terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Opinião do dia – Cristovam Buarque

"Não se pode falar em golpismo quando se fala em impeachment. A palavra impeachment está escrita na Constituição. Portanto, ao pronunciar a palavra impeachment, não se pode produzir arrepios. Não é esse o caminho que queremos trilhar. Mas quem fala isso e fala cada vez mais alto é o povo brasileiro"
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Cristovam Buarque, senador (PDT/DF). Ex-ministro de Lula diz que impeachment está 'na boca do povo'. O Estado de S. Paulo, 10 de fevereiro de 2015.

Petistas já boicotam ajuste fiscal de Dilma

PT tenta afrouxar ajuste

• Temendo desgaste político, parlamentares petistas propõem mudar as medidas do governo

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA- Preocupado com a perda de apoio em sua própria base, como o movimento sindical, o PT pressiona o governo Dilma Rousseff a rever medidas do ajuste fiscal que avançaram sobre direitos trabalhistas e a direcioná-lo para camadas mais ricas da sociedade. Parlamentares petistas já apresentaram emendas nesse sentido às medidas provisórias (MPs), enviadas ao Congresso, que endureceram o acesso a seguro-desemprego, pensões por morte, abono salarial e auxílio-doença. — O governo tem que redirecionar sua política em relação ao ajuste fiscal, tributar grandes fortunas. Não podemos brigar com nossas bases, estamos em conflito com a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e as centrais sindicais.

Precisamos equilibrar para que os mais ricos paguem essa conta — disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Lindbergh apresentou cinco emendas às medidas provisórias : aumento da alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), paga pelos bancos, de 15% para 20%; revogação da isenção de Imposto de Renda sobre lucros e dividendos e sobre remessas para o exterior ; criação de novas alíquotas na tabela do Imposto de Renda; e aumento das alíquotas de Imposto Territorial Rural (ITR) sobre propriedades com mais de mil hectares — que equivalem a mil campos de futebol.

De 435 emendas à MP, 66 são do PT
Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que, nos últimos dois meses, a parcela de eleitores que diz, em resposta espontânea, ter o PT como seu partido favorito caiu de 22% para 12%. Na época do mensalão, o nível mais baixo foi de 15%, segundo o mesmo instituto de pesquisa. A avaliação do governo Dilma também despencou de 42% de ótimo/bom, em dezembro, para 23% agora. Segundo o Datafolha, é a mais baixa avaliação de um presidente da República desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em dezembro de 1999. O PT também pressiona o governo a taxar grandes fortunas, uma bandeira histórica do partido. Isso, no entanto, não cabe nas medidas provisórias em tramitação, porque precisa ser feito por meio de projeto de lei complementar .

Das 435 emendas apresentadas, até o final da tarde de ontem, à MP que muda as regras das pensões e do auxílio-doença, 66 são do PT . Já na MP do seguro -desemprego foram apresentadas 201 emendas, sendo 36 do PT . Ex-presidente da CUT, o deputado Vicentinho (PT-SP), que foi líder da bancada de seu partido até a semana passada, apresentou emenda para manter as regras atuais para pagamento de pensões no caso de morte por acidente ou doença relacionada ao trabalho. A medida provisória acaba com o benefício vitalício para cônjuges até 35 anos e estabelece, a partir dessa idade, um escalonamento de acordo com a expectativa de vida. Vicentinho defende a pensão vitalícia, mesmo para cônjuges jovens, afirmando que a maioria dos mortos em acidentes de trabalho são pessoas até 40 anos, principalmente na construção civil, e muitas vezes a viúva não terá chance no mercado de trabalho por ter baixa qualificação.

"Não se pode impor a uma viúva com menos de 40 anos, em função de um acidente fatal ou doença profissional, a limitação de sobrevivência de uma família, retirando o direito da pensão vitalícia aos seus dependentes", escreveu ele na justificativa de sua emenda. Ex-ministra da Casa Civil de Dilma e fiel escudeira do governo, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) apresentou emenda para suprimir a reformulação do cálculo das pensões. Pela medida provisória, o valor da pensão cai à metade e é acrescido de 10% por filho, até o limite de 100%. Assim que o dependente completa a maioridade, sua parte é suspensa do benefício.

Mudança no fator previdenciário
A senadora alegou, em sua justificativa, que essa modificação merece um debate mais aprofundado pelo Congresso e deveria ser feita por meio de um projeto de lei, que não tem o caráter de urgência de uma medida provisória. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) apresentou emenda autorizando o pagamento de pensão para cônjuge casado há menos de dois anos, se tiver filhos com o segurado falecido. A medida provisória exige tempo mínimo de casamento ou união estável de dois anos para o pagamento de pensão. O deputado propõe ainda mudança no cálculo do fator previdenciário, acabando com a aplicação desse redutor para pessoas portadoras de deficiência. Outro deputado do partido, Padre João (PT-MG), apresentou proposta em que flexibiliza as novas regras de concessão do seguro-desemprego, reduzindo o período de trabalho necessário antes do pedido do benefício.

Durante a campanha à reeleição, a presidente Dilma afirmou que não mexeria em direitos trabalhistas "nem que a vaca tussa" e sugeriu que seus adversários o fariam , caso fossem eleitos. Em pronunciamento no final do mês passado, na primeira reunião ministerial do segundo mandato, ela classificou como "mudanças de caráter corretivo", e não perda de direitos trabalhistas, as novas regras de benefícios como o seguro-desemprego.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana, seis de cada dez entrevistados consideram que Dilma mentiu na campanha eleitoral. Para 46%, falou mais mentir as que verdades (25% entre os petistas). Para 14%, só mentiras. Além do ajuste fiscal, petistas atribuem a queda de simpatizantes do partido e da popularidade do governo Dilma à situação da economia, como inflação alta, ao escândalo da Petrobras e à crise hídrica. — Não tem como separar a imagem do governo da do PT — disse o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC).

Governistas do Congresso ameaçam ajuste fiscal

Aliados do governo resistem a pacote fiscal no Congresso

• Emendas podem reduzir impacto de medidas propostas pela equipe econômica

• Parlamentares acham que perda de popularidade de Dilma abre caminho para concessões do Planalto

Márcio Falcão, Ranier Bragon, Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Parlamentares dos partidos que apoiam o governo no Congresso começaram a se mobilizar para barrar ou atenuar o impacto das medidas de ajuste fiscal propostas pela presidente Dilma Rousseff.

O pacote, que reduz benefícios trabalhistas e previdenciários em busca de uma economia de R$ 18 bilhões neste ano, enfrenta resistências até no PT, o partido de Dilma.

Deputados e senadores apresentaram até a tarde desta segunda (9) 620 sugestões de mudanças nas duas medidas provisórias que compõem o pacote. Parlamentares governistas apresentaram 412 emendas, dois terços do total.

As mudanças atingem pontos centrais das medidas, que mudam regras para concessão do seguro-desemprego, do abono salarial, da pensão por morte e do seguro-defeso para pescadores artesanais.

As propostas dos congressistas serão analisadas primeiro por comissões formadas por deputados e senadores. Depois, cada medida provisória será votada no plenário da Câmara e no Senado.

A senadora Marta Suplicy (PT-SP), ex-ministra da Cultura de Dilma que deixou o governo fazendo críticas ao PT e à presidente, protocolou nove emendas ao pacote.

"Os desafios a serem enfrentados pelo governo são gigantescos, resultado do fracasso da política econômica, da falta de ações necessárias durante o agravamento da crise e, sobretudo, da falta de transparência na condução da economia", disse Marta na justificativa às suas emendas.

"O país assiste atônito ao aumento das tarifas, à escalada da inflação, ao aumento consecutivo dos juros e ao aumento de impostos. Sem falar na corrupção, que somada aos rumos econômicos tortuosos, torna cada vez mais difícil o resgate da confiança e da credibilidade", completou.

O PC do B, outro partido governista, fechou questão contra as medidas. "Estourar a corda para o lado mais fraco, na hora da dificuldade, não dá", afirmou Orlando Silva (PC do B-SP), ex-ministro do Esporte de Lula e Dilma.

Congressistas de outros oito partidos com representantes no ministério de Dilma (PMDB, PSD, PP, PDT, PR, PROS, PRB e PTB) também apresentaram emendas. A rejeição das centrais sindicais às medidas propostas pela equipe econômica deu impulso à resistência no Congresso.

O governo quer restringir a concessão do seguro-desemprego a trabalhadores com mais de 18 meses de vínculo empregatício na primeira vez que solicitarem o benefício. Os congressistas querem reduzir esse período para seis ou oito meses.

Como a Folha mostrou em janeiro, o Planalto sabe que terá de fazer concessões para conseguir a aprovação das medidas no Congresso. Mas a queda repentina sofrida pela popularidade de Dilma deverá aumentar as pressões para que o governo negocie.

Negociações
Segundo o Datafolha, o governo da petista é avaliado como ótimo ou bom por 23% dos entrevistados e como ruim ou péssimo por 44%.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o governo vai trabalhar para preservar a essência do ajuste, mas que há espaço para negociações.

"O governo está tomando medidas seguras, tendo em vista o objetivo futuro, que é preservar as conquistas sociais e o crescimento econômico. Mas é claro que as medidas devem ser aperfeiçoadas pelo governo e vamos buscar um denominador comum", disse o deputado.

