No Brasil, temos uma democracia consolidada, mas jovem. Períodos democráticos são raros: apenas o interregno de 1945 a 1964 e a Nova República, de 1985 a 2021, podem ser caracterizados como ciclos democráticos. O Estado sempre foi forte e a sociedade frágil. O populismo, o caudilhismo, o autoritarismo, o personalismo tiveram presença central na história política brasileira.
Agora,
em plena crise que se abateu sobre nós – sanitária, econômica, política e
social, bastou o Ministro Edson Fachin devolver a elegibilidade ao
ex-presidente Lula, para fervilhar no mundo político uma absurda antecipação da
sucessão presidencial, dentro da camisa de força maniqueísta da polarização dos
extremos. À sociedade não interessa, neste momento, a candidatura de ninguém. As
pessoas estão preocupadas com vacina, emprego, sobrevivência e auxílio
emergencial.
Descobri
cedo a distância entre modelos ideais e a política real. Se dependesse de mim e
das minhas convicções, já teríamos um sistema parlamentarista baseado no voto
distrital misto proporcional e um quadro partidário consistente e racional.
Nada mais distante de nossa realidade.
O
presidencialismo americano se organiza em torno de dois grandes partidos –
democratas e republicanos. Na Assembleia Nacional Francesa, há a presença de 15
partidos políticos, mas o “A República em Marcha”, do Presidente Emmanuel
Macron, ocupa 303 das 577 cadeiras, garantindo estabilidade e governabilidade.
O Congresso espanhol tem 16 partidos, mas a dinâmica política gira em torno de
4 grandes partidos (PSOE, PP, Vox, Podemos). Na Itália, a mesma coisa, as
colunas vertebrais são o Movimento 5 Estrelas, Liga Norte, PD e Força Itália.
Não é diferente em Portugal, com o PS e o PSD dominando a cena.
Aqui
no Brasil, a situação é sui generis. São 24 partidos representados no
Congresso, sendo que o próprio Presidente da República está sem partido e a
fragmentação é total. Os dois maiores partidos na Câmara dos Deputados, PSL e
PT, têm pouco mais de 50 cadeiras num total de 513. Qualquer governo terá
imensa dificuldade de formar maioria sólida e estável.
Mas,
nada é tão ruim que não possa piorar. O parlamentarismo já levou duas lavadas
nos plebiscitos de 1962 e 1993. Fui o autor da PEC do voto distrital misto na
reforma de 2015, que precisava de 307 votos e só teve 99. Salvamos dois avanços:
a cláusula de desempenho e o fim das coligações proporcionais, o que a longo
prazo, esperamos racionalizar o quadro partidário brasileiro e sua
representação.
Não
é que o “Centrão” começou a se movimentar para acabar com esses dois pequenos
avanços já em 2022 e retrocedermos à situação anterior. Como disse Tom Jobim,
definitivamente “O Brasil não é para principiantes”.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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