Com
ele em cena, o debate político é requalificado
Seis
meses atrás escrevi neste espaço que Lula não poderia ser "cancelado"
da vida política. O texto provocou discussão entre os leitores e alguns
xingamentos a esta colunista. Como considero o debate necessário e estimulante,
volto ao tema a partir da manifestação do ex-presidente, depois que decisão do
ministro Fachin, do STF, restituiu-lhe a possibilidade de ser candidato.
O discurso soou como lenitivo cicatrizante num país ferido e a caminho dos 280 mil mortos pela pandemia. Lula retomou o perfil conciliador (sublinhou a chapa de 2002 que uniu "capital e trabalho") e abriu portas em torno de quatro pontos: democracia, vacina já, auxílio emergencial e emprego. "E se quiser dar um passo a mais e conversar [sobre] como tirar o Bolsonaro, eu tô mais feliz ainda", arrematou.
Convenhamos,
é um programa lógico e coerente o bastante para um começo de conversa. Em
condições normais de temperatura e pressão, nas quais vicejam as democracias,
isso seria uma obviedade. Mas, como não vivemos tempos normais, o discurso de
Lula e sua repercussão foram suficientes para estimular mais arreganhos de Bolsonaro
e a tentativa de reeditar a farsa dos dois "extremos".
Sustentado
pela Lava Jato, o engodo funcionou em 2018. Delações premiadas de baciada ?
Tubulações jorrando dinheiro na TV toda noite? Essa engrenagem enguiçou. Só há
um extremista no jogo, e é o genocida que usa um vírus como arma biológica de
destruição em massa. O retorno do petista à arena também provoca um
reposicionamento geral de forças. À direita, é grande o alvoroço entre
alquimistas que sonham fabricar um candidato de "centro", tal como os
magos da Antiguidade buscavam a pedra filosofal.
É cedo para saber se Lula estará na disputa em 2022. Os embates nos tribunais não acabaram. Mas com ele em cena o debate político é requalificado. Por isso, considero válido reafirmar o que escrevi seis meses atrás: Lula está de volta. E isso é uma boa notícia para a democracia.
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