Nova regra na Petrobrás ajudou cartel, diz ex-gerente

• Normas de contratação teriam sido alteradas por Renato Duque em 2003 para beneficiar empreiteiras

• Testemunha-bomba afirma que ex-diretor da Petrobrás mudou métodos para favorecer empreiteiras do cartel

• Fernando de Castro Sá, ex-jurídico da estatal, relata que Renato Duque alterou normas de 1999 e construtoras passaram a’ditar regras’

Julia Affonso, Fausto Macedo e Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo

CURITIBA - A força-tarefa da Operação Lava Jato chegou a uma nova testemunha bomba que confirma a atuação ativa do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque nas irregularidades que beneficiaram empreiteiras do cartel, denunciado por corrupção na estatal. Por meio de alteração de normas padrão de contratação da estatal, criadas em 1999, o ex-gerente jurídico Fernando de Castro Sá detalhou como empreiteiras passaram a ditar regras, via Diretoria de Serviços, e acusa omissão e perseguição do comando da estatal quando ele e outros gerentes tentaram comunicar os desmandos internamente.

“A coisa ia num crescente tão grande que um belo dia, olha como a coisa era feita, chegou lá da (Diretoria de) Engenharia para o (Diretoria de) Abastecimento informando que tinham que aprovar os aditivos 5, 6 e 7 da terraplanagem (nas obras da Refinaria Abreu e Lima). Só que quando você lê o expediente, os aditivos já estavam assinados”, afirmou o ex-gerente jurídico da Diretoria de Abastecimento. “Como é que você vai pedir autorização para celebrar um aditivo que já está assinado?”

As irregularidades não teriam parado por aí. Em mais de duas horas de depoimentos prestado na sede da força-tarefa da Operação Lava Jato, criada pelo Ministério Público Federal, em Curitiba, Sá afirmou que a Diretoria de Serviços alterou e ignorou procedimentos internos, assinando aditivos para contratos encerrados.

Sá conta que após a ex-gerente executiva de Abastecimento Venina Velosa da Fonseca se insurgir contra os aditivos e dizer que “não ia dar encaminhamento”, um parecer do jurídico da Diretoria de Serviços informou “não ter nenhum problema” por serem referentes à “prorrogação de prazos”.

Com experiência de mais de 20 anos na área jurídica da Petrobrás, Sá integrou o grupo de advogados que elaborou o Manual de Procedimento Contratual (MPC) da estatal. “Uma das regras daquele manual é que você só pode prorrogar o prazo de um contrato se ele estiver vigente. Esses aditivos foram assinados para prorrogar prazos de contratos já mortos, que estava encerrado por tempo.”

Segundo ele, o jurídico da Petrobrás desconsiderou essa norma interna. “Por incrível que parece a conclusão no jurídico foi de que: ’entendemos que tal regra é interna da Petrobrás, pois no MPC (Manual de Procedimentos Contratual) há documento aprovado pela diretoria executiva. Assim ainda que exista o risco de eventual não observância da linha A do manual, tratar-se-ia de irregularidade formal e interna.”

Ao ser publicado no Diário Oficial, o manual passou a ter “característica de norma infralegal”. “Não era uma mera norma interna.”

Atuação do cartel. Sá era funcionário de carreira da estatal desde 1993 e foi um dos responsáveis também pelo modelo de contratação da obra da Refinaria Abreu e Lima – um dos alvos centrais da Lava Jato -, em Pernambuco, em que teriam ocorrido “gravíssimas” irregularidades. Segundo o advogado, a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) – entidade que criou o grupo de empreiteiras que depois passaria a atuar em cartel na Petrobrás – passou a determinar a partir de seu contato com Duque alterações de normas contratuais da estatal, gerando a elevação de custos da obra, já constatada por órgãos oficiais e pela própria estatal.

A refinaria, iniciada em 2007, já consumiu R$ 24,7 bilhões e foi superfaturada, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). Como responsável pelo orçamento da obra, era a Diretoria de Abastecimento quem pagava a Refinaria Abreu e Lima. À sua gerência jurídica, cabia emitir as minutas de contratação.

O ex-gerente explica que os contratos da Petrobrás, até então, seguiam as regras do Manual de Procedimentos Contratuais, publicado no Diário Oficial, em fevereiro de 1999. O jurídico era o gestor dessa norma e tinha que elaborar a minuta padrão de contratos de prestação de serviços, que também era aprovada pela diretoria.

“À partir do cartel, a minuta (de contrato) que tinha que ser elaborar pelo jurídico e aprovada pela diretora passou a ter que ter o crivo da Abemi, a associação das empreiteiras”, afirmou o ex-gerente jurídico.

Isso teria sido possível, porque a Diretoria de Serviços centralizava o comando das contratações, da execução e da fiscalização de todas as obras da estatal. Segundo havia afirmado o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, em depoimento à Justiça Federal em agosto de 2014, por meio dessa diretoria o PT arrecadava até 2% em todos grandes contratos da estatal.

“Eu sou do Abastecimento e quero fazer uma refinaria. O orçamento está comigo, eu sou o responsável orçamentário. Só que todas as obras são contratadas, conduzidas, inclusive os aditivos, pela área de Engenharia (subordinada à Serviços). É mais ou menos assim: eu tenho a minha conta e alguém fica trabalhando com a minha conta, mas eu pago pelo que for feito indevidamente com meu dinheiro. Esse foi um grande problema que a gente passou a ter.”

“Desde 2003 estavam acontecendo alguma coisa de estranho em relação às orientações contratuais. Em 2003 fizemos um parecer contrário a uma quarteirização. Era um contrato para empresa que iria fiscalizar uma empresa contratada. Aí surge um parecer superior desdizendo o nosso”, afirmou o ex-gerente. Segundo ele, o fundamento da ordem superior era de que “novas informações foram prestadas”, sem qualquer outra explicação.

Sá contou os momentos que antecederam o processo de perseguição, do qual ele diz ter sido vítima na Petrobrás. O advogado lembra que em determinado momento questionou seu superior na área jurídica, Nilton Maia, sobre interferências da Abemi nos modelos contratos. “O assistente do Nilton disse que era absurdo eu citar a Abemi.”

Segundo Sá, o então gerente executivo jurídico pediu que ele fizesse um levantamento e apresentasse. “Fui ver essa história da Abemi. Comecei a me assustar porque eu comecei a descobrir coisas.”

Uma delas era um Grupo de Trabalho integrado pela Abemi e pela Petrobrás. “Eu descubro uma ata que é do GT (Grupo de Trabalho) da Abemi e da Engenharia da Petrobrás para questões jurídicas”. O documento, segundo ele, fala em “definições conjuntas de cláusulas de responsabilidade contratuais”.

“O que é mais assustador”, segundo o advogado, foi que houve um comunicado de que a Petrobrás estava “revisando a minuta contratual padrão”, que era elaborada pelo jurídico e tinha que ser submetida à Diretoria da estatal, e que essas alterações deveriam ser “encaminhadas para na análise da Abemi, antes da próxima reunião do GT”.

Abreu e Lima. O ex-gerente jurídico apresentou as obras da Refinaria Abreu e Lima como maior exemplo das irregularidades cometidas a partir dessas alterações de modelo de contratação. Conta ele que para construir a refinaria foi criada a Abreu e Lima S/A, com capital formado metade pela Petrobrás e metade por uma subsidiária. Essa empresa possuía diretoria própria e conselho executivo e deveria aprovar e conduzir as licitações da Abreu e Lima.

Segundo ele, com a criação da S.A., aquela “não era mais uma obra da Petrobrás.” “Na prática, isso não aconteceu, sendo que os procedimentos permaneceram sobre a condução da aprovação da Petrobrás. Teve um parecer, depois de uma discussão pesada minha com o jurídico de Serviços. Eles soltaram um parecer dizendo que todas as licitações tinham que ser instauradas pela Abreu e Lima (porque ela era uma SA subsidiária). Aí eu descubro que estava tudo sendo instaurado na Petrobrás.”

A testemunha bomba afirma que a cessão dos contratos feitos pela Petrobrás para a Abreu e Lima S.A. “tentava consertar um negócio que já nasceu errado”. “Se olhar princípio de responsabilidade orçamentária você acaba ferindo.”

O ex-gerente afirmou que “a área de Engenharia não colocou o parecer jurídico nos processos que eram encaminhados à diretoria (de Abastecimento)”. “Aí eu informei ao gerente executivo do Jurídico” dessa omissão de documentos. Outros casos ocorreram segundo o ex-gerente jurídico.

“Eu vinha constantemente reclamando, porque criaram uma comissão de direito contratual. E quando chegava na proposição das coisas na reunião, vinha assim: ‘porque a Abemi solicitou, porque a Abemi quer’. Isso foi me tirando do sério e escrevi abertamente os ‘advogados das Petrobrás estão trabalhando para a Abemi ou para a Petrobrás’”, contou o ex-gerente. ”Fui advertido verbalmente.”

Ouvido no dia 7 de janeiro por dois procuradores da força-tarefa, Sá apresentou documentos e normas internas, bem como pareceres. Suas revelações foram anexadas na ultima sexta-feira aos autos da Lava Jato.

