Objetivo é evitar que Palocci tenha que depor no Senado, além de rachas em votações
Além de ter problemas com o PMDB, governo vê falta de união do PT; por trás de brigas, está a presidência da Câmara
Eliane Cantanhêde, Catia seabra e Ana Flor
BRASÍLIA - Testemunha da discussão entre o vice-presidente da República, Michel Temer, e o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci -que acionou o viva-voz do telefone ao falar com Temer-, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reconheceu que as divergências entre PT e PMDB "deixarão sequelas".
O mote da briga foi a votação do Código Florestal na Câmara, na semana passada.
Na tentativa de garantir o apoio do PMDB, que acabou não ocorrendo, Palocci telefonou ao vice e transmitiu ameaça da presidente Dilma Rousseff, de que demitiria todos os ministros da sigla.
Descontente com os líderes e os partidos aliados, o governo iniciará um esforço para evitar a contaminação da crise no Congresso, onde se discute a convocação de Palocci para depor.
O ministro é coordenador político de fato do governo e pivô da crise, depois que a Folha publicou que o seu patrimônio multiplicou por 20 em quatro anos e que sua empresa faturou R$ 20 milhões em 2010, ano eleitoral.
O esforço governista começa hoje, às 8h, quando Temer se encontra, na Base Aérea de Brasília, com Dilma. Como ele mesmo disse à Folha, para "tirar uma foto sorridente". Ele receberá senadores do PMDB para jantar.
Amanhã, Dilma e Temer se reúnem e, na quarta, almoçam juntos no Alvorada com senadores do PMDB.
O dissidente Jarbas Vasconcelos (PE) disse que não vai aos encontros: "O episódio [a briga] foi muito forte e mostra a prepotência e o desespero do governo. Acho que ela [Dilma] se tornou prisioneira de todos".
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE) prevê que os encontros não encerrarão divergências, como no Código Florestal. O governo é contra a anistia a quem desmatou áreas de preservação até 2008; o PMDB, a favor.
O senador Ricardo Ferraço (ES) avalia que a adesão dos dissidentes ao pedido de CPI de Palocci dependerá da explicação à Procuradoria-Geral da República.
Há críticas dos aliados também à própria presidente. Mais de uma vez, ela se recusou a participar de negociações políticas e é acusada, sobretudo pelo PMDB, de tentar impor sua vontade.
Os problemas do governo chegam ao PT. Na votação do Código Florestal na Câmara, quase metade do partido votou contra o governo.
Segundo um ministro, a "desobediência" reflete a disputa pela presidência da Câmara em 2013. Há forças que buscam quebrar o pacto de eleger um peemedebista e manter o PT com o cargo.
Dilma pretende reunir líderes governistas para ajustar o discurso pró-governo. Seria também uma forma de demonstrar comando da situação política, depois que o ex-presidente Lula foi a Brasília para assumir as articulações.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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