sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Celso Ming - Os juros e a inflação de custos

O Estado de S. Paulo

A principal discussão sobre os juros, sobre o tamanho da meta de inflação e sobre a autonomia do Banco Central (BC) não tem muito a ver com questões técnicas. Até agora se restringiu preponderantemente a questões emocionais ou políticas.

Mas eis que o próprio PT, na Resolução do Diretório Nacional divulgada nesta quinta-feira, aventa uma questão técnica em defesa da imediata redução de juros: a de que a natureza da inflação atual não tem a ver com o aumento da demanda, mas com mais custos.

Como uma inflação de custos não se combate com aumento dos juros, segue-se, como fica implícito na Resolução, que os juros têm de cair – para reduzir o custo do crédito, estimular o investimento e o emprego.

Para reativar a memória: o aumento dos juros, ou seja, a redução de moeda reduz o volume de crédito, desacelera o consumo e contribui para a redução de preços, pelo efeito da lei da oferta e da procura. Daí por que combate a demanda excessiva.

Não há dúvida de que a inflação global mais alta a partir de 2021 em diante tem a ver com forte aumento dos custos. O surto de covid-19 empurrou as pessoas para dentro de casa e a produção sofreu brecada instantânea. Foi o suficiente para desarticular os fluxos de produção e distribuição ao redor do mundo, porque os navios pararam nos portos, componentes e peças não chegaram às linhas de montagem e isso produziu aumento de preços. Depois veio a guerra na Ucrânia que, por escassez de oferta, atirou para cima os preços do petróleo e dos alimentos.

Essa inflação de custos não pode ser atacada com aperto da oferta de moeda. Nesse caso, ou se reduzem os preços, ou há maior oferta de mercadorias e serviços, ou há redução de impostos, o que foi tentado pelo governo anterior – ainda que com fins eleitoreiros.

E, no entanto, os bancos centrais contra-atacaram com aumento dos juros. No caso do Brasil, o BC informa que a alta dos juros passou a ser necessária por duas razões: pelo forte despejo de dinheiro pelo governo, que aumentou as despesas públicas; e pelo efeito inércia, uma vez que reajustes dos combustíveis e dos alimentos puseram em marcha reajustes automáticos (indexação) ou quase automáticos de preços.

É por isso que o BC justifica os juros altos com o argumento de que o núcleo da inflação (que exclui os preços da energia e dos alimentos) aumentou em 12 meses até novembro cerca de 9,38% (veja o gráfico), bem mais do que a inflação propriamente dita no período (5,90%). Sobre isso, a Resolução do PT silencia.

De mais a mais, se os juros básicos caíssem, por exemplo, para a altura dos 10% ao ano, a redução do custo do crédito para o tomador seria insignificante.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

A inflação será mais difícil de derrubar do que os mercados pensam
https://www-economist-com.translate.goog/leaders/2023/02/16/inflation-will-be-harder-to-bring-down-than-markets-think?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt

Anônimo disse...

Algum risco dos Mercados diminuírem seus lucros neste ano?