Perseguição e omissão. O nome do ex-gerente jurídico de Abastecimento apontado pela ex-gerente executiva Venina Velosa da Fonseca como alguém que havia tentado denunciar os desvios e a atuação do cartel na estatal e acabou sendo punido com uma sindicância, em 2009.

Aos procuradores da Lava Jato, Sá confirmou o afastamento depois de emitir pareceres internos alertando irregularidades em contratos e aditivos das obras e citou o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e de Duque como interessados em sua demissão.

“Houve um dia que eu, Venina, gerente executiva do Abastecimento fomos convocados, junto com o diretor Paulo Roberto, para uma reunião com o diretor Duque e o Pedro Barusco, da Engenharia. Quando nós chegamos na reunião, o doutor Paulo não foi. Eu e a Venina levávamos uma escovada do diretor Duque, que a gente estava atrapalhando, que a gente não sabia como as empreiteiras trabalhavam, que se não fosse do jeito que as empreiteiras faziam não ia se conseguir contratar e que não ia ser que a Engenharia que sabia como fazer.”

O advogado afirmou que em e-mail enviado a Venina, recebeu email de Costa, então direto, confirmando as decisões em parceria com a Diretoria de Serviços. Segundo denúncia da Lava Jato, confirma das delações de dois ex-funcionários da estatal, as duas diretorias eram controladas pelo PT e pelo PP na cobrança de propina.

“A gente levou um sabão feio nessa reunião.”

Dentro da área jurídica, o caso foi levado aos superiores. “Em determinado momento, o gerente executivo do Jurídico entendeu que eu teria que assinar ratificando os pareceres que eram dados pelo jurídico de Serviços e eu disse que não faria isso.”

Segundo ele, depois de pedir um dossiê sobre o caso da Abemi, seu superior disse que não poderia receber os documentos. Sá afirma que “as questões do dossiê” não estavam sendo analisadas na comissão de sindicância, contra ele.

Como prêmio por tentar alertar seu superior sobre irregularidades na Petrobrás, Sá afirma que foi encostado em uma sala sem janela, nem computador, de 2 metros por 2 metros. “Acabei enfartando e percebi que iam me demitir”, disse. “Esse foi meu último ato no jurídico, eu fiz um ato sobre esse assunto.”

Depois de ser chamado por Duque pessoalmente para adverti-lo de que ele havia gerado problemas, Sá diz que não foi punido pela sindicância, estranhamente, e acabou sendo encaminhado para outra área da estatal. Perguntado então por um dos procuradores da Lava Jato a quem ele atribuía o assédio sofrido, Sá afirmou: “Me disseram que o Gabrielli queria minha demissão e o Duque também”.

“Gabrielli era o presidente”, perguntou o procurador. ”Era presidente. Em parte também porque o Gabrielli já estava danado da vida com o problema da comunicação, que foi anterior.” Venina e Sá tiveram participação na denúncia interna de que pagamentos de empresas sem contratos eram feitas na Diretoria de Abastecimento por um indicado do então presidente da estatal.

Defesa. O presidente da Abemi, Antonio Muller, informou que a Associação nunca alterou normas contratuais da Petrobrás e negou que contratos de prestação de serviços da estatal tivessem que ter o crivo. “Fico muito surpreso com o Fernando de Castro Sá falar isso. O jurídico sempre participou das reuniões. O foco da Abemi é a competitividade, a redução de preço e a produtividade. É uma bandeira nossa”, disse. Segundo o presidente, a Associação acompanha a Operação Lava Jato pela imprensa. “De maneira nenhuma (sabia de suposta cartelização por parte das empreiteiras). Nós gostaríamos que tudo isso fosse resolvido.”

“Renato Duque conheceu o advogado Fernando Sá, lotado no Jurídico da Petrobras. O Jurídico da empresa não tinha ligação organizacional com a Diretoria de Serviços. Toda e qualquer alteração em minuta contratual somente poderia ser efetuada após a devida análise e parecer favorável do Jurídico da Petrobrás.”

Testemunha: Arxo deu propina de US$ 7,5 milhões a Duque e Barusco

• Operador na BR Distribuidora recebia dinheiro vivo na sede da empresa

Cleide Carvalho, Renato Onofre e Andressa Maltaca – O Globo

CURITIBA E SÃO PAULO - O empresário Mário Goes, apontado pelo delator Pedro Barusco Filho como um dos operadores do esquema de propina na BR Distribuidora, teria pagado mais de US$ 7,5 milhões a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal, e ao próprio Barusco em nome da empresa Arxo, de Santa Catarina, acusada de fazer parte da fraude. A acusação consta do depoimento de Cintia Provesi Francisco, ex-gerente financeira da Arxo, que acusou a empresa de envolvimento no esquema. Em depoimento à Polícia Federal, Cintia afirmou que Goes recebia dinheiro vivo na sede da Arxo em Piçarras, Santa Catar ina, das mãos de Daniela Fransozi, sobrinha dos donos da empresa Gilson Pereira e João Gualberto Pereira Neto. O diretor financeiro da Arxo, Sérgio Marçaneiro, segundo ela, também viajava para o Rio levando valores em espécie para entregar a Goes. Presos desde a semana passada na 9ª etapa da Lava-Jato, os donos e o diretor financeiro da Arxo foram libertados ontem por decisão do juiz Sérgio Moro. Ainda segundo Cintia, para pagar a propina e operar dinheiro vivo, a Arxo montou um caixa 2 e um sistema de notas frias.

Ela comprava as notas frias de terceiros, pagando 5,5% para o emissor , ou usava notas de fornecedores. As duas principais fornecedoras de notas eram a RPK, que teria emitido 88 notas ficais frias entre 2013 e 2014; e a Linkcom. Documento da Receita Federal classificou as duas empresas como "noteiras", pois a movimentação financeira delas era incompatível com o total de notas que emitiam. Segundo Cintia, o representante das duas empresas era Flávio Sanchez, que era funcionário de uma empresa chamada All Prime . Sanchez teria dito a Cintia que tinha um amigo na Receita Federal, em São Paulo, que ajudava a "esquentar" notas frias . Ainda de acordo com a testemunha, Cintia contou que o contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora foi assinado pela Arxo no segundo semestre do ano passado após uma reunião de Gilson Pereira com representantes da subsidiária da Petrobras.

Advogados falam em vingança
No encontro, teria ficado acertado que, num pacote de R$ 200 milhões de caminhões-tanque a serem comprados pela BR, a Arxo ficaria com R$ 80 milhões em encomendas. Cintia trabalhou na Arxo entre janeiro de 2012 e novembro de 2014 e os advogados da empresa alegam que, depois de demitida, quis se vingar . Do outro lado , Cintia apresentou à PF várias cópias de notas frias , e afirmou que foi demitida porque não aceitou o esquema. A ex-gerente afirmou que um sobrinho dos sócios, chamado Vagner Pereira, responsável pela área de tecnologia de informação da Arxo, usava um sistema capaz de apagar arquivos remotamente. Um teste foi feito em abril de 2014, logo depois do início da Lava-Jato. (*Especial para O GLOBO)

Estatal alterou normas, diz testemunha
A Operação Lava-Jato ouviu uma testemunha que, segundo os investigadores, confirma a atuação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque no esquema que envolve a cobrança de propina de empreiteiras que formavam cartel para obter contratos com a Petrobras. De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", o ex-gerente jurídico da estatal Fernando de Castro Sá detalhou como, por meio de alteração de normas e padrões de contratação da estatal, empreiteiras passaram a ditar regras, via Diretoria de Serviços. Sá, em depoimento à Justiça, disse que tentou comunicar os desmandos internamente: "A coisa ia num crescente tão grande que, um belo dia, olha como a coisa era feita, chegou lá da (Diretoria de) Engenharia para o (Diretoria de) Abastecimento informando que tinham que aprovar os aditivos 5, 6 e 7 da terraplanagem (nas obras da Refinaria Abreu e Lima). Só que quando você lê o expediente, os aditivos já estavam assinados.

Valor de propina citada por delator é similar ao de doações oficiais ao PT

• Ex-gerente disse que suborno era calculado com base no valor de contratos com a Petrobras

• Propina por obra em Paulínia chegaria a R$ 1,1 mi; meses depois, empresas contratadas doaram R$ 1 mi ao PT

Rubens Valente Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Levantamento feito pela Folha identificou doações oficiais ao diretório nacional do PT em valores e épocas que coincidem com as propinas relatadas pelo delator e ex-gerente de engenharia da Petrobras Pedro José Barusco Filho no acordo de delação premiada fechado na Operação Lava Jato.

Barusco disse que a propina paga ao PT era calculada com base no valor de cada contrato fechado pelas empreiteiras com a Petrobras.

Na tabela entregue à Justiça Federal e nos depoimentos à Polícia Federal, Barusco indicou que 0,5% sobre o valor do contrato fechado pela estatal na refinaria de Paulínia (SP) com as empresas MPE e EBE (Empresa Brasileira de Engenharia) foi destinado ao "Part", sigla que ele usou para designar o PT.

