DEU NO VALOR ECONÔMICO
Rodrigo Uchoa, de Santiago
O Chile vai às urnas neste domingo no segundo turno de uma das eleições presidenciais que promete ser a mais apertada da história recente. O candidato governista, o democrata-cristão Eduardo Frei, 67, chegou a um empate técnico com o até agora favorito, o bilionário Sebastián Piñera, 60.
Nenhum dos dois candidatos promete uma mudança significativa nos rumos da economia do país. O direitista Piñera diz que vai introduzir reformas para aumentar a competitividade das empresas e quer vender parte da Codelco, a estatal chilena de cobre. Frei é contra a privatização mesmo que minoritária, o que lhe vale simpatia da esquerda e dos sindicatos. O governista diz ainda que sua eleição serviria para garantir a continuidade dos avanços da Concertación, coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde 1990.
Entretanto há um certo "desagrado", um mal-estar no eleitorado chileno. Segundo analistas, muito disso se deve a um processo eleitoral que, apesar de ter proporcionado estabilidade nos últimos 20 anos, "engessou" o sistema político, deu poder excessivos às cúpulas dos partidos e alijou lideranças independentes emergentes.
"Há uma "camisa-de-força" no sistema político que cria obstáculos democráticos", afirma Eugenio Guzmán, sociólogo da Universidade do Chile. "Há um desencanto com a democracia chilena."
Outros vão mais longe e falam de crise de representatividade.
Isso tudo se dá porque o sistema eleitoral chileno, na prática, obriga os partidos a se reunirem em coalizões, pois só assim eles têm chances de ganhar cadeiras no Congresso, eleger representantes municipais e, por fim, chegar ao jogo mais pesado da política.
Chamado de binominal, ele divide o país em distritos, cada um com direito a duas cadeiras no Congresso. Cada coalizão apresenta várias listas com dois candidatos. O eleitor vota na dupla que preferir, mas a soma de todos os votos para a coalizão interferirá na definição do vencedor. Para que uma coalizão ganhe as duas cadeiras, é necessário que receba mais de dois terços dos votos; se a coalizão menos votada obtiver um terço, a mais votada ganha uma cadeira e a menos votada, a outra.
Se um candidato obtém 24% dos votos e seu companheiro de chapa só 1%, ele pode perder a cadeira para um candidato que obteve 14%, cujo companheiro obteve 12%, por exemplo. Isso se dá porque a soma dos votos da primeira lista foi 25% e a soma da segunda, 26%.
Chapas independentes podem se apresentar, mas o sistema torna virtualmente impossível que elas elejam algum de seus integrantes.
Isso já vem causando uma reação do eleitorado. A porcentagem de eleitores inscritos em relação ao total de cidadãos em idade de votar vem caindo paulatinamente desde a redemocratização. Se em fins dos anos 80, essa porcentagem chegou a 86%, atualmente ela não passa de 70%. O eleitor que não se inscrever não é obrigado a votar
E isso afeta os partidos mais identificados com o sistema. Um exemplo é o Partido Democrata Cristão (PDC), de Eduardo Frei. O PDC vem sentindo um baque significativo de perda de votos.
Rodrigo Uchoa, de Santiago
O Chile vai às urnas neste domingo no segundo turno de uma das eleições presidenciais que promete ser a mais apertada da história recente. O candidato governista, o democrata-cristão Eduardo Frei, 67, chegou a um empate técnico com o até agora favorito, o bilionário Sebastián Piñera, 60.
Nenhum dos dois candidatos promete uma mudança significativa nos rumos da economia do país. O direitista Piñera diz que vai introduzir reformas para aumentar a competitividade das empresas e quer vender parte da Codelco, a estatal chilena de cobre. Frei é contra a privatização mesmo que minoritária, o que lhe vale simpatia da esquerda e dos sindicatos. O governista diz ainda que sua eleição serviria para garantir a continuidade dos avanços da Concertación, coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde 1990.
Entretanto há um certo "desagrado", um mal-estar no eleitorado chileno. Segundo analistas, muito disso se deve a um processo eleitoral que, apesar de ter proporcionado estabilidade nos últimos 20 anos, "engessou" o sistema político, deu poder excessivos às cúpulas dos partidos e alijou lideranças independentes emergentes.
