Se lei for aprovada, PCdoB pode se juntar a PSB ou PT, enquanto Cidadania deve negociar com PSDB por acesso a fundo público
Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO — Articulado como uma saída para
salvar o PCdoB, o projeto de lei que cria as federações partidárias, caso
aprovado, também deve ser utilizado por outras legendas de esquerda, centro e
direita, como Cidadania, PV, Rede e PTB. O mecanismo é uma forma de as siglas
driblarem as limitações impostas pela cláusula de barreira, que só permitirá
acesso ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito aos partidos que
atingirem 2% dos votos válidos para deputado na eleição do próximo ano.
Pelo projeto em tramitação na Câmara, duas
ou mais legendas podem se unir em uma federação que passa a atuar, na prática,
como se fosse um único partido. As siglas devem ficar juntas por, no mínimo,
quatro anos nas esferas municipal, estadual e federal. Quem romper a união
estará sujeito à punição como proibição de ingressar em nova federação nas duas
eleições seguintes e de utilizar o fundo partidário.
A proposta conta com apoio, além das legendas diretamente interessadas, de siglas maiores, como o PT. A Câmara aprovou a tramitação do projeto em regime de urgência por 429 votos a 18. O texto, que já passou no Senado, poderá ser votado em plenário sem passar por comissões.
A expectativa é levar o projeto para votação
até o fim do mês, junto com outras matérias que tratam de questões eleitorais,
como o distritão. Não há garantia, porém, de a análise do mérito obter o mesmo
índice de aprovação que foi alcançado na votação da tramitação em regime de
urgência. Em tese, partidos grandes que sabem que conseguirão ultrapassar a
cláusula de barreira não têm interesse de beneficiar outras legendas porque os
fundos eleitorais e partidário serão divididos entre menos siglas.
Para o PCdoB, a aprovação da federação pode
definir o futuro do partido. O único governador da legenda, Flávio Dino, do
Maranhão, vem tendo conversas com o PSB e a sua migração chegou a ser anunciada
pelo deputado federal Marcelo Freixo (RJ). Mas Dino, pré-candidato ao Senado,
afirma que só definirá o futuro após a votação do projeto.
— A minha preocupação central é com a
máxima união possível no nosso campo. Se passa a federação, abrimos um cenário
novo, que demanda novas avaliações. Só vou tomar qualquer decisão quando as
regras estiverem claras — afirma.
Se o projeto da federação for aprovado, os
comunistas vão discutir a formação de uma federação com o PSB ou com o PT.
Outras legendas do mesmo porte também cogitam caminhos a serem seguidos. O
Cidadania deve entrar em conversas para formar uma federação com o PSDB.
— O partido vai buscar fazer federação com
quem tem maior afinidade porque você vai ter que conviver durante quatro anos —
diz o presidente do Cidadania, Roberto Freire, que nega, “a princípio”, a
intenção de formar uma federação.
A Rede e o PV podem se associar. Também é
cogitado na Câmara que o PTB forme uma federação com o partido a que o
presidente Jair Bolsonaro venha a se filiar.
Dúvidas na Justiça
A cientista política Lara Mesquita, da
FGV-SP, avalia que a federação é melhor que as coligações, permitidas até 2018,
pois pressupõe uma atuação conjunta no Legislativo, o que minimiza a
fragmentação partidária:
— Mas há dúvidas. O projeto prevê punição para partidos que abandonem as federações. Porém, a Justiça Eleitoral tem criado exceção para deputados em relação à fidelidade partidária. Se decidir assim para os partidos, o mecanismo pode virar uma coisa só de fachada.
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