quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Corte de juro deve vir com Copom 100% Lula, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Redução da Selic pode ocorrer em março ou no meio do ano, quando comitê do BC for totalmente indicado pelo atual governo

“Gabriel não deveria ir agora”, disse à coluna um integrante da ala política do governo. Era 2023 e Gabriel Galípolo, então secretário-executivo do Ministério da Fazenda, havia sido indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para uma vaga na diretoria do Banco Central. Posteriormente, seria alçado à presidência.

Na visão do palaciano, Galípolo poderia seguir mais um tempo na Fazenda, onde fazia um bom trabalho na articulação com o Congresso Nacional para aprovar pautas da área fiscal, em vez de compor um colegiado majoritariamente composto por indicados do governo anterior. “Para quê?”, questionava a fonte.

A inflação do agro, por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Em queda neste ano, preços de produtos agropecuários devem voltar a subir em 2026 no atacado

Um dos principais fatores de alívio no custo da alimentação no domicílio das famílias brasileiras em 2025, os preços dos produtos agropecuários no atacado devem voltar a subir em 2026. A dúvida é se a pressão desses preços sobre a inflação final ao consumidor no ano que vem poderá vir a ser uma preocupação ao Banco Central.

“Haverá uma aceleração moderada dos preços agropecuários no próximo ano”, diz Fábio Romão, economista sênior da 4intelligence. Segundo ele, a maior parte dos efeitos que puxaram esses preços para baixo e beneficiaram o consumidor neste ano deve se dissipar no ano que vem.

O que o Brasil tem para ensinar ao mundo? Por Fernando Mello Barreto

O Estado de S. Paulo

A lição dada pelo Brasil não é a da erradicação de ameaças à democracia, mas sim a da capacidade de repeli-las por meio dos meios institucionais

Em Ottawa, no início dos anos 90, pouco antes de iniciarmos uma série de palestras organizadas pela Câmara de Comércio bilateral, o então embaixador do Canadá no Brasil me fez uma pergunta: “O que o Brasil tem para ensinar ao mundo?” À época, pareceu-me ser uma indagação típica de país desenvolvido ansioso para ensinar os outros. Minha resposta inicial foi a de que nós, os brasileiros, tínhamos, naquele momento, mais a aprender do que a ensinar. Embora o Brasil vivesse tempos de efervescência democrática, ainda carregava o peso de décadas de instabilidades e crises (elevada dívida externa, inflação desenfreada, desigualdades sociais, entre muitas outras mazelas). O diplomata canadense, porém, insistiu que buscava uma lição global não baseada nos desafios conhecidos, mas nas características que, mesmo submersas, tornavam, a seu ver, o Brasil um país positivamente singular.

Cedi ao apelo de reflexão apresentado pelo afável colega. Comecei por descartar velhas ideias que o tempo havia provado serem equivocadas ou exageradas, tais como o mito da democracia racial, propagado por Gilberto Freyre, a cordialidade do brasileiro, cunhada por Sérgio Buarque de Holanda, e até a propalada ideia do jeitinho brasileiro.

A nova fatura do Centrão para Lula, por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Banco do Nordeste e Cade podem ser moedas de troca para emplacar Messias no STF

Pouco depois de chegar a Brasília, o presidente Lula foi informado de que a temperatura das articulações contrárias à indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF) estava mais elevada do que a de Belém. Envolvido nos últimos dias com a Cúpula do Clima (COP-30), na capital do Pará, Lula não escondeu a irritação: decidiu dobrar a aposta.

Enquanto não anuncia que seu escolhido é Messias, no entanto, o chefe do Executivo fica refém do toma lá dá cá. Além disso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre – fiador de Rodrigo Pacheco –, ganha crédito na conta com o Palácio do Planalto.

Diante da desconfiança em relação ao presidente da Câmara, Hugo Motta – sobretudo depois que ele indicou o deputado Guilherme Derrite, secretário da Segurança do governo Tarcísio de Freitas, como relator do projeto Antifacção –, Lula precisa cada vez mais de Alcolumbre.

Eles negam o inegável, por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O negacionismo encontra campo fértil nas redes sociais, onde se nutre das fake news e de visões reducionistas e estereotipadas do mundo.

O negacionismo soa como atestado de ignorância mesclada a insensatez.  Encontra campo fértil nas redes sociais, onde se nutre das fake news e de  visões reducionistas e estereotipadas do mundo. O negacionista é cético não por convicção, mas por influência de uma massa de manobra que prefere agir de forma desarrazoada a perceber que serve a interesses alheios. Os antivax, por exemplo, agarram-se a uma crença sem qualquer base sólida ou comprovação empírica. Acreditam numa verdade que apenas lhes convém, ainda que tal crença lhes custe a própria vida. Convencem-se de que a vacina mina o sistema imunológico ou acarreta doenças, quando é exatamente o contrário que ocorre.