O valor do contrato era de R$ 216 milhões, o que representaria um pagamento de R$ 1,08 milhão ao partido.

Segundo a tabela de Barusco, o contrato tem fevereiro de 2011 como data de referência. Em junho e agosto daquele ano, o diretório nacional do PT recebeu duas doações da MPE e uma da EBE que, somadas, corresponderam a exatamente R$ 1 milhão, segundo a Justiça Eleitoral.

Além disso, segundo a tabela de Barusco, estava previsto pagamento ao PT de uma taxa de 0,5% sobre um contrato fechado pela Petrobras com o estaleiro Keppel Fels, multinacional de Cingapura, na plataforma P-58, pelo valor de R$ 185,8 milhões, ao câmbio do dia anotado por Barusco. Assim, o valor previsto ao PT seria de R$ 929 mil.

Quatro meses depois, o PT nacional recebeu uma doação de exatos R$ 930 mil da FSTP Brasil Ltda. Trata-se de uma empresa pertencente majoritariamente à Keppel Fels (75% das ações).

Uma terceira coincidência entre doações partidárias e as informações de Barusco também se relaciona à Keppel Fels. Um total de R$ 7,44 milhões foi doado ao diretório nacional do PT entre 2008 e 2010 pelo estaleiro, tanto diretamente quanto por Brasfels e FSTP.

O delator relatou número semelhante. De acordo com Barusco, foi pago "até o ano de 2013", como suposta propina do estaleiro ao tesoureiro do PT, um total de US$ 4,5 milhões. Assim, em reais o valor teria sido de R$ 7 milhões na cotação do dólar mais baixa no período.

Contribuições
Outro delator, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da empreiteira Setal, afirmou que parte do suborno que pagou se traduziu em "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". Ele contou que foi orientado pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque a procurar o tesoureiro da sigla, João Vaccari Neto, e dizer que "gostaria de fazer contribuições".

Mendonça Neto disse que na conversa com Vaccari, ocorrida por volta de 2008, ele não revelou que "as doações seriam feitas a pedido de Renato Duque".

Segundo o executivo, Vaccari o orientou "como fazer" as doações. Por meio de três empresas, Mendonça Neto de fato doou R$ 4 milhões ao caixa oficial do PT.

Impeachment provoca bate-boca entre tucano e petista no Senado

• PSDB é acusado por Lindbergh (PT) de estimular "minoria golpista"

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Líder do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima (PB) afirmou nesta segunda (9) ser legítima a discussão sobre o impeachment de Dilma Rousseff. A fala irritou o petista Lindbergh Farias (RJ).

Lindbergh disse que os tucanos estimulam os movimentos pró-impeachment: "Tem uma minoria golpista se organizando neste país, como fizeram com Getúlio, João Goulart. Estimuladas pelo PSDB, que questionou o processo eleitoral ao seu final".

Na tribuna, Cássio Cunha Lima disse que a oposição não apoia os movimentos que pregam a saída de Dilma, mas que o PSDB considera legítimas as manifestações em defesa do impeachment.

"Queda de popularidade não está prevista na Constituição como motivo para impeachment. A questão é muito mais grave. Estamos diante de um conjunto de fatos que levam a população a mencionar cada vez mais aquilo que é o impedimento da presidente", afirmou o tucano.

O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) disse que Lindbergh liderou o movimento pelo impeachment de Fernando Collor, mas condena os que pregam a saída de Dilma.

Para o petista, existiam denúncias que justificavam o afastamento de Collor: "Agora não há nada. Vocês estão sendo maus perdedores. Isso é golpismo. É grito de quem perdeu a eleição e está querendo mudar o resultado".

Na Câmara, técnicos sugeriram o arquivamento, por falta de fato determinado, de pedido da oposição para criar uma CPI sobre o setor elétrico. A palavra final é do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ex-ministro de Lula diz que impeachment está 'na boca do povo'

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Cristovam Buarque saiu em defesa de líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima,que usou a tribuna para negar que a tentativa de destituir a presidente seja 'golpismo'; petista Lindbergh Faria rebateu acusações

Brasília - O ex-ministro da Educação no governo Lula, Cristovam Buarque (PDT), afirmou nesta segunda-feira, 9, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) está "na boca do povo". "Eu não acho que a palavra impeachment deva causar arrepios. O que causa arrepio é estar na boca do povo, e silenciá-lo é que seria golpismo", disse.

O senador cujo partido faz parte da base aliada do governo, fez a declaração para reforçar a fala do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), que defendeu na tribuna da Casa que falar sobre o impeachment da presidente não pode ser considerado "golpismo" nem causar "arrepios" nos petistas. Segundo o senador, apesar de esse não ser esse o caminho que o PSDB quer trilhar, as pessoas têm falado cada vez mais no assunto.

"Não se pode falar em golpismo quando se fala em impeachment. A palavra impeachment está escrita Constituição. Portanto, ao pronunciar a palavra impeachment, não se pode produzir arrepios. Não é esse o caminho que queremos trilhar. Mas quem fala isso e fala cada vez mais alto é o povo brasileiro", afirmou.

Coube ao senador petista Lindbergh Farias (RJ) rebater as manifestações.Ele afirmou ser "precipitado" falar sobre o assunto e disse que o PSDB deveria aceitar a derrota sofrida nas urnas no ano passado. "Eu defendi o impeachment de (Fernando) Collor porque havia fatos concretos. Agora não há nada. Vocês é que são maus perdedores. Falar em impeachment depois de um processo eleitoral democrático é golpismo."

A fala do senador tucano, reforçada por Cristovam Buarque, ocorre dois dias após a divulgação da última pesquisa Datafolha que mostrou que a popularidade da presidente Dilma despencou, atingindo a pior marca de um presidente da República desde Fernando Henrique Cardoso, em 1999. A avaliação do Dilma caiu de 42% de ótimo/bom em dezembro para 23%, segundo o levantamento. Por outro lado, 44% dos entrevistados disseram que o governo dela é ruim ou péssimo - em dezembro, eram 23%.

Dilma avalia pronunciamento na TV para defender ajuste e medida anticorrupção

• ‘Batalha da comunicação’. Presidente estuda utilizar a rede nacional de rádio e televisão para explicar providências tomadas com objetivo a economia, além de divulgar versão de que o governo não está acuado e enfrenta as irregularidades ‘doa a quem doer’

• Presidente quer enviar projetos ao Congresso ao mesmo tempo em que Procuradoria denunciar políticos citados na Operação Lava Jato

Vera Rosa e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de amenizar o impacto da ação da Procuradoria Geral da República, que após o carnaval enviará ao Supremo Tribunal Federal os inquéritos contra pelo menos 28 políticos suspeitos de desviar dinheiro da Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff mandou acelerar o pacote anticorrupção. Dos cinco projetos prometidos por Dilma na campanha eleitoral, dois serão encaminhados ao Congresso, ainda neste mês, com pedido de regime de urgência.

A estratégia do Palácio do Planalto consiste em enviar as medidas para o Legislativo quase ao mesmo tempo em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar os políticos - muitos dos quais da base aliada - por corrupção na Petrobrás. Trata-se de uma operação casada para tentar se afastar do novo escândalo que se avizinha.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniu auxiliares, na noite de ontem, para dar os últimos retoques nos projetos de lei. Uma das propostas endurece as penas de funcionários públicos que tiveram enriquecimento ilícito. Outro projeto, para o qual o governo também deve pedir urgência, prevê o confisco dos bens oriundos da corrupção.

No momento em que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é acusado de ser o operador de um esquema que desviou US$ 200 milhões da Petrobrás para o partido - fato que ele nega -, Dilma vai bater na tecla da reforma política. A ideia é propor que o caixa 2 seja considerado crime.

Duas medidas "vendidas" na campanha, porém, devem ficar para depois: a criação de juizados especiais para crimes de improbidade administrativa e a aceleração dos julgamentos de processos contra políticos no Supremo. Essas ações, que mexem com a estrutura da Justiça e envolvem a tramitação de processos, dependem de maior discussão com os próprios juízes.

Reação. Sob o impacto negativo da Operação Lava Jato, Dilma quer mostrar, com o pacote no Congresso, que o governo não está acuado e enfrenta a corrupção. Na "batalha da comunicação", a presidente decidiu dar mais entrevistas para divulgar as realizações da equipe e reagir à temporada de más notícias na política e na economia.

Dilma chegou a avaliar a possibilidade de fazer um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, após o carnaval, para anunciar o pacote anticorrupção, defender as medidas de ajuste na economia e divulgar uma agenda positiva, com agrados à classe média e aos empresários. Na noite de ontem, porém, a Secretaria de Comunicação da Presidência garantiu que Dilma não fará qualquer pronunciamento neste sentido.

A ideia do pronunciamento veio a público no fim da tarde. Um ministro do Planalto chegou a confirmar ao Estado a informação, sob a condição de anonimato. Se não mudar de ideia, porém, a presidente deve primeiro dar uma entrevista a um grande jornal, para só depois fazer um pronunciamento, que pode ser em 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

A estratégia para driblar a temporada de más notícias foi discutida ontem por Dilma com o núcleo duro do governo. Em almoço no Palácio da Alvorada com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ricardo Berzoini (Comunicações), ela disse que não ficará na defensiva.

