geral busca silenciar indivíduos ou organizações que expressam ideias consideradas inaceitáveis para determinado grupo ou sociedade. A prática costuma dar-se em ambientes digitais, caso das redes sociais, e suscita discussões sobre liberdade de expressão e censura. Não raro, alguém cancelado na internet é submetido a um linchamento virtual que envolve ameaças e agressões verbais, além, é claro, do aniquilamento de sua reputação.

A gravidade dessa questão tem motivado a criação de mecanismos de criminalização desses ataques. Um exemplo é o Projeto de Lei 1.873, de 2023, que tramita na Câmara dos Deputados e propõe a tipificação do crime do cancelamento virtual, determinando sanções para quem praticá-lo. É uma preocupação bastante pertinente, calcada em novos fenômenos sociais decorrentes de formas de convívio advindas da digitalização e de interações a distância.

Operação 2026, por André Barrocal

CartaCapital

Oposição e governo recorrem a armas diferentes na batalha pelo discurso eleitoral da segurança pública

O novo herói nacional, aquele da matança no QG do Comando Vermelho, era conhecido como “pastinha” antes da carreira política que o levou a governador do Rio de Janeiro. Cláudio Castro merecia a alcunha por carregar papéis para um deputado na Assembleia Legislativa. O cargo atual caiu-lhe no colo quando, em 2021, o Parlamento estadual degolou Wilson Witzel, de quem era vice-governador. No ano seguinte, Castro reelegeu-se com o apoio de dinheiro usado para comprar voto. Quem identificou o abuso de poder político e econômico na campanha foram o Ministério Público e a juíza Isabel Galotti, do Tribunal Superior Eleitoral, relatora da ação movida para cassar o governador filiado ao PL. Após o voto da magistrada em 4 de novembro, o julgamento foi interrompido e só será retomado a partir de fevereiro.

Correios, privatização e papel do Estado, por Marcus Pestana

Os Correios tiveram um prejuízo, em 2024, de R$ 5,6 bilhões. O desempenho ruim da empresa se confirmou, no primeiro semestre de 2025, com os Correios registrando um resultado negativo de R$ 4,3 bilhões, antecipando um prejuízo anual ainda maior neste ano. Fala-se na necessidade de uma injeção de R$ 20 bilhões para reequilibrar as finanças da empresa dentro de um plano de recuperação. Aventa-se a hipótese de um empréstimo neste valor com o aval do Tesouro Nacional. Ou seja, em caso de não pagamento do empréstimo, o ônus recairá sobre o contribuinte brasileiro. Cabe perguntar, há perspectivas de reverter a situação estrutural dos Correios, transformando-a numa empresa lucrativa? Em pleno século XXI faz sentido mover céus e terra para manter uma estatal voltada para serviços postais?

Brasil e China: o abismo entre dois modelos de desenvolvimento, por Roberto Amaral*

O atraso, seja político, seja econômico, sempre foi a ideologia da classe dominante aqui instalada pelas naus portuguesas, dependente da irmandade siamesa entre latifúndio e escravismo. O primarismo fez-se valer como necessidade da política de posse da terra, alternativa à colonização para a qual Portugal carecia de meios. Assim, com as nuances impostas pelo processo histórico, o atraso estrutural chega ao capitalismo e à República nos meados do século XX, impondo ao novo regime, no contrapelo da modernidade prometida, o modelo colonial da plantation, voltado para a exportação.

A República herda os males do Império.

Os primeiros ideólogos do primarismo, implícita nele a dependência e a alienação de um projeto de nação e de país, destacaram-se ainda antes da Independência, e um de seus ícones certamente é o Visconde de Cairu, defensor da abertura comercial e de nossa integração atlântica — necessariamente dependente — como fornecedores de produtos primários (Princípios de economia política, 1804). Teófilo Otoni, meio século adiante, insistiria na prioridade brasileira da agricultura de exportação (Discursos parlamentares, 1850). Um pouco mais tarde (1870–1888), às vésperas da despedida da monarquia, o Partido Conservador, chefiando o último gabinete de Pedro II, proclama nosso destino como “um país agrícola por natureza” e “a lavoura como o esteio da nacionalidade”.

O Agente Secreto e a Formação do Patronato Político Brasileiro, por Vagner Gomes

Para Irineu José Ferreira e Gregório Bezerra (In memoriam)

Após 40 anos de reconquista de nossa Democracia, o filme “O Agente Secreto” nos permite a releitura de alguns autores do pensamento social brasileiro. Ao mesmo tempo, reencontramos alguns filmes daquele esquecido (para alguns) e desconhecido (para muitos) ano de 1977. Segundo Luiz Werneck Vianna seria a inauguração de uma “Revolução dos Interesses” que o autoritarismo moldou na sociedade brasileira como se fosse uma possessão da “alma nacional”, ou seja, que mais adiante foi ceifando a capacidade de pensar e refletir.

Esse é o convite do diretor Kleber Mendonça Filho para que as novas gerações, ao ficarem mais de duas horas e 40 minutos atentos ao filme, busquem referências no mundo atual. A sutil exposição da figura de como se produziu a narração dos eventos do filme se enquadram numa demonstração de como o historiador exerce seu ofício. Um “quebra cabeça” de fatos e evidências com a sua intervenção sempre contemporânea.

Um corpo está estendido no chão em um posto de gasolina a margem de uma grande plantação de cana de açúcar. Acredita quem quer que foi uma tentativa de assalto. A linha misteriosa está na abertura do filme e na sequência vemos um corpo estendido no chão. Um “segurança” precisava evadir de seu local de trabalho se fosse legítima defesa de sua vida? Ficamos no exercício da dúvida… Uma leitura de Homens livres na ordem escravocrata (1969), de Maria Sylvia de Carvalho Franco, reforçaria nosso incômodo. A autora escreve um livro, que foi dedicado a Florestan Fernandes, no qual nos daria ensejo a pensar numa violência que emerge nas relações sociais dos “refugiados da sociedade”.

Poesia | Eu nunca guardei rebanhos, de Fernando Pessoa

 

Música | Casuarina, Wilson Moreira - Senhora liberdade