domingo, 16 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais /Opiniões

Combater facções é fator crítico para preservar Amazônia

Por O Globo

Crime organizado se tornou um dos maiores responsáveis pela devastação florestal, revelam estudos

O crime organizado é um dos maiores vetores de destruição da Floresta Amazônica. As facções criminosas são responsáveis não apenas pela explosão de violência na região, mas também por dificuldades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Por isso se tornaram objeto de estudos recentes e tema de debates na COP30, em Belém.

“O crime organizado se tornou um grande agente de desmatamento. Ele fragmenta a floresta e as comunidades”, diz o climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA), uma rede de cientistas e líderes indígenas. Em relatório recém-lançado, o SPA constata que as quadrilhas do tráfico, do garimpo ilegal e da grilagem encontraram na devastação florestal uma fonte de lucro, usado para ocupar território e lavar dinheiro, como relatou reportagem do GLOBO.

A quem interessa? Por Merval Pereira

O Globo

O momento é de disputa com o crime organizado, não entre as instituições públicas responsáveis pelo bem-estar da população

O debate sobre a segurança pública no país, que pela primeira vez em muito tempo está saindo do papel para entrar na realidade do cotidiano dos brasileiros, pode estar gerando uma ação política eficaz se os lados que se contrapõem entenderem que o momento é de consenso, e não de disputa. Ou melhor, o momento é de disputa com o crime organizado, não entre as instituições públicas responsáveis pelo bem-estar da população. Pelo andar dos debates, ainda não se convenceram disso, e a dificuldade maior está no momento em que ele se dá, vésperas da eleição presidencial.

Derrite contra a Polícia Federal, por Elio Gaspari

O Globo

Secretário de Segurança de São Paulo produziu um monstrengo revelador dos interesses estabelecidos na máquina da segurança do país

Se Guilherme Derrite fosse um transeunte laçado na Praça dos Três Poderes para redigir um projeto de combate ao crime organizado, teria sido compreensível a barafunda que ele produziu com as várias versões de seu relatório para o projeto de lei contra as facções criminosas.

Infelizmente, Derrite é um veterano policial e secretário de Segurança do governador Tarcísio de Freitas, possível candidato a presidente da República. Mais: Derrite é um deputado federal e provável candidato ao Senado em nome do que seria um desejo do eleitorado por mais segurança. Foi laçado pelo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, para relatar o projeto de lei contra as facções criminosas.

Com quatro versões, Derrite produziu um monstrengo revelador dos interesses estabelecidos na máquina da segurança do país.

A direita e a segurança, por Míriam Leitão

O Globo

A direita tomou para si a pauta da segurança, mas não apresenta políticas eficazes de combate a este problema que tanto aflige a população

No Brasil, há um mito de que a direita sabe como fazer política de segurança. A extrema direita governou o país por quatro anos, de 2019 a 2022, e não apresentou qualquer proposta boa. Ao receber das mãos de Hugo Motta a relatoria do projeto do governo contra as facções criminosas, teve nova chance. Foi um fiasco. O secretário licenciado de segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, fez um relatório inicial perigoso porque enfraquecia a Polícia Federal, além de abrir um flanco para ações militares de outros países em território brasileiro. Quatro recuos depois, o relatório ainda tem defeitos.

O fim do caso dos 9 chineses, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Regime torturou e condenou estrangeiros sem provas; caso levou 21.930 dias para ser encerrado

Aconteceu em 3 de abril de 1964, nas primeiras horas do golpe. A polícia do governador Carlos Lacerda, fervoroso apoiador da quartelada, prendeu nove cidadãos chineses que viviam no Rio. Sem acusação formal, eles foram espancados e levados à sede do Dops. Penaram um ano em prisões militares até serem expulsos do país.

Para a ditadura, os chineses obedeciam ordens de Pequim e queriam implantar um regime maoíosta nos trópicos. Tudo paranoia. Dois deles eram jornalistas da agência estatal Xinhua e cumpriam a tarefa revolucionária de correr atrás de notícias. Os outros sete integravam missões comerciais.

Indiferença ao mal, por Dorrit Harazim

O Globo

Mulheres e idosos podiam ser mortos gratuitamente. Quando o alvo era uma criança ou homem, havia cobrança adicional

O preço do silêncio é sempre alto. Os mortos no Valle de los Caídos (hoje Valle de Cuelgamuros) na Espanha, em Auschwitz, Sarajevo ou Gaza não puderam falar. E os que ousaram abrir nossos olhos não foram ouvidos à sua época. Os muitos abismos de indiferença humana levam tempo até receber uma primeira lufada de verdade. Mas, uma vez aberta a comporta, ela — a verdade — emerge e matura, ora em jorro, ora aos pingos. E graças a uma característica tão humana quanto a indiferença: a perseverança. A busca por justiça, mesmo que tardia, responde a nossa incontornável obrigação de confrontar traumas coletivos e responsabilizar seus perpetradores.