"Há uma "camisa-de-força" no sistema político que cria obstáculos democráticos", afirma Eugenio Guzmán, sociólogo da Universidade do Chile. "Há um desencanto com a democracia chilena."
Outros vão mais longe e falam de crise de representatividade.
Isso tudo se dá porque o sistema eleitoral chileno, na prática, obriga os partidos a se reunirem em coalizões, pois só assim eles têm chances de ganhar cadeiras no Congresso, eleger representantes municipais e, por fim, chegar ao jogo mais pesado da política.
Chamado de binominal, ele divide o país em distritos, cada um com direito a duas cadeiras no Congresso. Cada coalizão apresenta várias listas com dois candidatos. O eleitor vota na dupla que preferir, mas a soma de todos os votos para a coalizão interferirá na definição do vencedor. Para que uma coalizão ganhe as duas cadeiras, é necessário que receba mais de dois terços dos votos; se a coalizão menos votada obtiver um terço, a mais votada ganha uma cadeira e a menos votada, a outra.
Se um candidato obtém 24% dos votos e seu companheiro de chapa só 1%, ele pode perder a cadeira para um candidato que obteve 14%, cujo companheiro obteve 12%, por exemplo. Isso se dá porque a soma dos votos da primeira lista foi 25% e a soma da segunda, 26%.
Chapas independentes podem se apresentar, mas o sistema torna virtualmente impossível que elas elejam algum de seus integrantes.
Isso já vem causando uma reação do eleitorado. A porcentagem de eleitores inscritos em relação ao total de cidadãos em idade de votar vem caindo paulatinamente desde a redemocratização. Se em fins dos anos 80, essa porcentagem chegou a 86%, atualmente ela não passa de 70%. O eleitor que não se inscrever não é obrigado a votar
E isso afeta os partidos mais identificados com o sistema. Um exemplo é o Partido Democrata Cristão (PDC), de Eduardo Frei. O PDC vem sentindo um baque significativo de perda de votos.
Apesar de ainda ser preponderante na Concertación, perdeu muito de seu cacife eleitoral: de 25% do eleitorado, no início da década de 90, para cerca de 15% após 20 anos de poder dividido com os socialistas.
Para Carolina Segovia, socióloga da Pontifícia Universidade Católica do Chile e pesquisadora do Centro de Estudos Políticos, "há uma avaliação ruim [pelo eleitor] da atividade política, de seus principais atores e até mesmo da democracia, mas isso se constitui mais num problema do que numa crise".
Isso ajuda a explicar por que a presidente Michelle Bachelet não consegue transferir sua grande aprovação popular (mais de 80%) para o candidato de sua coalizão.
"Os eleitores veem Bachelet como líder, um indivíduo de grande capacidade, e não como chefe de uma máquina política impessoal. Com Frei não é a mesma coisa", disse ao Valor um político da Concertación que pediu para não ser identificado. "Frei pode até ser eleito, por uma série de fatores. Mas, nesse caso, deverá liderar a coalizão mais fragmentada da história recente do Chile. Duvido que isso fará bem à governabilidade."
Para Carolina Segovia, socióloga da Pontifícia Universidade Católica do Chile e pesquisadora do Centro de Estudos Políticos, "há uma avaliação ruim [pelo eleitor] da atividade política, de seus principais atores e até mesmo da democracia, mas isso se constitui mais num problema do que numa crise".
Isso ajuda a explicar por que a presidente Michelle Bachelet não consegue transferir sua grande aprovação popular (mais de 80%) para o candidato de sua coalizão.
"Os eleitores veem Bachelet como líder, um indivíduo de grande capacidade, e não como chefe de uma máquina política impessoal. Com Frei não é a mesma coisa", disse ao Valor um político da Concertación que pediu para não ser identificado. "Frei pode até ser eleito, por uma série de fatores. Mas, nesse caso, deverá liderar a coalizão mais fragmentada da história recente do Chile. Duvido que isso fará bem à governabilidade."
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