O governo está preocupado com a queda expressiva de popularidade após o ajuste fiscal e o escândalo na Petrobrás. Após o desgaste sofrido ao vetar a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda, com a base aliada dividida e pressionada por adversários, que querem abrir uma nova CPI da Petrobrás, Dilma decidiu partir para a ofensiva.

Contrariado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a emissários que alertem Dilma sobre a necessidade de viajar mais pelo País e dar mais entrevistas, com o objetivo de defender sua gestão. Na festa de 35 anos do PT, em Belo Horizonte, na sexta-feira, os dois apareceram juntos diante das câmeras, mas não conversaram reservadamente.

Por imagem, Dilma busca ajuda de Lula e de marqueteiro

Para tentar reação, Dilma vai recorrer a Lula e a marqueteiro

• Após queda na popularidade apontada pelo Datafolha, petista encontrará antecessor, de quem anda afastada

• Governo deve enviar proposta anticorrupção ao Congresso em breve; auxiliares querem que presidente viaje mais

Natuza Nery, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Mergulhada na pior crise de imagem desde que o PT chegou ao poder, a presidente Dilma Rousseff vai buscar a ajuda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do marqueteiro João Santana para afinar uma estratégia de recuperação da popularidade.

Segundo a Folha apurou, Dilma e Lula ficaram de se encontrar nesta semana. A reunião, porém, depende de um espaço na agenda de ambos. No caso de João Santana, o encontro será na sexta (13).

Dilma e Lula estiveram juntos na sexta (6), na festa de 35 anos do PT, em Belo Horizonte. O encontro, o primeiro desde a posse da petista, ocorreu antes da divulgação da pesquisa do Datafolha.

A presidente não ouve os dois há muito tempo. No caso de Lula, apesar do encontro recente, os dois não tiveram tempo para falar sobre os problemas do governo.

Em relação a Santana, a única vez em que estiveram juntos foi no ano passado, quando ele a ajudou a produzir o discurso de posse.

O Datafolha mostrou forte deterioração da avaliação da presidente. Cerca de metade (47%) dos brasileiros a considera desonesta, falsa (54%) e indecisa (50%). Esses dados, somados à perda de apoio em estratos mais pobres, foram o que mais assustaram Dilma.

A pesquisa apontou que 44% classificam o governo como ruim ou péssimo. É a mais baixa avaliação desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O encontro com Lula deve colocar em marcha um conjunto de ações para uma reação. A relação entre os dois sofreu um esfriamento desde a eleição. Acostumada a consultá-lo, Dilma tem tomado decisões mais solitárias, como a que levou Aldemir Bendine ao comando da Petrobras.

Nesta segunda (9), a presidente e seus principais ministros resolveram finalizar, o mais rápido possível, o pacote de medidas anticorrupção a ser enviado ao Congresso.

A ideia é tentar, com isso, reverter alguns pontos de desaprovação nas pesquisas. O pacote, porém, é promessa antiga, feita ainda na eleição.

O tema corrupção, impulsionado pelos desdobramentos das investigações sobre os desvios na Petrobras, rivaliza com a saúde pública como o principal problema do país, mostrou o Datafolha --21% e 26%, respectivamente.

Estratégia
A estratégia de reação será definida com Lula e Santana. Essa foi a principal decisão de Dilma após reunião com seus principais ministros.

O governo tem um cardápio de ações com recomendações elementares de comunicação: conceder mais entrevistas, promover mais solenidades no Planalto e viajar mais.

Assim como o pacote anticorrupção, o roteiro não é novo. Há anos o PT vem batendo na tecla de que Dilma precisa correr o país e divulgar sua gestão. Ela, porém, costuma vetar agendas fora e, desde novembro, não dá entrevistas. Seu programa de rádio, "Café com Presidenta", desativado na campanha, até agora não voltou ao ar.

Auxiliares defendem que ela use a rede nacional de rádio e TV para explicar o pacote de medidas para reequilibrar as contas públicas e ações no combate a desvios éticos. A chefe, por ora, resiste, com receio de que isso acentue a percepção de crise.

Autocrítica

- O Globo

A QUEDA vertiginosa da popularidade da presidente Dilma, e em tão pouco tempo , segundo pesquisa Datafolha, é o pagamento de uma fatura extensa e múltipla: há a rebordosa de uma campanha eleitoral conduzida por golpes baixos da marquetagem política e existem os efeitos corrosivos do petrolão .

A CAPACIDADE de a presidente reparar os danos sofridos vai depender do entendimento que tiver dos resultados da pesquisa. Se for guiada pelos velhos cacoetes lulopetistas de vitimizar-se e sempre buscar causas externas para os problemas, será um exercício inútil.

PMDB quer nova regra para eleger deputados

• Novo presidente da Câmara colocou a reforma política como prioridade e promete acelerar tramitação do texto

• Cúpula do partido é a favor de que as empresas continuem podendo fazer doações nas disputas eleitorais

Ranier Bragon, Márcio Falcão - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O PMDB, partido do novo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), vai apresentar uma proposta fechada de reforma política cujo carro-chefe é o chamado "distritão", modelo que altera a forma como são escolhidos os deputados federais.

Desde que derrotou o PT e o Palácio do Planalto na disputa pelo comando da Câmara, Cunha colocou a reforma política como sua prioridade inicial e, nesta terça (10), vai instalar a comissão especial para discutir o tema.

O "distritão" que será defendido pelo PMDB é uma bandeira antiga do vice-presidente da República, Michel Temer. Cunha também apoia a mudança.

Pelo modelo, serão eleitos os candidatos a deputado federal mais votados em cada Estado. São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 cadeiras na Câmara --logo, seriam eleitos os 70 candidatos mais votados no Estado.

Pelo sistema atual, nem sempre o mais votado é o eleito. Isso porque os votos válidos (em candidatos ou na legenda) são divididos pelo número de vagas de cada Estado, chegando-se ao chamado quociente eleitoral.

Se esse quociente for de 100 mil votos, o partido ou a coligação de partidos elegerá deputados a cada 100 mil votos válidos que obtiver. Se atingiu cinco vezes o quociente eleitoral, elege os cinco deputados mais votados do partido ou da coligação.

Esse sistema é criticado por distorções como a ocorrida na eleição de Enéas Carneiro em 2002. Seu 1,5 milhão de votos levou o nanico Prona a atingir o quociente eleitoral seis vezes, o que levou para a Câmara outros cinco candidatos da legenda. Um deles havia recebido apenas 275 votos.

O PMDB ainda discute os outros pontos de sua proposta, que será subsidiada por um questionário já respondido por mais de 3.000 dirigentes regionais e filiados.

A principal polêmica é relacionada ao financiamento das eleições. A maior parte dos peemedebistas que respondeu às perguntas prefere que as doações a candidatos sejam restritas a pessoas físicas ou que seja exclusivamente público. Mas a cúpula do PMDB, Cunha incluído, é a favor de que as empresas, hoje as maiores financiadoras das disputas eleitorais, continuem podendo fazer doações.

O STF (Supremo Tribunal Federal) caminha para proibir essa possibilidade, mas a Câmara pretende aprovar mudança na Constituição para incluir a doação de empresas antes que o tribunal conclua o julgamento, o que ainda não tem data para acontecer.

"Do ponto de vista da realidade social e política do país, das ruas, há o entendimento de que esse sistema de financiamento é um estímulo à corrupção", diz o ex-ministro Moreira Franco, que defende mudança no atual modelo.

Segundo ele, outros pontos que têm amplo apoio entre os peemedebistas são o voto facultativo, o fim da reeleição, a unificação das eleições (de quatro em quatro anos), a restrição a partidos com baixíssimo desempenho nas urnas, fim dos suplentes de senador --na ausência do titular, assumiria o mais votado-- e realização de um referendo para ratificar ou não o que o Congresso aprovar sobre o tema.

Após reunião com Cunha nesta segunda-feira (9), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que a reforma política também é prioridade do Senado.

Reforma política opõe outra vez PMDB e PT na Câmara

• Tema que divide os dois partidos está relacionado ao financiamento das campanhas. Defendida por Eduardo Cunha, PEC permite dinheiro das empresas; PL, encampado pelos petistas e pelo Planalto, sugere o seu fim

Edla Lula – Brasil Econômico

Duas propostas antagônicas colocarão em lados opostos, novamente, o PT e o PMDB na Câmara a partir desta terça, quando será instalada a Comissão Especial da Reforma Política: uma é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 352/2013, à qual o PMDB é favorável e tem no presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ), o seu maior defensor; a outra, o Projeto de Lei das Eleições Limpas (PL 6316/13), construído pela sociedade civil e que tem o apoio do PT e do Palácio do Planalto. O principal tema a dividir os dois partidos está relacionado ao financiamento das campanhas eleitorais. Enquanto a PEC permite o financiamento empresarial de campanha, o PL preconiza o seu fim, abrindo possibilidade para apenas pessoas físicas contribuírem, com limite de R$ 700. Embora a PEC seja resultado de um Grupo de Trabalho presidido pelo ex-deputado petista Cândido Vaccarezza (PT-SP), é frontalmente rechaçado pelo partido no Congresso. "Somos absolutamente contra a PEC que está sendo colocada por entendermos que o financiamento empresarial é inconstitucional.

