O
discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo embaralhou os
cenários para as eleições de 2022 que indicavam uma recondução mais ou menos
segura de Bolsonaro.
No
discurso, o que mais se destacou foram as omissões. Lula, como era esperado,
criticou a política econômica de Paulo Guedes e a política sanitária para
combater a pandemia, mas em nenhum momento mencionou os ataques de Bolsonaro às
instituições, tão comuns na retórica da esquerda. Essa omissão parece indicar
que Lula e o PT descartam construir as condições para um impeachment antes de
outubro de 2022 e que o objetivo, desde já, é construir a candidatura de Lula.
A segunda omissão no discurso de Lula foi Dilma Rousseff. O silêncio sobre a ex-presidente — que é considerada inepta, do centro à direita — e diversos acenos ao Centrão e ao mercado indicam para 2022 uma estratégia “paz e amor”, como a que adotou em 2002. Lula quis sinalizar ao mercado que sabe ser fiscalmente responsável e lembrar ao Centrão que é um negociador hábil e confiável.
A
suspeição que está sendo lançada sobre a Lava-Jato parece estar escusando o
ex-presidente. A troca de mensagens entre Moro e os procuradores mostrou um
viés persecutório da operação contra o PT, além de articulações espúrias entre
o juiz e o Ministério Público. Isso não apenas vem sendo utilizado
juridicamente para anular as condenações, como politicamente para colocar sob
suspeita as denúncias, liberando Lula da responsabilidade pela Petrobras ter
sido desavergonhadamente assaltada durante sua administração.
Em
2018, liberais traumatizados com a política econômica de Dilma e punitivistas
anticorrupção encantados pela Lava-Jato podiam considerar um segundo turno
entre Lula e Bolsonaro uma “escolha difícil”. Agora, depois da péssima condução
da crise sanitária por Bolsonaro e de seus ataques às instituições
democráticas, a opção por Lula parece razoável.
Isso
talvez explique as reações surpreendentes que o discurso despertou. Críticos
antigos como Rodrigo Maia e Reinaldo Azevedo fizeram elogios rasgados ao
ex-presidente, e influenciadores liberais no Twitter preferiram criticar as
reações de Bolsonaro a condenar Lula.
Nada
disso deve ser duradouro, mas, por um breve momento, abriu-se a possibilidade
de Lula atrair o centro e até mesmo a centro-direita, encabeçando a tão
propalada, mas tão pouco efetivada frente ampla.
Contra
Lula, porém, pesa o antipetismo. Bolsonaro e outros setores da direita tentarão
reativar o descontentamento com os escândalos de corrupção e reavivar a memória
do fracasso da política econômica de Dilma Rousseff.
Com
Lula na corrida, Ciro deve fracassar em se colocar como candidato da
centro-esquerda, sendo empurrado para a sobrecarregada raia do centro e da
centro-direita, onde já correm João Doria, Luciano Huck e Luiz Henrique
Mandetta.
Se nenhum fato novo sobrevier, devemos ter novamente um segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Três anos depois, estamos cada vez mais próximos de 2018.
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