- O Estado de S. Paulo
Bolsonaro age para destruir e desmoralizar
as instituições; com seguidores extremistas, alimenta fanatismo que terminará
em violência
A resposta é simples: o sonho chavista de poder do
presidente que tenta usar o Exército em seu projeto pessoal. O Brasil não
é a terra do ídolo inspirador do presidente e não vai se transformar em algo
similar. Aqui, “EB” quer dizer Exército Brasileiro e não
“Exército Bolsonarista”. O Exército enfrenta o mesmo problema das outras
instituições brasileiras: o risco de erosão. Infelizmente, a mentalidade anarquista
do presidente age para destruir e desmoralizar as instituições, e banalizar o
desrespeito pessoal, funcional e institucional. Junto com
seguidores extremistas, alimenta um fanatismo que certamente
terminará em violência.
Para aventuras políticas pessoais,
instituições sólidas e funcionais são sempre um imenso obstáculo. Projetos
populistas e totalitários, não importa seu matiz ideológico, não avançam sem
subverter a ordem, sem corromper as instituições. E uma das instituições
mais sólidas é o Exército (assim como a Marinha e a Força Aérea). Ao invés de recuperação
e aperfeiçoamento das instituições, assistimos ao agravamento da situação
existente e a erosão da Saúde, Justiça, Meio Ambiente e Educação.
O presidente tenta também desmoralizar o sistema eleitoral, mas não apresenta as provas de fraude que diz possuir. Semeia dúvidas sobre o Tribunal de Contas da União, valendo-se de relatório e dados falsos. No orçamento da União, apresenta uma nova forma de “mensalão” – o chamado orçamento secreto. Nas Relações Exteriores, graças ao Senado, escapamos do vexame da quase nomeação de um embaixador esdrúxulo junto aos EUA, e agora temos à frente a investida demagógica de uma nomeação para a África do Sul. Oxalá o Senado poupe o Brasil de mais essa.
Esse é o contexto em que se desenvolve mais
uma tentativa de erosão de uma das instituições de maior prestígio do Brasil –
o Exército Brasileiro. O caso do general no palanque, em mais um evento populista
promovido pela autoridade maior, é da alçada do comandante da Força, que
decidiu dentro das suas atribuições. Problemas disciplinares são resolvidos
diariamente por todos os comandantes, nos diversos níveis. Não é esse o
problema. O problema é muito maior e mais grave. É político. E tem um
responsável – o presidente. Para realizar seu projeto pessoal, ele vem testando
o Exército frequentemente. Isso é deliberado. É projeto de poder. Não acontece
só por despreparo, irresponsabilidade e inconsequência. Isso é processo
planejado, que vem sendo adotado e tentado de forma sistemática. É também um
processo covarde, pois as consequências são sempre creditadas a outras pessoas
e instituições. Ocorre que a responsabilidade pessoal e funcional está muito bem
definida e o responsável maior deve arcar com as consequências.
É covardia transferir essa conta ao
Exército. E é totalmente inaceitável a tentativa permanente de arrastar o
Exército para o erro histórico de assumir um protagonismo político em apoio a
uma aventura pessoal perseguida de forma paranoica. O Exército não é e não
pode ser uma ferramenta de uso pessoal, partidário ou de intimidação política.
A missão do Exército não é auxiliar uns e outros em disputas eleitorais e em
jogo de poder, dividindo os brasileiros. O Exército tem uma missão
constitucional definida.
O Brasil precisa de paz, de união nacional,
de governo que trabalhe e promova o desenvolvimento socioeconômico com boa
administração. O Brasil precisa de políticas públicas sensatas, de combate
à corrupção, eliminação de privilégios e redução da desigualdade. Precisa de
vacina e emprego. É preciso que o voto da maioria sirva para governar para
o bem de todos e não para interesses pessoais, familiares ou de grupos. O
Brasil não merece uma polarização entre quem já teve oportunidade de governar e
se perdeu em demagogia e escândalos de corrupção e quem mostra diariamente que
tem como objetivo um projeto de poder semelhante, apenas com sinal trocado.
O País não pode ficar entre dois polos que
se alimentam e se comportam como cabos eleitorais um do outro. O Brasil não
merece mais erosão em suas instituições. Ao contrário, nossas instituições
precisam de melhorias e aperfeiçoamentos. A democracia depende do
aperfeiçoamento institucional constante. O Exército Brasileiro, assim como as
outras instituições que compõem a Nação, não pode continuar a ser covardemente
prejudicado por causa de um projeto de poder pessoal e populista.
*General da reserva e ex-ministro da Secretaria de Governo
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