Aliados do governo resistem a pacote fiscal no Congresso
• Emendas podem reduzir impacto de medidas propostas pela equipe econômica
• Parlamentares acham que perda de popularidade de Dilma abre caminho para concessões do Planalto
Márcio Falcão, Ranier Bragon, Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Parlamentares dos partidos que apoiam o governo no Congresso começaram a se mobilizar para barrar ou atenuar o impacto das medidas de ajuste fiscal propostas pela presidente Dilma Rousseff.
O pacote, que reduz benefícios trabalhistas e previdenciários em busca de uma economia de R$ 18 bilhões neste ano, enfrenta resistências até no PT, o partido de Dilma.
Deputados e senadores apresentaram até a tarde desta segunda (9) 620 sugestões de mudanças nas duas medidas provisórias que compõem o pacote. Parlamentares governistas apresentaram 412 emendas, dois terços do total.
As mudanças atingem pontos centrais das medidas, que mudam regras para concessão do seguro-desemprego, do abono salarial, da pensão por morte e do seguro-defeso para pescadores artesanais.
As propostas dos congressistas serão analisadas primeiro por comissões formadas por deputados e senadores. Depois, cada medida provisória será votada no plenário da Câmara e no Senado.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP), ex-ministra da Cultura de Dilma que deixou o governo fazendo críticas ao PT e à presidente, protocolou nove emendas ao pacote.
"Os desafios a serem enfrentados pelo governo são gigantescos, resultado do fracasso da política econômica, da falta de ações necessárias durante o agravamento da crise e, sobretudo, da falta de transparência na condução da economia", disse Marta na justificativa às suas emendas.
"O país assiste atônito ao aumento das tarifas, à escalada da inflação, ao aumento consecutivo dos juros e ao aumento de impostos. Sem falar na corrupção, que somada aos rumos econômicos tortuosos, torna cada vez mais difícil o resgate da confiança e da credibilidade", completou.
O PC do B, outro partido governista, fechou questão contra as medidas. "Estourar a corda para o lado mais fraco, na hora da dificuldade, não dá", afirmou Orlando Silva (PC do B-SP), ex-ministro do Esporte de Lula e Dilma.
Congressistas de outros oito partidos com representantes no ministério de Dilma (PMDB, PSD, PP, PDT, PR, PROS, PRB e PTB) também apresentaram emendas. A rejeição das centrais sindicais às medidas propostas pela equipe econômica deu impulso à resistência no Congresso.
O governo quer restringir a concessão do seguro-desemprego a trabalhadores com mais de 18 meses de vínculo empregatício na primeira vez que solicitarem o benefício. Os congressistas querem reduzir esse período para seis ou oito meses.
Como a Folha mostrou em janeiro, o Planalto sabe que terá de fazer concessões para conseguir a aprovação das medidas no Congresso. Mas a queda repentina sofrida pela popularidade de Dilma deverá aumentar as pressões para que o governo negocie.
Negociações
Segundo o Datafolha, o governo da petista é avaliado como ótimo ou bom por 23% dos entrevistados e como ruim ou péssimo por 44%.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o governo vai trabalhar para preservar a essência do ajuste, mas que há espaço para negociações.
"O governo está tomando medidas seguras, tendo em vista o objetivo futuro, que é preservar as conquistas sociais e o crescimento econômico. Mas é claro que as medidas devem ser aperfeiçoadas pelo governo e vamos buscar um denominador comum", disse o deputado.
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