Temos
muita dificuldade para converter achados da ciência em ações
No
fundo, o ser humano não acredita em microrganismos patógenos. Essa é a melhor
explicação para o fato de governadores e prefeitos estarem aliviando restrições
a contatos sociais enquanto a curva de infecções pela Covid-19 se acelera e
redes hospitalares colapsam.
A relação causal entre maior distanciamento social e diminuição do contágio está bem estabelecida, na teoria e na prática. Não obstante, a ideia de que doenças podem ser transmitidas por seres invisíveis é uma que relutamos em aceitar. Com um pouco de estudo, nós a acatamos no plano intelectual, mas não tão facilmente no circuito das emoções, que são motivadoras muito mais eficientes do que a razão.
A
natureza não nos deixou inteiramente à mercê do contágio. Ela nos dotou com a
sensação de repulsa que experimentamos ao visualizar, cheirar e até imaginar
material potencialmente perigoso, como fezes, vômito, carne podre. De modo
geral, mantemos prudente distância desses itens.
O
problema é que não são só coisas nojentas que transmitem moléstias. Picadas de
insetos, toques humanos (incluindo sexo), fômites, perdigotos e aerossóis
também o fazem. E um bicho hipersocial como o homem jamais poderia desenvolver
um instinto de afastamento social --o que nos deixa particularmente vulneráveis
a vírus respiratórios como o Sars-CoV-2.
Seria
tentador atribuir nossa desdita ao fato de estarmos nas mãos de políticos
ignorantes que se dobram a interesses econômicos. Isso até pode ser verdade,
mas o problema é mais profundo. A prova disso é que médicos, que mais do que
ninguém sabem da importância de lavar as mãos, também fracassam nessa tarefa. O
índice de higienização de mãos entre profissionais de saúde não passa muito dos
50%, mesmo em hospitais-escola do Primeiro Mundo.
Temos muita dificuldade para converter achados da ciência em ações, e o preço dessa incapacidade aumenta exponencialmente na epidemia.
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