- Folha de S. Paulo
Bolsonaro quer afundar questões de saúde no
lamaçal político
Jair Bolsonaro foi aplaudido pela claque do
Palácio do Planalto quando anunciou que havia encomendado um parecer
contra o uso de máscaras por quem já se vacinou ou já foi
infectado pelo coronavírus. Antes de falar suas bobagens habituais sobre a
pandemia, o presidente disse que era preciso tirar o que chamou de "esse
símbolo".
Bolsonaro gostaria de abolir as máscaras
para criar a ilusão de que a pandemia está controlada e a vida deve voltar ao
normal. Além de reforçar o discurso fantasioso que nega os riscos da Covid-19,
o presidente também trabalha para transformar questões de saúde pública em
discussões estritamente políticas.
Ao chamar de símbolo um equipamento usado para evitar contaminações, Bolsonaro tangencia um repertório explorado pela direita radical. Extremistas e outros negacionistas tratam máscaras de proteção como mordaças, peças de ameaça à liberdade individual e marcas do controle estatal sobre o cidadão.
Com o aceno, o presidente atiça sua base
fiel, colhe aplausos públicos e, de quebra, tenta diminuir o peso do morticínio
sobre seu governo. Para isso, ele tira o significado sanitário de máscaras,
medidas de isolamento, contagens de mortos, vacinas e tratamento de doentes,
levando-os para o lamaçal político.
É o que Bolsonaro faz quando inventa
suspeitas de fraude no número de mortes por Covid-19. O presidente tenta vender
a ideia de que o placar foi inflado por governadores que tinham interesse em
aumentar os repasses de verba federal aos estados e desgastar o Planalto.
A mesma tática foi usada nos ataques à
"vacina chinesa do João Doria", nas acusações de
destruição de empregos feitas a gestores locais e na teimosia da defesa da
cloroquina. Bolsonaro recusou argumentos científicos em todos os casos.
O presidente já se acostumou a levar esses temas para o palanque. Em discurso na sexta (11), no Espírito Santo, ele fez uma louvação à cloroquina. Foi ovacionado por uma plateia que gritava "mito, mito, mito".
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