• Palácio não acredita que o impeachment ficou no passado
- Valor Econômico
A remoção, na segunda-feira, da última barraca dos abnegados do impeachment, plantada no gramado em frente ao Congresso, funcionou como a exéquia do pedido de afastamento da presidente Dilma, este ano. As razões pelas quais os políticos de situação e de oposição resolveram salvar esse mandato, por enquanto, foram ficando evidentes ao longo do último mês, mas podem ser resumidas numa única constatação: nem um nem outro grupo conseguiu criar uma alternativa.
Quem chegou mais perto foi Michel Temer, o vice-presidente, portanto a situação, que movimentou-se melhor em todas as direções, conquistou mais força na sociedade e no empresariado, criou um plano de governo para salvar a economia que pudesse ser imediatamente executado ao assumir para um governo de transição. Não se está aqui revelando uma traição, ou alta conspiração, como quis fazer crer o PT, mas apenas o cenário traçado para si por um político responsável que estava no comboio de sustentação do governo mas tinha que saber, por ser o segundo na linha sucessória, o que fazer se o governo não se sustentasse.
Quem roeu a corda da situação foi a oposição que, viu-se quando o impeachment esteve no auge, só queria a alternativa da nova eleição para exercer um mandato completo, e não um mandato tampão, apoiando Temer, o sucessor natural. A oposição chegou a sugerir que se criasse uma regra de disposições transitórias para impedir o vice de, se exercesse a transição, ser candidato em 2018.
Os políticos, que entraram no projeto empurrados pelas ruas, foram perdendo motivação, os empresários colocaram um pé atrás com os altos valores vislumbrados, o fervor do impeachment foi esfriando, até hibernar. Hibernar não significa morrer. O próprio governo não acredita que o impeachment ficou no passado, e tem análises que apontam para o que pode novamente detonar a ameaça.
A Operação Lava-Jato e suas surpresas estão em primeiro lugar. Os tremores de alta escala sentidos ontem no Palácio do Planalto após a prisão de José Carlos Bumlai, o amigo do ex-presidente Lula metido no circuito BNDES-PT-plataformas- frigoríficos, foram exemplo dos alertas de auxiliares da presidente a respeito do poder dessa investigação para fazer novos estragos. Uma declaração do sócio do ex-presidente Lula, aquele que sempre cuidou de suas finanças, Paulo Okamotto, causou também arrepios nas hostes governistas. Ele disse que "Lula não será preso". Frase inimaginável, mesmo na negativa, há bem pouco tempo.
A crise econômica e a deprimente onda de desemprego formam outro conjunto de alavancas para destravar o assunto, recolocando-o de volta na mesa política. Também nesse caso, como na Lava-Jato, a presidente Dilma e sua equipe colaboram para que não se clareie nunca o cenário. O Congresso já havia votado a grande maioria dos projetos do ajuste fiscal, mantido os vetos presidenciais, faltando apenas finalizar a DRU e a repatriação, ambas na reta de conclusão, quando foi atropelado novamente pela imposição da CPMF, com mobilização de prefeitos, governadores e campanha de publicidade em elaboração para ser inoculada em corações e mentes. A presidente, já senhora de si, passou a também falar a linguagem de Joaquim Levy, ressaltando como é irrisória essa contribuição "que não é para o gasto, é para o crescimento".
É o governo o responsável pela interrupção das votações, que seguiam em bom ritmo, e por embolar de novo a pauta do Congresso.
O ministro da Fazenda, que passou uma semana em beatitude, com um discurso otimista do crescimento, voltou a atacar e culpar deputados e senadores, a ameaçar com aumento de mais impostos, a criar um cenário mais negro que a fantasia. Como estará Levy semana que vem? Qual será seu discurso? Os próprios aliados estão abrandando os argumentos de Levy. Dizem que o governo tem alternativas, sim, mas não quer lançá-las agora para não reduzir a pressão pelo imposto da transação.
Esses dois cenários, o da política, com a Lava-Jato, e o da economia, com o desemprego e o discurso errático das autoridades, têm o poder de fazer o tema voltar. Não, porém, este ano, não dá mais tempo. Se ocorrer, segundo as previsões, será por volta de março ou abril.
Muito bem, digamos que Dilma, neste momento, tenha ganho de Natal antecipado três anos de mandato que estavam praticamente perdidos por volta de fim de setembro e meados de outubro, quando o medo do impeachment provocou reações e mudanças de comportamento, inclusive, com relação à saga de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, que resiste a entregar seu cargo pela renúncia, da mesma forma que Dilma se recusou a entregar o seu.
O que fará com isso? Não se sabe para quê a presidente faz tanta questão dos três anos, como não se sabia para quê queria os quatro, vez que não apresentou um programa de governo e os projetos soltos que prometeu executar mudaram quando chegou ao cargo.
A equipe da presidente, embora se mostre surpresa com a dúvida sobre para quê Dilma quer mais três anos de mandato, pensa e reflete sobre as questão. Diz: ela vai fazer política, para aprovar questões de interesse do governo no Congresso, vai retomar as concessões, adotar medidas que não sejam de ajuste, mas de crescimento, enfim, governar o dia a dia.
Dilma, contam próximos, está aos poucos retomando o comportamento pré-onda do impeachment. É aí que a ameaça pode voltar, independentemente de quem esteja na presidência da Câmara.
Ainda está para ser contada a verdadeira história do apoio da cúpula do PMDB do Rio à candidatura de Pedro Paulo, denunciado por surrar a ex-mulher, à sucessão de Eduardo Paes. O que causou mais arregalos e franzidos recentes, em Brasília, não foi o que disse o prefeito, cuja defesa do candidato já era e continua inexplicável, mas foi a declaração do governador Pezão, de quem se esperava menor envolvimento emocional com o caso. Ele considerou os três registros de ocorrência na polícia "fofocas" de rivais de campanha. Uma tática totalmente petista. "Se quiserem ir para o pau, nós vamos para o pau".
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