O Estado de S. Paulo
A expansão da digitalização e da agricultura de precisão reduz o uso de certos insumos
Com
o novo governo, voltou à luz um debate que nunca nos deixou. Setores da
indústria tentam obter protagonismo ao se contrapor ao sucesso do agronegócio,
criticando a exportação de grãos, uma coisa primária e atrasada.
O
argumento é essencialmente equivocado, pois o agro está numa fase de grande
criação de valor, especialmente por meio do progresso tecnológico.
A
expansão da digitalização e da agricultura de precisão está reduzindo o uso de
certos insumos e o custo de produção.
Ao mesmo tempo, estamos assistindo às melhorias contínuas na utilização de big data na gestão de riscos de produção, das finanças e das atividades empresariais.
Também
são contínuas as melhorias no sistema integrado de produção (ILPF) e de
controle de pragas (MIP).
Finalmente,
o processo de descarbonização está intensificado pela utilização de
bioprodutos, como fertilizantes, defensivos, condicionantes do solo,
inoculantes e outros. Tudo isso passa pela indústria e pelos serviços.
Por
sua vez, a criação de valor está se intensificando por vários caminhos:
–
Pela produção de produtos com atributos específicos: orgânicos, veganos, sem
lactose, que tenham práticas de bem-estar animal, rastreáveis e produtos
regionais com denominação de origem, como cafés, chocolates especiais e muitos
outros;
–
Pelo crescimento da importância de “pequenos produtos”: peixes em cativeiro
(cuja produção já se aproxima de um milhão de toneladas), mel de todos os
tipos, azeite de oliva, trigo no cerrado (com e sem irrigação), vinhos em novas
regiões (fruto da tecnologia da dupla poda), queijos e outros produtos
artesanais premiados e certificados, flores e frutas;
–
Pela produção de novos alimentos: carnes e ovos a partir de proteína vegetal,
leite de sementes oleaginosas, grãos não tradicionais (“pulses”);
–
Pela produção de novas energias e equipamentos: biogás de várias origens,
bio-óleo, lignina, hidrogênio verde e combustível de aviação sustentável (SAF);
–
Pela produção de novos materiais: elastano e compósitos plásticos, a partir de
celuloses especiais;
–
Pela ampliação de casos de economia circular, como o do Inpev das embalagens de
defensivos;
–
Finalmente, pela expansão dos serviços a distância, como assistência técnica,
gestão, produção, marketing e outros.
Além
do crescimento do PIB e da renda setorial, todas essas atividades estimulam
novas plantas industriais, ou dão novo sentido a fábricas existentes, como
carros híbridos a etanol.
Voltaremos
a isso na próxima coluna.
*Economista e sócio da MB Associados
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