É a fonte de onde se origina a corrupção no país", diz o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), ao defender que a comissão aprecie também o Projeto de Lei de iniciativa popular, que chegou ao Congresso antes das assinaturas que estão sendo recolhidas por organizações da sociedade civil lideradas pela OAB e pela CNBB. O PL foi acolhido ainda em 2013 na Câmara, com autoria da deputada Luiza Erundina (PSBSP). As assinaturas, somando no mínimo 1,5 milhão de eleitores, devem chegar em março. "O mais importante em relação a essas assinaturas é o peso que elas darão ao projeto que já está sendo discutido na casa. O que não podemos é permitir que a PEC torne constitucional algo que vai contra a Constituição", argumenta Molon. Apesar de também ser defendido por outros partidos de oposição, como Psol e PV, a proposta de iniciativa popular já é vista como um projeto chapa branca.

Como neste início de ano os parlamentares se mostram reticentes em relação ao governo e ao PT, analistas observam que o apoio governamental mais prejudica do que ajuda. "Além do tema "reforma política" não encontrar a boa vontade dos parlamentares, há hoje uma animosidade crescente de todos os partidos dentro do Congresso contra o PT. Dificilmente a proposta de iniciativa popular sairá vitoriosa", observa o cientista político Paulo Kramer. O ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, tem dedicado parte de sua agenda a visitas de apoio às organizações que encabeçam as assinaturas. Na última sexta-feira foi ter com o presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno, depois de já ter se encontrado com o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coêlho.

Mas as instituições procuram desvincular o Planalto do projeto das eleições limpas. Foi o que fez, na semana passada, Coêlho, na cerimônia da primeira sessão plenária da OAB neste ano. "A reforma política não é do governo nem da oposição: ela é da sociedade", disse o presidente da Ordem. Ao Brasil Econômico, o coordenador da campanha Eleições Limpas, Cezar Britto, reforçou o argumento. "Não há nenhuma intenção de que este seja um projeto governamental. Nossa intenção é que seja um projeto que venha da população. Contar com o governo é importante porque o presidente da república tem uma base de sustentação no parlamento que será importante para votar", explica. No entender do cientista político, no entanto, a proposta de reforma defendida pelos movimentos sociais favorece ainda mais a hegemonia do PT. Ele cita como exemplo o sistema eleitoral proporcional em dois turnos, em que o eleitor vota primeiro no partido político e, em um segundo momento, nos candidatos.

"Os demais partidos não aceitarão fácil este modelo porque dará ainda mais força para o PT, atualmente o único partido, junto com o PMDB, que tem a força da legenda", aponta Kramer, ao mencionar que, no Brasil, há a tradição do voto "na pessoa em primeiro lugar e depois no partido". Kramer lembra ainda que o financiamento público de campanhas eleitorais, outra bandeira tanto dos movimentos sociais quanto do governo, é outro item a fortalecer o petismo. "O PT possui a cultura do dízimo pago pelos filiados. O partido terá facilidade de se sustentar pela militância. Os demais partidos não têm esta cultura", reforça.

Merval Pereira - Lula, a missão

- O Globo

Em recente conversa, o ex-presidente Lula disse a um interlocutor o seguinte: "Vamos ter que passar dois anos comendo merda, para depois tentar sair da crise. Mas nesse período tem que fazer política, e a Dilma não faz".

Confirmado o diagnóstico com a recente pesquisa Datafolha mostrando a popularidade da presidente Dilma no chão, Lula resolveu trazer para si a tarefa de "fazer política" , e a primeira providência foi liberar a informação de que, sim, será candidato a presidente da República em 2018. Menos de dois meses do segundo mandato de Dilma, e a candidatura de Lula já está na rua para alimentar os militantes com uma expectativa de poder que a cada dia fica mais escassa diante das diversas crises que envolvem o governo , da economia à política. Lula em campanha, viajando pelo país revivendo a Caravana da Cidadania dos velhos tempos , é uma barre ir a política formidável a movimentos de descontentamento na sociedade e a manobras políticas que possam levar ao impeachment da presidente Dilma.

Com o decorrer do processo , veremos se a insatisfação popular crescerá a ponto de in viabilizar a campanha de rua de Lula ou se ele ter á força suficiente para neutralizar as previsíveis manifestações contrárias ao governo , nesses dois anos em que os governistas terão que "comer merda ". Assim como fez no mensalão, Lula começa sua campanha sobre o petrolão pregando "humildade e coragem " no discurso em Belo Horizonte no aniversário de 35 anos do PT . E, assim como em 2005, ele fala em re construir o partido , voltar às suas origens . Na célebre reunião na Granja do Torto em que ele se disse "traído", Lula lembrou a fundação do PT em 1980: "(...) no início da re democratização decidi criar um partido novo que viesse para mudar as práticas políticas , moralizá-las e tornar cada vez mais limpa a disputa eleitoral no nosso país. (...) Quero dizer a vocês , com toda a franqueza , eu me sinto traído.

Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento . Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país. (...) eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas ". Pois bem. Em 2015, Lula assume a mesma postura diante do petrolão: "Temos a oportunidade histórica de elaborar um novo Manifesto do PT , capaz de traduzir nossos compromissos para os dias de hoje e para os próximos 35 anos ".

Ele propôs "o desafio " de resgatar os ideais dos anos de fundação do partido , em 1980. "O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la . (...) O PT nasceu para mudar". Mais uma vez Lula falou em traição: "Se alguém tiver traído a nossa confiança, que seja julgado e punido , dentro da lei, porque o PT , ao contrário dos nossos adversários , não compactua com a impunidade ". Para Lula , o problema do PT é que ele "se tornou um partido igual aos outros. Deixou de ser um partido das bases para se tornar um partido de gabinetes . Há muito mais preocupação em vencer eleições , em manter e re produzir mandatos, do que em vitalizar o partido ". Lula citou a "militância paga" , sempre criticado pelo PT na "política tradicional". "(...) É nesse ambiente que alguns, individualmente , cometem desvios que nos envergonham diante da sociedade e perante a história do PT . (...) Penso que esse processo chegou ao limite no PT", decretou Lula .

Estaria tudo certo se, a partir do mensalão, Lula tivesse comandado uma refundação do PT, e o partido mudasse de atitudes. Como se vê agora no petrolão, enquanto Lula discursava quase chorando no mensalão, estava em curso um escândalo muito maior dentro da Petrobras, e sabe-se lá onde mais. No intervalo entre o julgamento do mensalão, com a condenação das principais lideranças petistas, e o surgimento do petrolão , Lula mudou o discurso e chegou a afirmar que o mensalão nunca existir a. Prometeu até mesmo se dedicar a demonstrar ao povo brasileiro que tudo não passou de uma farsa , coisa que nunca fez. Agora, ele encurtou o caminho: ao mesmo tempo em que fala em reencontrar as raízes fundador as do PT , Lula sugere que o caso do petrolão está sendo utilizado politicamente para criminalizar seu partido . Essa atitude dúbia faz parte do seu show, com o qual pretende neutralizar os efeitos das crises política e econômica que envolvem o segundo mandato de Dilma.

Dora Kramer - Com ferro foi ferida

- O Estado de S. Paulo

A notícia de que a perplexidade tomou conta do Palácio do Planalto com a derrocada dos índices de popularidade e confiabilidade da presidente da República é prima-irmã daquela irritabilidade que recai sobre a pessoa de Dilma Rousseff quando algum fato tem repercussão negativa na opinião pública.

Ambas são versões oficiais destinadas a criar um espaço de prudente (embora falsa) distância entre ela e a má nova. Ou velha, tanto faz. Algum ato de governo pegou mal? "Dilma ficou muito irritada", avisa a assessoria.

O brasileiro não gostou de constatar que Dilma mentiu na campanha eleitoral a respeito de rigorosamente todos os principais temas em debate com os oponentes? Mais que depressa o departamento de propaganda do governo informa que foi um choque para ela saber disso.

Ora por quem sois. A pesquisa do Instituto Datafolha explicitou em números uma realidade que os fatos estavam contando por si todos os dias. Ou alguém no Palácio do Planalto poderia esperar algo de diferente quando uma presidente da República recentemente reeleita simplesmente some de cena enquanto são anunciadas medidas que, segundo a candidata a conquistar votos, não seriam tomadas em hipótese alguma?

Ou, por outra, seriam impostas cruelmente ao País caso o eleitorado optasse por escolher um de seus adversários. Qualquer um dos dois, Marina Silva ou Aécio Neves, seriam os culpados por graves agruras. Ela, Dilma Rousseff, seria o caminho das soluções. Note-se o silêncio pós-posse que contrariou até o discurso da noite da vitória em que ela conclamava a Nação à união e ao "diálogo".

Daí em diante não explicou mais nada. Quando falou, limitou-se a monólogos fantasiosos seguindo a mesma toada da agenda ilusória montada para a campanha eleitoral. A roubalheira na Petrobrás era culpa de um ou outro funcionário; a crise econômica, decorrência da situação internacional;, a inflação, inexistente e o que mais não vá bem, produto de pessimismo.

