Se
postulantes não colocarem logo os blocos na rua, Lula e Bolsonaro brincarão
sozinhos o carnaval das eleições
A
ideia de que é cedo para iniciar uma campanha presidencial, dado que temos uma
pandemia para combater, é politicamente ingênua. Em democracias, os eleitores estão sempre
julgando potenciais candidatos. Para os governantes, fazer a coisa certa em
situações de crise é parte da campanha. Se os resultados aparecem, aumentam as
chances de reeleição.
O
raciocínio vale para os opositores. Nas situações de crise, eles têm a
oportunidade – e a obrigação – de fiscalizar e criticar. Devem também apresentar
alternativas, para que o eleitor acredite que farão melhor caso conquistem o
poder.
Tal regra básica das democracias merece ser lembrada nesta semana, em que o ex-presidente Lula, para usar uma expressão dele próprio, colocou seu bloco na rua. Fez um discurso clássico de candidato dois dias depois da decisão do juiz Edson Fachin – tão clássico que não assumiu ser candidato. Em sua fala, colocou-se na posição de antagonista preferencial do atual presidente, Jair Bolsonaro – que está em campanha desde o primeiro dia de governo.
O
editor Daniel Bramatti, da área de jornalismo de dados do Estadão, analisou no domingo,
dia 7, uma pesquisa em que Lula lidera o potencial de voto para 2022.
Em segundo lugar aparece Bolsonaro. No levantamento feito pelo instituto Ipec,
os dois têm uma certa folga sobre o segundo pelotão – composto por Sérgio Moro,
Luciano Huck, Fernando Haddad e Ciro Gomes. Teríamos um segundo turno já
desenhado para 2022?
A
resposta é não se considerarmos outra pesquisa – esta qualitativa, realizada
nas classes A e B e patrocinada pela fundação alemã Friedrich Ebert. Ela mostra
falta de convicção entre os potenciais eleitores de Lula e Bolsonaro. No
levantamento, feito no fim do ano passado, o eleitor à direita já criticava
Bolsonaro pelo desastre no combate à pandemia.
Do
outro lado, segundo a pesquisa, há desconforto com o projeto hegemônico do PT e
a falta de renovação nas esquerdas. “Políticos jovens como Guilherme Boulos aparecem como
opções até entre eleitores de centro”, diz a cientista política Camila Rocha, coordenadora do
levantamento ao lado da socióloga Esther Solano. Ela é a personagem do
minipodcast da semana.
Camila
Rocha transita por várias correntes ideológicas, com interlocutores à esquerda
e à direita. Ela é autora de “Menos Marx, Mais Mises”, uma tese de doutorado
sobre os liberais brasileiros da nova geração (um livro baseado na tese sairá
no segundo semestre pela Editora Todavia). O sentimento que captou entre
integrantes dos dois campos foi de “orfandade”. “Há ainda muitos eleitores em
busca de candidatos que os representem”, diz Camila Rocha.
O
cruzamento das duas pesquisas, a quantitativa e a qualitativa, sugere que o
presidente e o ex-presidente lideram porque foram os primeiros a “colocar o
bloco na rua”. Os levantamentos mostram que muitos brasileiros votarão em Lula
ou Bolsonaro. Há, no entanto, um enorme contingente em busca de alternativas.
Cabe aos demais partidos suprir a demanda dos “órfãos”. No Brasil os pleitos
são livres e quem não se apresenta ao escrutínio do eleitor não tem o direito
de reclamar. Assumir a candidatura é o primeiro passo, mas não basta. É preciso
apresentar ideias.
Em plena pandemia, a campanha está a todo vapor. Se os postulantes não colocarem logo seus blocos na rua – e se não perceberem a urgência dessa tarefa –, Lula e Bolsonaro brincarão sozinhos o carnaval das eleições.
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