• IBGE também mostra que desemprego sobe mais e castiga 9 milhões de pessoas
Lucianne Carneiro - O Globo
A cidade do Rio de Janeiro tem a menor taxa de desemprego das capitais brasileiras, 5,1%, mas o salário médio do carioca é menor do que o dos trabalhadores do Sul e Sudeste do país. Com rendimento médio de 2.676, o Rio está na 8ª posição no ranking, liderado por Vitória, mostram os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do terceiro trimestre, divulgados ontem pelo IBGE.
A pesquisa também mostrou que, de julho a setembro, o desemprego no país subiu para 8,9%, acima dos 8,3% registrados no segundo trimestre e a maior taxa da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. O total de desempregados chegou 9 milhões de pessoas, 33,9% mais do que no mesmo período de 2014 e 7,5% maior do que no trimestre anterior. O rendimento real (descontado a inflação) ficou em R$ 1.889, 1,2% menor do que no trimestre encerrado em junho.
— A cidade do Rio de Janeiro tem uma população com uma faixa etária mais elevada. Isso pode afetar tanto a taxa de desemprego quanto a renda da população, mas ainda são hipóteses, vamos olhar com mais atenção para esses dados, que são divulgados agora pela primeira vez — diz o gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Vitória lidera rendimento
Foi a primeira vez que o IBGE divulgou taxas de desemprego e rendimento de todos os estados brasileiros, 21 regiões metropolitanas e 27 capitais. O maior desemprego foi em Salvador, 16,1%, e a menor renda média, em Belém do Pará, R$ 1.602. Segundo Azeredo, a maior surpresa dos novos dados foi a liderança de Vitória, com renda de R$ 3.782. Em segundo lugar, ficou Brasília com renda de R$ 3.512 — tradicionalmente nos dados da Pnad anual, o Distrito Federal aparecia com a maior renda do país. São Paulo veio em terceiro, com R$ 3.151. Em Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte a renda também supera a do Rio.
Na análise por região, o Sudeste tem a maior renda do país, de R$ 2.189. E é também a região — que responde por quase metade (44%) da força de trabalho do país — que registrou o aumento mais expressivo do desemprego. A taxa passou de 8,3% no segundo trimestre para 9% no terceiro trimestre. Em igual período de 2014, era 6,9%.
— A região Sudeste tem uma representação forte dos setores mais dinâmicos e modernos da economia, aqueles que tem uma reação mais rápida à deterioração da economia. Não é de surpreender que tenha sido ali a maior elevação — diz o pesquisador do Ipea Lauro Ramos.
Os números do IBGE mostram que o total de trabalhadores empregados chegou a 92,090 milhões de pessoas no terceiro trimestre, 121 mil a menos que no segundo trimestre e queda de 179 mil frente ao terceiro trimestre de 2014. A variação é considerada estabilidade, segundo o IBGE, por causa da margem estatística. Para Lauro Ramos, a incapacidade de o mercado de trabalho gerar novas vagas está na origem da expansão do desemprego no país, ainda que haja a influência do aumento da busca por trabalho por quem não estava no mercado.
— A situação do mercado de trabalho é crítica e vemos uma deterioração contínua nos resultados ao longo do ano. Há um retorno de quem estava fora do mercado para buscar vagas, mas existe uma incapacidade de gerar vagas. Como as perspectivas da economia não são nada interessantes, a expectativa para o mercado também não é nada alvissareira — diz Ramos.
Informalidade aumenta
Mesmo com a redução no total de ocupados, o desemprego foi puxado principalmente pelo aumento da força de trabalho, que inclui tanto quem está trabalhando quanto quem busca vaga. São pessoas que estavam fora do mercado — como jovens, idosos e donas de casa,— e voltam a buscar vagas, pressionando o mercado. Isso ocorre diante da perda de renda e de emprego de outros integrantes da família, especialmente os chefes.
Não foi à toa que milhares de trabalhadores enfrentaram quase 1 km de fila, ontem, para tentar uma vaga na Feira de Emprego do Niterói Shopping. Muitos passaram a madrugada na rua.
— O aumento do desemprego nesta época do ano é especialmente sério. É nesta época que se começa a contratar os trabalhadores temporários do fim do ano. Ainda há queda de rendimento e troca de empregos com carteira assinada pelos trabalhadores por conta própria — afirma o professor da PUC-Rio Gabriel Ulyssea.
O número de trabalhadores por conta própria aumentou 760 mil em um ano (3,5%) e 166 mil (0,8%) em um trimestre. Já total de trabalhadores com carteira assinada caiu 3,4% em um ano, com 1,237 milhão de pessoas a menos. Na comparação com o trimestre anterior, a queda foi de 1,4%, ou quase 500 mil pessoas (494 mil).
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