Folha de S. Paulo
Medida privará o cidadão de ter informações
relevantes sobre a eleição
Se um médico comete um erro muito banal,
como prescrever insulina para um paciente em quadro de hipoglicemia, fica
sujeito a sanções civis e até mesmo penais. Isso vale para quase todas as
profissões, incluindo advogados, motoristas, jornalistas, encanadores. Uma
notável exceção são os parlamentares. Eles podem escrever leis contendo
absurdos sem temer responsabilização pessoal. Pior, as normas por eles criadas
terão presunção de legalidade mesmo que tragam prejuízo para a sociedade.
Um exemplo recente de barbeiragem legislativa é a proposta de vetar a divulgação de pesquisas eleitorais na véspera dos pleitos. O dispositivo já foi aprovado pelos deputados e aguarda parecer dos senadores. A medida privaria o cidadão de acesso a informações relevantes sobre a eleição. E como sabemos que são relevantes? Há quem invista pequenas fortunas para produzi-las, e parlamentares estão entre os que mais se mobilizam para obtê-las em primeira mão. E, se um político não quer que você tenha acesso a uma informação que ele se esforça para conseguir, pode desconfiar.
Outra maluquice aprovada pela Câmara nessa
seara é o mecanismo que obriga os institutos a divulgar, junto com a pesquisa,
seu “percentual de acerto” nas últimas cinco eleições. Aqui, o legislador
receitou insulina para o hipoglicêmico. Não dá para comparar uma sondagem feita
dias antes do pleito com o resultado da eleição. Seria como tentar adivinhar
quem será o artilheiro do campeonato medindo a trajetória da bola a dez metros
da linha do gol. Muita coisa pode acontecer nesses dez metros finais.
Só faria sentido falar em percentual de
acerto se os institutos fizessem pesquisas de boca de urna (com o eleitor que
já votou). O problema é que, desde que as urnas eletrônicas tornaram o processo
de apuração ultrarrápido, se tornou pouco econômico fazer esse tipo de
sondagem, que se torna notícia velha em poucas horas.
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