Um certo ex-presidente condenado chegou a propalar em alto e péssimo som que a imunização contra a covid-19 poderia infectar a pessoa vacinada com o HIV, o vírus causador da Aids. Durante a pandemia, preferiu agir como garoto-propaganda da ivermectina e da cloroquina — comprovadamente ineficazes contra o coronavírus — a acelerar a compra dos imunizantes. Agiu como caixa de ressonância do negacionismo. Quantas pessoas não morreram por acreditar em suas inverdades?

Darcy e Raul têm razão, Cristovam Buarque

Correio Braziliense

Darcy Ribeiro e Raul Jungmann têm razão: a guerra civil precisa que o Brasil desperte e que a União adote sistemas nacionais de segurança e de escolas com qualidade igual para todos

Há 40 anos, Darcy Ribeiro alertou que, se não fizéssemos escolas, seríamos obrigados a construir prisões. Faz quase 10 anos, Raul Jungmann avisou sobre a força e os riscos do crime organizado. O Darcy construiu os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), mas o exemplo não se espalhou pelo Brasil. Raul propôs a criação de um sistema nacional de segurança, mas a ideia não prosperou. Agora, a realidade mostrou que eles estavam certos. 

Além da repulsa àqueles que deram a ordem ou puxaram o gatilho na operação policial nos complexos do Alemão e Penha, no Rio, é preciso denunciar os que foram eleitos sem entender as causas da guerra civil e sem tentar fazer o que Darcy, Raul e outros recomendam desde então. A violência é tratada como apenas problema de insegurança pessoal, escaramuças entre indivíduos. Não compreendemos as causas estruturais de uma guerra civil, nem percebemos a necessidade de o Brasil nacionalizar tanto a questão da segurança pública quanto o problema da educação básica, com ambição na qualidade e na equidade. 

Combate às facções como terrorismo: um projeto de poder autoritário, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Derrite deixou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para levar ao Congresso a mesma política de “tolerância zero” que, na prática, enxuga gelo contra o PCC em São Paulo

O romance Investigação sobre a Vítima (Companhia das Letras), de Joaquim Nogueira, é um clássico do realismo policial brasileiro. Ex-delegado, o autor não escreve de fora do universo policial — ele o recria com o olhar noir de quem conhece o cheiro das celas, o peso do inquérito e as sombras das delegacias. O resultado é um retrato sem concessões da violência e da corrupção que atravessam o aparelho de segurança e a própria sociedade paulista.

“Você ainda acredita em justiça, Venício?”, perguntou o escrivão, acendendo o cigarro com o crachá pendurado no pescoço.

“Acredito”.

“Então é pior do que eu pensava. Aqui ninguém investiga ninguém. A gente arquiva. O resto é conversa pra boi dormir”.

Venício o encarou em silêncio.

“Teu amigo morreu porque quis ser certo demais. O sistema não gosta de gente que não pede o troco”.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Regular criptoativos ajudará a combater o crime organizado

Por O Globo

Iniciativa do BC é essencial para apertar controles sobre esquemas sofisticados de lavagem de dinheiro

Banco Central (BC) fez bem ao aumentar o controle sobre o mercado de criptomoedas. Não é novidade que, em razão das características semelhantes ao dinheiro em espécie e da facilidade de armazenamento digital, elas se tornaram o recurso preferido para lavagem de dinheiro. Não haverá como asfixiar as finanças de organizações criminosas a cada dia mais sofisticadas sem dispor de mecanismos eficazes para vigiar os criptoativos. Pelas novas regras, para prestar serviço no Brasil, as empresas que operam nesse mercado deverão obter autorização formal do BC e cumprir diversos requisitos de transparência, em tudo similares aos já exigidos de bancos e instituições financeiras. Investimentos feitos por brasileiros em criptomoedas no exterior também terão de ser informados.

Sabotagem do combate ao crime, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Derrite, secretário de Segurança de SP, voltou à Câmara para enfraquecer Estado

Iniciativa direitista teve apoio de parlamentares que queriam PEC da Blindagem

A direita está assanhada. A matança do Rio animou uma contraofensiva contra um governo Lula que se recuperava da surra que levara de 2024 a meados de 2025. Incentivou projetos de leis de segurança pública de incompetência grosseira, selvageria proposital e escandalosa malandragem.

Na maré de sangue, voltou a subir o barco da candidatura a presidente do governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos). Na frente legislativa, essa onda tenta criar um sistema de investigação mais irracional, desconecta ainda mais as polícias, sabota o poder estatal contra o crime e ajuda parlamentares a escapar da cadeia.

A batalha do momento é o projeto de lei "antifacção", que em tese dificultaria a vida das organizações criminosas, de início elaborado pelo governismo. A iniciativa foi apropriada por várias direitas. Uma, bolsonarista, que admira o Estado policial mortífero de Nayib Bukele em El Salvador. Outra, por picuinha provisória, quer impedir que braços da administração federal (polícia, Receita) possam atuar nos estados. Uma terceira quer usar o projeto para blindar parlamentares de investigações de corrupção.