Deixou o ponto crucial que era o ajuste na economia ao encargo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como quem tenta se preservar e - aqui de novo, se distanciar - da má notícia. Deu a seguinte impressão: se sair errado, a culpa é dele.

A se acreditar que a presidente da República e seu grupo fechado de conselheiros foram realmente pegos de surpresa com o efeito dessa conjunção de desastres - nem todos citados, pois de conhecimento geral -, é de se concluir pela gravidade da situação de isolamento total do núcleo governante.

Não há no tão competente departamento de comunicação governamental um acompanhamento permanente de pesquisas? E aquela consulta que o PT anunciou que contrataria para detectar as razões do claudicante desempenho eleitoral? Dela nunca mais se ouviu falar.

A julgar pela reação improvisada e repetitiva do anúncio da montagem de uma "agenda positiva" como se a agenda negativa não fosse fruto do choque de ações do governo com a agenda ilusória da campanha, há um apagão de sensatez no Palácio do Planalto. Ou um surto de ingênua credulidade no poder eterno do ilusionismo.

E ausência de noção de limite. João Santana, o marqueteiro, extrapolou, exagerou e ganhou a eleição. Entregou a mercadoria. O dia seguinte é serviço de quem ganhou. Há um dado terrível para a presidente na pesquisa do Datafolha: 47%, 54% e 50% dos consultados consideram que ela é desonesta, falsa ou indecisa.

Produto de quê? Da exacerbada contradição entre o discurso de campanha e as ações logo depois. Portanto, talvez não seja um exagero concluir que, se não tivessem sido tantas e tão flagrantes as mentiras, se a campanha de Dilma não tivesse procurado colocar na boca dos opositores palavras que nunca disseram, possivelmente a crise não atingiria tão gravemente a imagem da presidente.

Hélio Schwartsman - Bem feito!

- Folha de S. Paulo

Quase a metade dos brasileiros (47%) considera a presidente Dilma Rousseff desonesta. Para 54%, ela é só falsa. Esses dados, que saíram da pesquisa Datafolha publicada no fim de semana, devem estar doendo no fundo da alma da presidente. Exceto no caso de cleptocratas patológicos, o que move políticos é, em última instância, o desejo de ser amado por todos.

O baque, porém, é justo. A mandatária nem sequer fingiu guardar um luto decente antes de começar a adotar as medidas que não só prometera jamais aplicar como ainda acusara seus adversários de planejar. O problema, é claro, não está nas medidas, cujo sentido geral é correto, mas no fato de ter enganado o eleitor. Segundo o Datafolha, 60% consideram que ela mentiu na campanha.

Seria precipitado, porém, ver aí o colapso do governo Dilma. Para o bem e para o mal, a raiva é uma emoção quente, que não se sustenta por muito tempo. Logo denúncias envolvendo parlamentares se tornarão públicas e a carga de indignação deve, senão arrefecer, ao menos distribuir-se de modo mais equânime.

É preciso, ainda, reconhecer uma virtude em Dilma. Ela até caminha prazenteiramente para o abismo, mas, quando vê o precipício, refuga e não salta, ao contrário de uma Cristina Kirchner ou um Nicolás Maduro. Ainda que muito a contragosto e de forma claudicante, ela agora está fazendo o que é preciso para evitar que a economia se deteriore mais.

Crises trazem uma boa dose de sofrimento para a população, mas são também uma oportunidade para o país avançar institucionalmente. Seria importante aproveitar uma conjuntura de Executivo e Legislativo enfraquecidos para aprovar uma agenda de reforma do Estado que reduza o poder discricionário de autoridades (fonte de corrupção e ineficiência) e o substitua por rotinas e processos tão impessoais quanto possível. A Magna Carta, vale lembrar, surgiu de um rei fracassado.

José Roberto de Toledo - De fora a fora, FHC a Dilma

O Estado de S. Paulo (09 Fevereiro 2015)

Como previsto, Dilma Rousseff experimenta o "efeito FHC" no começo de seu segundo governo. A popularidade da petista descreve a mesma curva descendente e abrupta que o tucano traçou 16 anos atrás. Ambos trocaram o patamar de 40% de ótimo/bom no final do primeiro mandato por 44% de ruim/péssimo no começo do segundo governo, segundo o Datafolha. A diferença é que Dilma está caindo ainda mais rápido do que Fernando Henrique caiu.

FHC demorou de setembro de 1998 a junho de 1999 para inverter o sinal e sair de um saldo positivo de 26 pontos para um déficit de 28 pontos em sua popularidade. Dilma precisou de cinco meses a menos para converter 22 pontos de saldo em 21 pontos de déficit. Se a história se repetir, há dois fatos a lembrar: a impopularidade de FHC aumentou muito antes de começar a cair, e ele nunca mais recuperou o prestígio do primeiro mandato.

A popularidade da petista descreve a mesma curva descendente e abrupta que o tucano traçou 16 anos atrás.

Em setembro de 1999, 56% dos brasileiros diziam ao Datafolha que o governo Fernando Henrique era ruim ou péssimo, contra só 13% que o consideravam bom ou ótimo. Foi o pior momento do tucano. Dezenas de milhares faziam manifestações contra o presidente, os sindicatos e a oposição ameaçavam parar o País com uma greve geral, e deputados do PT diziam que o presidente deveria renunciar. Uma década e meia depois, inverteram-se os papéis.

Do "Fora FHC" ao "Fora Dilma", o que ambos os presidentes fizeram de parecido para dividir um histórico tão semelhante junto à opinião pública? Por que viram seu poder evaporar tão cedo? Os dois quebraram as expectativas econômicas da população.

Nos dois momentos, os brasileiros perderam poder de compra e ficaram mais pessimistas em relação à inflação e ao emprego - embora os dois presidentes-candidatos prometessem o contrário.

Durante ambas as campanhas pela reeleição, a petista e o tucano jogaram com a incerteza provocada pela mudança do poder. Exageraram o risco em caso de vitória do rival. Apelaram ao mais básico instinto do eleitor, o medo. A mensagem de fundo das duas campanhas era "o que está ruim pode ficar pior". Pois ficou. Na época de FHC, o PT popularizou a expressão "estelionato eleitoral". Agora, é a vez de os tucanos resgatarem o termo.

Se o miolo do enredo é parecido, o desfecho é ainda incerto. Aos trancos, FHC terminou seu segundo mandato - embora tão por baixo que foi esquecido por três campanhas presidenciais seguidas do PSDB: 2002, 2006 e 2010. Só foi ser resgatado por Aécio Neves em 2014. Ainda assim, com o mesmo sucesso. E Dilma?

É provável que, como FHC, ela experimente uma piora de sua avaliação antes de ter chance de melhorar. O tucano enfrentou o racionamento de energia quando se recuperava. Dilma terá pela frente o racionamento de água, ao menos. Embora as manchetes sejam todas para os escândalos de corrupção, será o volume da caixa d'água e, principalmente, do bolso do eleitor que determinará o futuro da presidente. Nem Marchiori, nem Youssef, nem Cunha. Dilma depende é de Levy - e de São Pedro.

Censura, de novo. Como não há nada mais importante acontecendo no Brasil, o primeiro pedido de CPI a conseguir assinaturas suficientes para ser apresentado ao novo presidente da Câmara dos Deputados foi contra as pesquisas eleitorais. Seu autor quer "apuração matemático-estatística" - seja lá o que signifique - sobre suposta manipulação de resultados. Ao mesmo tempo, o deputado apresentou projeto de lei para proibir a divulgação de pesquisas até 15 dias antes das eleições.

O argumento para justificar o obscurantismo é o mesmo de sempre: você, eleitor, é, no fundo, um idiota. Incapaz de pensar por si próprio, deixa-se levar por qualquer porcentagem. Logo, é preciso vedar os olhos e tapar os ouvidos do eleitor para que ele não seja influenciado. Seguindo nesse raciocínio, que tal proibir a propaganda dos candidatos e acabar com o horário eleitoral na TV?

José Casado - Na poeira da ruína

• Corrupção e má gerência deixaram em agonia o projeto mais ambicioso dos governos Lula e Dilma. Na Sete Brasil há algo insólito: conseguiram desmoralizar o ‘conteúdo nacional’

- O Globo

Um legado de corrupção e má gerência deixou em agonia o projeto industrial mais ambicioso dos governos Lula e Dilma Rousseff: um empreendimento de US$ 89 bilhões (R$ 240,3 bilhões) para construção e operação de 23 navios-sonda e seis plataformas vitais à Petrobras na exploração da camada pré-sal.

Lula mobilizou empresários com o privilégio da reserva de mercado. Uniu a mão invisível do Estado à calculadora do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

O presidente recebeu a confirmação do nascimento da Sete Brasil na quarta-feira 22 de dezembro de 2010, uma semana antes de passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff.

A reunião inaugural aconteceu no número 228 da Praia de Botafogo, no Rio, sob o comando de João Carlos de Medeiros Ferraz e Pedro José Barusco Filho, saídos da estatal de petróleo. Era um conglomerado com mais de três dezenas de subsidiárias e um só ativo (29 contratos) — tudo com um único cliente, a Petrobras.

Oficialmente, o grupo é privado, controlado pelo fundo FIP-Sondas (95%) e Petrobras (5%).

