Correio Braziliense
O projeto de construção do
submarino nuclear brasileiro, uma parceria com a França, nunca agradou aos
Estados Unidos e ao Reino Unido
Jair Bolsonaro participou, ontem, de
reunião bilateral com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, em
Nova York, onde estão para participar da 76a Assembleia Geral da ONU
(Organização das Nações Unidas), hoje. Em vídeo divulgado nas redes sociais do
presidente da República, o premier afirma que havia prometido visitar o Brasil,
mas a pandemia da covid-19 impediu a viagem. O tema da covid-19 dominou o
encontro.
Entretanto, quem quiser que se engane, o pano de fundo das relações estratégicas entre o Reino Unido e o Brasil são a forte presença comercial chinesa no continente, o controle do Atlântico Sul, área de influência dos ingleses, e o acordo militar com a França para construção do submarino nuclear brasileiro. Além disso, o Brasil apoia as pretensões da Argentina no sentido de recuperar a soberania sobre as Ilhas Malvinas (Falkland Islands), arquipélago localizado na plataforma continental da Patagônia, porém um território ultramarino britânico.
De abril a junho de 1982, a Argentina
tentou recuperar o controle do território, mas levou uma surra da Marinha
inglesa, com apoio logístico dos Estados Unidos e constrangida neutralidade
brasileira. A derrota na Guerra das Malvinas colocou em xeque a doutrina de
segurança nacional dos países da América do Sul, inclusive o Brasil, pois
supunha-se que o aliado principal contra qualquer outra potência de fora do
subcontinente eram os EUA. O conceito de “Amazônia Azul” e a decisão de
construir um submarino nuclear em parceria com a França, para aumentar o nosso
poder de dissuasão em águas territoriais, têm tudo a ver com o petróleo da
camada pré-sal e a Guerra das Malvinas.
Na semana passada, Reino Unido e EUA
protagonizaram um novo acordo militar com a Austrália, ou seja, no Pacífico e
no Índico, no qual se comprometeram a fornecer submarinos nucleares àquele país
da Oceania. Parlamentarista, a Austrália faz parte dos Reinos da Comunidade de
Nações (Commonwealth realms), cuja chefe de Estado é a Rainha Isabel II
(Elizabeth II). O acordo detonou o contrato de US$ 65 bilhões da Austrália com
a França para compra de 12 submarinos franceses com propulsão convencional.
Após o anúncio do acordo militar entre
Austrália, EUA e Reino Unido, a China também reagiu e considerou a aliança uma
ameaça “extremamente irresponsável” à estabilidade regional. Pequim reivindica
soberania sobre parte do Mar da China Meridional, muito rico em recursos
naturais e importante rota comercial. Por isso, rejeita as pretensões
territoriais de outros países da região, como Vietnã, Malásia ou Filipinas.
Submarino brasileiro
Acontece que o projeto de construção do submarino nuclear brasileiro, uma
parceria com a França, nunca agradou aos EUA e ao Reino Unido. Os franceses
forneceram tecnologia para construção do casco do submarino, um grande desafio.
O reator nuclear, porém, foi todo desenvolvido pela Marinha brasileira (usará
combustível com apenas 6% de urânio, contra um mínimo de 15% dos franceses e
90% dos norte-americanos).
O Almirantado “economiza arroz” para
viabilizar o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) e o Programa
Nuclear da Marinha (PNM), mas o projeto está naufragando em dique seco, com
cortes de 31% e 49%, respectivamente, no seu orçamento. Para garantir a
continuidade mínima do projeto, a Marinha precisa recuperar R$ 267,5 milhões
que seriam destinados ao Prosub, mas foram vetados por Bolsonaro.
O Brasil possui quatro submarinos da classe
Tupi (Tupi, Tamoio, Timbira, Tapajó), um da série Tikuna e o Riachuelo, da
classe Sporpene, o primeiro do Prosub. O Humaitá, em fase de testes, é o
segundo. Terceiro e quarto, respectivamente, o Tonelero estava programado para
ser lançado em dezembro deste ano, enquanto o Angostura, em dezembro de 2022. O
valor total dos quatro submarinos convencionais é de 100 milhões de euros, o equivalente
a R$ 630 milhões em câmbio atual. Somados, é mesmo valor do submarino movido
por energia nuclear, cujo nome será Álvaro Alberto, o almirante que liderou o
programa nuclear brasileiro. O cobertor, porém, é curto. A esquadra está
sucateada e precisa de novas fragatas e navios-patrulha também em construção.
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