O Planalto comete um erro e uma injustiça ao tratar o Brasil sem Miséria como item da "agenda positiva" para diminuir o desgaste político do "Paloccigate".
Colocar de pé o principal projeto de Dilma na área social é algo mais difícil, e mais importante, do que tentar justificar as peripécias financeiras do ministro da Casa Civil.
Primeiro, porque o governo fixou meta ambiciosa, embora aquém da prometida na campanha eleitoral: em quatro anos, tirar da extrema pobreza 16 milhões de brasileiros.
Segundo, porque, ao menos na largada, o Brasil sem Miséria tem baixo potencial publicitário: não se presta a pirotecnias nem pode ser vendido como "inovador".
O plano, a ser anunciado na quinta-feira, apoia-se em três eixos:
1) Inclusão produtiva: no campo, por exemplo, prevê ampliar o fornecimento de água, dar sementes de qualidade e alinhar os novos agricultores ao setor atacadista.
2) Transferência de renda: aumentar o valor do Bolsa Família e incluir 800 mil lares no benefício.
3) Mobilização do Estado: identificar, contatar e cadastrar 16 milhões de pessoas hoje distantes das cadeias econômicas e dos serviços públicos básicos (mais da metade em área rurais e no Nordeste).
Oito anos atrás, essas iniciativas seriam recebidas com descrença. Hoje, graças ao sucesso do Bolsa Família e à expectativa de outro programa tão transformador, elas soam modestas. Um plano guarda-chuva, lastreado em conceitos como "transversalidade" e "multidisciplina", e dependente da motivação do funcionalismo? Só isso?
A equipe do Brasil sem Miséria conhece o país. Foi quem criou o Bolsa Família e desenhou o projeto do biodiesel (que, se não obteve muito impacto social, implantou do zero uma nova rede produtiva).
Mas ela tem pela frente um enorme desafio de comunicação -desafio que o governo, emudecido pelo enriquecimento de Palocci, não parece em condições de enfrentar.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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