quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Queda de braço sobre segurança pública tem viés de secessão, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Guilherme Derrite não é um caso isolado: ele expressa uma cultura política de extrema-direita que concebe o Estado como força tutelar e disciplinadora, não como mediador de direitos da sociedade

A disputa entre o governo federal e os governadores de oposição sobre a política de segurança pública e a legislação penal não é apenas técnica ou operacional, mas política, histórica e federativa. O impasse na definição do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), adiada mais uma vez na Câmara, revela a persistência de um modelo de poder local armado, forjado há mais de um século, e que hoje se expressa na política nacional por meio de figuras como o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator do PL Antifacção. Derrite é policial militar formado na cultura da antiga Força Pública paulista, que durante décadas funcionou como um verdadeiro exército estadual.

Criada em 1831 e consolidada na República Velha, a Força Pública de São Paulo foi a mais poderosa corporação policial do país. Seu efetivo, treinamento e armamento rivalizavam com os do Exército. Em 1932, ela constituiu o núcleo militar da Revolução Constitucionalista, quando São Paulo se insurgiu contra Getulio Vargas em nome da Constituição, mas, também, da autonomia estadual. Derrotada militarmente, a Força Pública manteve o prestígio político e a identidade castrense.

O PL pró-facção de Derrite, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Certas medidas parecem contrárias a facções, mas as beneficiam

Idas e vindas no projeto não surpreendem quem conhece trajetória de Derrite

A extrema direita brasileira ensaiou o nome de Guilherme Derrite para ministro da Justiça e Segurança Pública em um eventual governo Tarcísio de Freitas e em apenas 24 horas o ensaio virou tragicomédia. O périplo acabou com o deputado tendo que se justificar com um amadorismo constrangedor, por que incluiu medidas a favor do crime num projeto de lei que tinha como intenção combatê-lo.

Derrite entregou, originalmente, um PL pró-facção. Subordinar a Polícia Federal ao crivo dos governadores estaduais apenas beneficia o crime organizado, que, por essência, é interestadual e internacional. Derrite tenta resolver problema complexo com mais pena, não com mais inteligência. Em vez de apoiar a cooperação entre órgãos, blinda líderes do crime expandindo o foco da lei em tipos penais menores, como obstruir via pública, que atinge só o chão da fábrica do crime organizado, não quem manda nele.

Querem driblar o imposto dos milionários, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Lei que cria imposto mínimo nem foi sancionada, mas empresas buscam fórmulas para escapar do pagamento

Tentativas de drible serão teste para a equipe de Haddad

Mais ou menos como aconteceu em Serra Pelada nos anos 1980, na busca por ouro, empresas, tributaristas, consultorias e associações estão quebrando a cabeça para encontrar formas de escapar do pagamento de Imposto de Renda sobre dividendos, medida aprovada pelo Congresso Nacional e ainda pendente de sanção do presidente Lula.

Os dividendos são isentos de tributação no Brasil, mas essa renda obtida pelos acionistas de empresas será alcançada pela mordida da Receita Federal com a criação do imposto mínimo para os super-ricos, criado para compensar a perda de arrecadação com a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000.

Criticado, Trump rever tarifaço no Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Popularidade do presidente americano está no nível mais baixo desde a posse

Derrota eleitoral, inflação e lobbies empresariais podem ajudar a aliviar tarifaço

A popularidade de Donald Trump está no nível mais baixo desde a posse. Mais que no fundo do poço de abril, de tarifaço e tumulto financeiro. Na média das pesquisas calculada pelo Silver Bulletin, 55% dos americanos desaprovam o desempenho de Trump, 41,4% aprovam. O saldo negativo era, pois, de mais de 13 pontos nesta quarta. No início do mandato, janeiro, o saldo era positivo, quase 12 pontos.

O Partido Republicano perdeu de lavada a eleição parcial da semana passada. Nas pesquisas de boca-de-urna, eleitores citavam o custo de vida como preocupação maior (é um problema mundial, desde 2022, convém prestar atenção).

A lição de Barack Obama ao Partido Democrata, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Ex-presidente comemora vitórias do partido em Nova York e na Virgínia

Para Obama, eleição dos democratas representa o pluralismo, característica da América

"Vencemos com Abigail Spanberger, vencemos com Zohran Mamdani. Eles são parte de uma visão de futuro", comemorou o ex-presidente Barack Obama no podcast Pod Save America, logo depois das eleições de 4/11.

Com a vitória de Abigail, o governo da Virgínia passará às mãos de uma ex-deputada ultramoderada, que foi agente da CIA e defende mão dura contra o crime; já a maioria dos nova-iorquinos sufragou um jovem imigrante muçulmano assumidamente socialista. Engajado na oposição ao trumpismo, o único negro a ocupar a Casa Branca pronunciou outro de seus discursos, nos quais a razão é sócia da empatia.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Politização não pode prejudicar combate a facções

Por O Globo

Projeto contra crime organizado deve ser encarado como política de Estado, não como fonte de dividendo eleitoral

Não resta dúvida de que o Projeto de Lei (PL) Antifacção que tramita no Congresso é vital para a sociedade brasileira. Por isso tem sido lamentável e deletéria a politização que cerca a proposta, com oposição e governo medindo forças em busca de dividendos eleitorais. Nem todas as desavenças foram superadas, mas é essencial que sejam.

A tramitação começou mal, quando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu para relatar o projeto o deputado linha-dura Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança licenciado de São Paulo. Era previsível que a escolha acirrasse os ânimos. As primeiras versões propostas por Derrite continham equívocos, como a tentativa de equiparar facções criminosas a grupos terroristas e de engessar a autonomia da Polícia Federal (PF). A reação do Planalto foi descabida. Representantes do Executivo cogitaram até recorrer ao Supremo. Governo e oposição se esgrimiam para as respectivas claques nas redes sociais, esquecendo que o inimigo é outro. Motta e Derrite apresentaram uma versão corrigindo as principais distorções, mais próxima da proposta original, mas o Planalto continuou insatisfeito.

Poesia | Navegue, de Fernando Pessoa

 

Música | Um Índio por Caetano Veloso