Governadores chocam o ovo da serpente ao apoiar matança policial, por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Estratégia busca ganhos eleitorais, mas corrói as bases da democracia liberal

Legitimar violência pode favorecer um novo outsider, mais radical e sem amarras a partidos

Com muito desembaraço, governadores de direita organizaram um espetáculo para anunciar o que chamaram de "Consórcio da Paz". Motivado pela operação policial mais letal da história brasileira, que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, o grupo escolheu um nome que beira a ironia na melhor das hipóteses, e o sadismo, na pior.

Parecia a oportunidade perfeita para transformar uma operação malsucedida (apenas 20% dos mandados de prisão foram cumpridos) em uma arma contra o presidente Lula. Especialmente quando aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro admitem, sob reserva, cansaço com a pauta da anistia.

Emendas avançam longe dos holofotes, por Mateus Vargas

Folha de S. Paulo

Estados e municípios reservam R$ 12,3 bi, aponta estudo, e governo federal tem emenda informal

Novo cenário desafia órgãos de controle a acompanhar sistema pulverizado e disposto a escapar da fiscalização

Verbas bilionárias indicadas por parlamentares têm avançado sobre terrenos menos expostos ao controle do Judiciário e da opinião pública.

Estudo feito por consultores da Câmara mostra que ao menos 23 unidades da Federação reservam cerca de R$ 11,1 bilhões em emendas impositivas de deputados estaduais, enquanto vereadores decidem o destino de mais R$ 1,2 bilhão em metade das capitais.

O levantamento encontrou cópias das chamadas emendas Pix em 20 estados, além de "uma diversidade de critérios" para definir o total de repasses. São situações que abrem margem para questionamentos jurídicos.

Um caminho de luz, por Ivan Alves Filho

O desenho, isto é, a forma como os corpos e os objetos se alinham no espaço, está na base de tudo. À nossa volta, não existe nada sem forma, tanto na natureza quanto fora dela, nas chamadas criações do espírito humano. O arquiteto Oscar Niemeyer, um mestre da forma, justamente, se considerava um desenhista. E era. 

As formas também possuem história, apresentando-se como mais um elemento dela. Não existe conteúdo desacompanhado de uma forma. Neste sentido, poderíamos dizer que a forma é o conteúdo da Arte. A profundidade de campo, que deixaria marcas indeléveis na pintura moderna e na fotografia, mais para frente, tem que ver com o alargamento das fronteiras trazido pelas navegações. E este alargamento se infiltra na estrutura mental dos homens, reconfigurando a nossa maneira de apreender ou ver o próprio espaço. O mundo agora é praticamente infinito para os homens. Na base desta aventura náutica se encontra o pequeno Portugal, um país que apresentou o Oriente ao Ocidente. O Brasil é resultado direto desta expansão, que a Arte tão bem captou. Na Galeria Uffizi, na belíssima Florença, podemos ter uma verdadeira aula a este respeito. 

Uma Europa fragmentada ainda pode prosperar? Por Martin Wolf

Financial Times / Folha de S. Paulo

O que antes tornou seus Estados poderosos agora pode impedir que continuem assim

Europeus criaram impérios no resto do mundo, mas não dentro do próprio continente

O que os romanos realmente fizeram por nós? No filme "A Vida de Brian", do grupo Monty Python, as respostas incluíam aquedutos, banhos e paz. Mas e se a resposta correta for: "seu império caiu"?

Em resumo, o papel transformador da Europa Ocidental na história mundial se deve à ausência de um império europeu unificado. Foi essa ausência que criou o que o historiador da Antiguidade Walter Scheidel chama de "fragmentação competitiva" da Europa Ocidental. A competição impulsionou as mudanças comerciais, intelectuais, tecnológicas, jurídicas e políticas que culminaram na Revolução Industrial. A partir daí, tudo mudou.

O benefício da fragmentação é a ideia central de "Escape from Rome" (2019), de Scheidel. O conceito não era novo, mas ele o revitalizou ao associar o progresso europeu à incapacidade de qualquer poder posterior repetir o feito de Roma. Diferentemente da China, do Oriente Médio ou da Índia, um império abrangente nunca mais retornou ao continente.

O ocaso de Trump já começou? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Republicanos sofreram derrotas importantes em pleitos da semana passada

Inflação é uma das causas do fenômeno, que pode reaparecer nas eleições de meio de mandato

Os republicanos, liderados por Donald Trump, tomaram uma surra nas urnas nas localidades em que houve eleições na semana passada. O destaque midiático é a vitória de Zohran Mamdani em Nova York, mas o fenômeno é mais generalizado.

É verdade, como observou o presidente americano, que seu nome não constava das cédulas, mas ainda assim ele tem muito a ver com a derrota de seus correligionários. A análise das pesquisas mostra que vários grupos demográficos que votaram em Trump no ano passado agora se rebelaram contra os republicanos em boa medida por insatisfação com os rumos econômicos do país.

Poesia | Aniversário, de Fernando Pessoa

 

Música | Marisa Monte e ‪Gilberto Gil ‬ - A Paz