Folha de S. Paulo
Livro traça história de corporações,
mostrando suas realizações sem esconder suas maldades
Podemos confiar em corporações? Não faltam exemplos a sugerir que não. Basta lembrar a crise econômica de 2008, que teve como ingrediente a ação desregulada de empresas do setor financeiro em busca de lucros exorbitantes. E a lista de "crimes" cometidos por corporações pode ser ampliada significativamente. Epidemia de opioides? Há farmacêuticas envolvidas. Mudança climática? As big oil têm algo a ver com isso. Misérias do colonialismo? Ponha a culpa na Companhia das Índias Orientais. Há até quem atribua às primeiras corporações a responsabilidade pela queda da República romana.
Obviamente, há também um outro lado da
história. O mundo dificilmente teria alcançado os níveis de riqueza material
que alcançou só com estatais e pequenas empresas. Também entram na lista de
realizações positivas de corporações a Renascença (financiada pelo banco dos
Medici) e a integração dos EUA (cortesia da ferrovia transcontinental), entre outros
itens.
William Magnuson, em "For Profit" (com fins lucrativos), traça uma fascinante
história das corporações, mostrando sua força, sem esconder suas maldades.
Originalmente, essas empresas recebiam um mandato do Estado para desenvolver
atividades de interesse público. As primeiras surgiram na Roma antiga. Elas
tinham "ações" negociadas no Fórum e cuidavam de toda a logística da
República.
Gostei particularmente do capítulo sobre os
Medici. O fundador da casa bancária, Giovanni Medici, era especializado em
direito canônico, o que lhe permitiu criar esquemas de empréstimo que
contornavam as leis da igreja contra a usura. Os juros vinham disfarçados sob a
roupagem de operações de câmbio. O sujeito fazia o empréstimo em florins, mas
pagava numa outra moeda.
Corporações são basicamente pessoas se juntando num tipo
de associação que, equilibrando-se precariamente entre o lucro e o interesse
público, acabam criando soluções inovadoras para problemas.
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