Por Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto acompanha com preocupação os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que na nova fase deflagrada ontem, levou à prisão o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em mais de uma reunião com Lula, a presidente Dilma Rousseff já expressou sua avaliação de que o centro nervoso da crise política, que desestabiliza seu governo, é o escândalo de corrupção investigado pela Lava-Jato, e não a estagnação econômica.
Auxiliares presidenciais ouvidos pelo Valor afirmam que os novos rumos da Lava-Jato miram Lula, mas podem respingar em Dilma, porque contaminam de forma geral o projeto de poder do PT. "Se atingir Lula, o desgaste do projeto como um todo é devastador", reconheceu um assessor de Dilma, dizendo que é preciso cautela para aguardar os próximos passos da operação.
Dilma já afirmou a Lula, na presença de ministros petistas, que o principal fator de instabilidade de seu governo é a Lava-Jato, e não a crise econômica. Era o dia 14 de julho, Lula havia aterrissado em Brasília para um almoço com a presidente e ministros mais próximos no Alvorada, e a Polícia Federal deflagrara a Politéia, nova fase da Operação Lava-Jato que atingiu senadores e deputados.
Naquele dia, agentes realizaram buscas e apreensões nas casas dos senadores Fernando Collor (PTB-AL), Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, Fernando Bezerra (PSB-PE) e do deputado Eduardo da Fonte (PE), líder do PP. Mas, segundo relatos ao Valor de um dos presentes, Lula rebateu Dilma, ponderando que a investigação não poderia paralisar o governo, porque tinha potencial para se prolongar por mais dois anos. O fundamental, segundo o ex-presidente, era focar na recuperação da economia e da popularidade de Dilma.
Ontem de manhã, Dilma desceu a rampa do segundo andar do Planalto, para uma solenidade relativa à migração de rádios AM para FM, com a expressão contrariada. Ela só distensionou o semblante minutos depois, ao retribuir a um aceno de um convidado. À tarde, ela cancelou a segunda agenda pública do dia - a entrega de um selo de "equidade de gênero e raça" - e deixou o gabinete no Planalto para despachar no Palácio da Alvorada.
Dilma reuniu-se com o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, e com o assessor especial Marco Aurélio Garcia, para tratar das próximas viagens internacionais, a Paris, ao Vietnã e ao Japão. Sua assessoria explicou que ela estava gripada, com febre e garganta inflamada.
Uma liderança petista com trânsito no Planalto destacou ao Valor que Lula tem afirmado, em conversas reservadas, que Bumlai pode ter usado seu nome indevidamente. Este petista cita trecho da decisão do juiz Sergio Moro, que decretou a prisão do pecuarista, que levanta essa hipótese.
O Palácio aguarda novos capítulos da operação, mas a orientação interna é manter o foco na recuperação da economia e da imagem do governo. Com esse objetivo, Dilma aterrissa na conferência internacional do clima, a CoP-21, para reafirmar o compromisso do Brasil com uma meta própria de redução de gases tóxicos. Mas chegará ao evento com a missão, também, de explicar a tragédia ambiental que gerou o mar de lama tóxica que devastou o Rio Doce e chegou ao litoral capixaba.
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