Folha de S. Paulo
Livro revela a gastança de congressistas em
viagens aéreas
Em abril de 2009, uma série de reportagens
do site "Congresso em Foco" abalou o Congresso Nacional ao revelar
que parlamentares faziam turismo com dinheiro público. A verba era de uma
generosa cota para compra de passagens aéreas relacionadas às atividades do
mandato.
Na prática, porém, cada congressista
gastava o dinheiro a seu bel-prazer e sem dar satisfações a ninguém. Deputados
e senadores ainda levavam a tiracolo parentes, amigos e cupinchas para destinos
turísticos no Brasil e no exterior, como Nova York, Miami, Londres, Paris,
Milão, Madri. Uma farra!
Doze anos depois, os repórteres Eduardo Militão, Eumano Silva, Edson Sardinha e Lúcio Lambranho revisitam o escândalo e trazem mais novidades no livro "Nas Asas da Mamata", recém-publicado. Eles descobriram agora, por exemplo, que o contribuinte bancou as passagens de Jair e Michelle Bolsonaro para a lua de mel em Foz do Iguaçu, em 2007.
A gastança era possível graças a regras
extremamente permissivas adotadas por Michel Temer e Aécio Neves, quando
exerceram a presidência da Câmara. No Senado, com José Sarney no comando, não
era diferente. A falta de controle era de tal ordem que a cota aérea de dois
senadores foi gasta depois da morte deles. Ao todo, 560 parlamentares foram
investigados, e os gastos, em valores de hoje, seriam de R$ 105 milhões.
Para não esvaziar a surpresa da leitura,
acrescento apenas que os autores reconstituíram as investigações oficiais para
traçar a teia de impunidade que resultou em mais um crime sem castigo. O que
fizeram Corregedoria, Conselho de Ética, Câmara, Senado, polícia, Ministério
Público, Judiciário? Está tudo no livro, com nomes, datas, decisões.
Esse belo trabalho jornalístico põe em
evidência um dos aspectos mais nefastos da mentalidade e da prática política no
Brasil: o de que autoridades em geral não querem entender que têm a obrigação
de prestar contas de cada centavo gasto do meu, do seu, do dinheiro suado dos
nossos impostos.
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