quinta-feira, 13 de novembro de 2025

O PL pró-facção de Derrite, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Certas medidas parecem contrárias a facções, mas as beneficiam

Idas e vindas no projeto não surpreendem quem conhece trajetória de Derrite

A extrema direita brasileira ensaiou o nome de Guilherme Derrite para ministro da Justiça e Segurança Pública em um eventual governo Tarcísio de Freitas e em apenas 24 horas o ensaio virou tragicomédia. O périplo acabou com o deputado tendo que se justificar com um amadorismo constrangedor, por que incluiu medidas a favor do crime num projeto de lei que tinha como intenção combatê-lo.

Derrite entregou, originalmente, um PL pró-facção. Subordinar a Polícia Federal ao crivo dos governadores estaduais apenas beneficia o crime organizado, que, por essência, é interestadual e internacional. Derrite tenta resolver problema complexo com mais pena, não com mais inteligência. Em vez de apoiar a cooperação entre órgãos, blinda líderes do crime expandindo o foco da lei em tipos penais menores, como obstruir via pública, que atinge só o chão da fábrica do crime organizado, não quem manda nele.

Outras medidas parecem contrárias a facções, mas as beneficiam. Vedar o auxílio reclusão a dependentes de presos os deixa mais subordinados economicamente ao crime. Manter por mais tempo pessoas presas sem incentivo à progressão de regime engrossa as fileiras de recrutamento do crime. Definir crime organizado como terrorismo é diversionismo cujo único efeito prático é dar mais margem à brutalidade policial, com recurso estrangeiro.

As idas e vindas de Derrite no projeto antifacções não surpreendem quem conhece sua trajetória. Responsável pelo plano de segurança pública na campanha de Tarcísio em 2022, um inexperiente Derrite sem prévio cargo de gestão apresentou apenas metas genéricas, entre elas combater o crime organizado "sem trégua". Os detalhes desse período constam do perfil "O Homem e Seu Passado" publicado na revista Piauí em maio de 2024.

Depois de executar 121 pessoas no Rio de Janeiro, a turma de Castro-Tarcísio pensou que poderia metralhar a legislação penal com uma canetada. Mas o tiro saiu pela culatra. Não é novidade para um jovem policial retirado da Rota por matar demais chamado Guilheme Derrite.

 

 

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