Na vida real não é bem assim. O governo determinou a fundos de pensão (Previ, Petros, Funcef e Valia) que comprassem metade do FIP-Sondas. Junto com a Petrobras têm 59% das cotas.

O BTG de Esteves lidera o bloco privado (com 20%), seguido pelo Bradesco e Santander (12%, somados). O restante (9%) está fracionado entre EIG Global , Lakeshore e Luce Venture Capital.

Antes de fechar seu primeiro balanço, em 2011, a Sete Brasil já acumulava US$ 75 bilhões (R$ 202,5 bilhões) em contratos com a Petrobras. Para cada um criou uma sociedade com grupos nacionais (Camargo Correa, Engevix, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC e OAS) e asiáticos (Keppel Fels, Jurong, Kawasaki e Cosco).

A Petrobras topou pagar US$ 720 milhões (R$ 1,4 bilhão) por cada sonda. E mais US$ 500 mil (R$ 1,3 milhão) por diária de operação.

Tudo acertado, no final de 2011 os principais executivos, João Carlos Ferraz (presidente) e Barusco Filho (diretor financeiro), desembarcaram em Milão para jantar com gerentes do Banco Cramer, de Lugano (Suíça). Com eles estava Renato Duque, diretor de Serviços da Petrobras.

Quem os ajudou foi Julio Camargo, que já intermediava-lhes propinas da OAS, Setal e Toyo Engeneering (Japão). Depois, uniu-se ao grupo Eduardo Musa, também diretor da Sete Brasil.

No seu último balanço, de 2013, a Sete Brasil revelou dívidas não pagas de US$ 3,1 bilhões (R$ 8,5 bilhões). Indicou promessas de US$ 4,1 bilhões (R$ 11,2 bilhões) do BNDES, que exigia vários documentos. Auditores anotaram: “A situação indica uma incerteza material que pode suscitar dúvidas significativas sobre a continuidade operacional da companhia.”

Na semana passada, 19 meses depois, a empresa ainda negociava a documentação com o banco estatal, quando se tornou pública parte da confissão de Barusco sobre US$ 97 milhões (R$ 261,9 milhões) em subornos que ele e outros receberam.

A lenta agonia da Sete Brasil deixa transparecer algo insólito: conseguiram desmoralizar até o “conteúdo nacional".

O que era construção dissipa-se na poeira da ruína. E uma nova conta vai sobrar para os cofres públicos, via Petrobras e fundos de pensão estatais.
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José Casado é jornalista

Celso Ming - Paralisia

• A percepção geral é a de que a presidente Dilma está atordoada com a perda de força da economia. E, sem rumo claro, o investimento não deslancha

- O Estado de S. Paulo

Em reunião realizada nesta segunda-feira em Istambul, perante autoridades do Grupo dos 20, o Banco Central anunciou um programa destinado a recuperar o investimento no Brasil, que vem caindo assustadoramente (veja o gráfico) e deve cair ainda mais este ano.

A percepção geral é a de que a presidente Dilma está atordoada com a perda de força da economia. E, sem rumo claro, o investimento não deslancha.

Está pintando evolução negativa do PIB em 2015. A inflação vai disparando para acima do teto da meta. O rombo fiscal é muito maior do que o esperado e crescem dúvidas sobre se o ministro Joaquim Levy conseguirá entregar o superávit primário de 1,2% do PIB (R$ 66,3 bilhões) prometido para 2015. As contas externas podem melhorar, mas ninguém garante isso.

A presidente Dilma esperava assumir seu segundo mandato com forte exibição de capital político, mas também aí está dando o contrário. Na área econômica, uma das principais vítimas tende a ser o investimento. E é sobre isso que convém fazer uma avaliação.

O governo aponta para as estatísticas sobre o afluxo de capitais de longo prazo (Investimento Estrangeiro Direto – IED), que chegou a US$ 62,5 bilhões no ano passado, e quer convencer a todos de que está sobrando confiança. Nota-se, também, certa movimentação de investidores chineses, de olho nas matérias-primas e no mercado interno. Mas isso é pouco.

O momento é declaradamente de ajuste da economia. Maiores restrições fiscais e monetárias (alta dos juros) devem provocar ou forte contração do setor produtivo ou alguma recessão, o que desestimula a ampliação dos negócios. O mercado financeiro vem avisando que as operações de crédito serão contidas porque as famílias e as empresas já estão endividadas demais. É fator que freia os negócios. 

O fim das desonerações e dos incentivos fiscais, o aumento da carga tributária e a inflação elevada devem moer o poder aquisitivo. A perspectiva de desaceleração do consumo, por sua vez, deve levar as empresas a atitudes mais conservadoras, à espera da virada.

Paralisadas pela Operação Lava Jato, as empreiteiras vêm reduzindo seu ritmo. As restrições de caixa obrigaram a Petrobrás a parar as obras de três refinarias (Premium 1, Premium 2 e segundo trem da Abreu e Lima) e a rever para baixo seu Plano de Negócios. É movimento que deverá levar milhares de fornecedores a puxar os freios.

Além do déficit geral de confiança, a indústria de transformação enfrenta mais duas sérias incertezas: sobre os suprimentos de energia elétrica e de água tratada. São fatores que tendem a adiar projetos de expansão. A baixa oferta de mão de obra, especialmente da qualificada, é outro dado da equação que estimula mais a espera do que a iniciativa. Talvez ajude a destravar projetos na área de Tecnologia da Informação, que aumenta a produtividade e também poupa mão de obra. Mas isso há de se ver.

Está mais do que na hora de lançar um programa de investimentos. Mas, como outros antes dele, só terá sucesso depois que os fundamentos da economia forem reforçados e a confiança tiver sido resgatada.

Vinicius Torres Freire - Maus humores e efeito pobreza

• Além de a renda crescer mais devagar, patrimônios do "andar de cima" padecem com efeitos da crise

- Folha de S. Paulo

O efeito social e político da lerdeza econômica começa a aparecer nas pesquisas de humor dos brasileiros. "Começa". Apesar da degradação desastrosa do prestígio dos governantes e do aumento brutal da ansiedade econômica, como demonstrado pelo Datafolha, o pleno impacto dos efeitos colaterais de Dilma 1 sobre o dia a dia do cidadão ainda está por aparecer, em especial no emprego, no salário e no consumo, que são os termômetros das ruas.

Mas há outros indícios menos visíveis de empobrecimento que já devem estar causando estragos: o patrimônio, os estoques de riqueza, param de crescer ou já começam a perder valor real. É o efeito pobreza.

No ano passado, ficamos "mais pobres" em um sentido mais "pop". Para ser mais preciso, a renda ou a produção média por cabeça diminuiu. Isto é, o PIB deve ter crescido quase nada, menos que a população. No entanto, a renda do trabalho ainda cresceu, embora o ritmo do avanço venha sendo cada vez menor. O desemprego diminuiu, embora a quantidade de gente ocupada nas metrópoles tenha ficado estagnada. As rendas "sociais" (transferências do governo) também.

Como tanto repetiram os economistas da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo e esquerdistas governistas, "o país ia mal, mas o povo ia bem", embora não lidassem com o assunto nesses termos.

Neste 2015, o efeito de uma inflação mais acelerada com reajustes menores de salário, devidos ao aumento do desemprego, tende a comer os aumentos de renda. Além do mais, a inflação mais visível, aquela que afeta o consumo de bens e serviços mais cotidianos, anda ruim. A inflação de alimentos e bebidas anda a quase 9%. A de habitação, quase 11%.

Do lado de cima da pirâmide social, deve haver uma percepção de empobrecimento na acepção mais estrita da palavra. Todo o mundo soube da enorme inflação do preço dos imóveis, que levou os preços de casas e apartamentos em bairros de rico de Rio e São Paulo para níveis londrinos. Pois bem, essa inflação acabou. Nos últimos 12 meses, na média o preço dos imóveis subiu menos que o IPCA, por exemplo. Mas, nos últimos 36 meses, vinham subindo ao ritmo de 36% em grandes cidades e a 40% em São Paulo, ante um IPCA de pouco menos de 20%.

O patrimônio líquido dos fundos de investimento aumentou ainda 4,6% no ano passado, em termos reais, mas nos menores ritmos da década, afora 2013 e os anos horríveis de 2008 (colapso mundial) e 2002, resultado de perdas de capital, rentabilidade baixa e captação (aplicações) minguantes.

Nesses fundos estão R$ 2,6 trilhões da riqueza dos brasileiros. O Ibovespa estava em cerca de 70 mil pontos no primeiro mês de Dilma 1, janeiro de 2011; anda pela casa de 49 mil pontos agora. Além de perda de patrimônio, do ponto de vista do indivíduo, trata-se ainda de um indicador de baixo interesse pelas empresas e pela expansão dos negócios.

Para lembrar num "indicador" meio precário, mas visível de poder de compra, o valor do "dólar" anda pelos níveis mais altos em meia dúzia de anos (trata-se aqui da taxa real efetiva de câmbio). Para o conjunto da economia, a médio prazo, tende a ser uma boa notícia. Para quem mede conforto em importados e viagens, é um indício de possibilidades diminuídas.