— Toda a bondade e o heroísmo ressurgirão, para depois ser destruídos e ressurgir novamente. Não é que o mal vença (nunca vencerá), mas ele apenas não morre — escreveu John Steinbeck a um amigo no auge da Segunda Guerra.

O sonho acabou: chilenos vão às urnas neste domingo sob o signo do medo, Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O governo Boric chega enfraquecido ao fim do mandato. Sua agenda de reformas — tributária, previdenciária e trabalhista — esbarrou no Congresso conservador

Como aconteceu com as últimas eleições na Bolívia, no Equador e na Argentina, o Chile vota neste domingo polarizado entre a esquerda e a ultradireita. Jeannette Jara (Partido Comunista do Chile), apoiada pelo presidente Gabriel Boric, e José Antonio Kast (Partido Republicano, pinochetista), lideram a disputa.

Durante décadas, o país alternou presidências de esquerda e de direita moderadas, tornando-se um “case” de crescimento alto, estabilidade macroeconômica, redução da pobreza e instituições sólidas. Governos de centro-esquerda e centro-direita partilharam o mesmo “sonho chileno”: transformar o país em desenvolvido até 2020. Esse ciclo ruiu com o tsunami social de 2019, que expôs os limites do modelo: desigualdade social, serviços públicos precários, sistema de pensões privatizado e endividamento das famílias.

Tarcísio de volta ao jogo, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quanto mais pesadelo Lula tem, mais Tarcísio sonha com o Planalto em 2026

O impacto da operação policial mais letal da história não apenas conteve o embalo do presidente Lula como empurrou o governador Tarcísio de Freitas de volta para a disputa de 2026. Depois de sucessivos erros, idas e vindas e pedidos de desculpas, Tarcísio está se poupando e avaliando para onde os ventos – e as candidaturas – vão.

Desde o início, Tarcísio e seu principal mentor político, Gilberto Kassab, combinam duas táticas. A primeira é jamais admitir uma candidatura presidencial já em 2026, para evitar as chuvas, trovoadas e ataques, naturais contra quem se destaca. A outra é monitorar quais as condições de vitória, antes de qualquer decisão.

Só aumentar pena não previne o crime, por José Roberto Batochio

O Estado de S. Paulo

A isolada e abstrata exacerbação de penas para coibir a criminalidade constitui impenitente falácia há muito descartada pela Ciência Penal

Em mais um capítulo da interminável e demagógica novela do populismo penal, o Senado aprovou, em 14 de outubro, o Projeto de Lei n.º 4.809/24, que majora penas de certos crimes, em especial os cometidos com violência. Aproveitandose do sumário feito pelo site jurídico Migalhas, serão alteradas as punições para:

“Roubo qualificado: quando praticado em grupo ou contra transporte de valores, passa a ter pena de seis a doze anos de reclusão (antes, de quatro a dez anos);

Roubo com arma de fogo de uso restrito: de oito a vinte anos de prisão (atualmente, de quatro a dez, com aumento de dois terços);

Roubo com lesão corporal grave: de dez a vinte anos (antes, de sete a dezoito anos);

Constituição de milícia privada: de seis a dez anos (atualmente, de quatro a oito anos);

Receptação: de dois a seis anos (antes, de um a quatro anos);

Receptação culposa: de um a cinco anos (antes, de um mês a um ano ou multa); e

Homicídio simples: de oito a vinte anos (antes, de seis a vinte anos)”.

Engendrado na Comissão de Segurança Pública, sob a presidência do senador Flávio Bolsonaro, o projeto será agora apreciado pela Câmara dos Deputados, que tanto pode alterar como pode manter o texto. Causa preocupação que mais uma norma de viés populista passe a integrar nosso ordenamento jurídico-penal. Onde se irá parar?

Avanço com os EUA exige cautela, Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Engajamento entre os governos americano e brasileiro passou por teste de estresse

A suspensão das chamadas “tarifas recíprocas” por Donald Trump favorece o Brasil ao retirar os primeiros 10% do total de 50% de alíquota sobre os produtos brasileiros, e ao revelar a sensibilidade do presidente americano aos preços altos.

Na minha última coluna, escrevi que Trump precisaria mudar de estratégia. Isso tinha ficado claro nas derrotas dos republicanos nas eleições do dia 3, causadas pelo alto custo de vida. O decreto de sexta-feira retirou as tarifas apenas sobre produtos que os EUA não produzem o bastante, como café, frutas, suco de laranja e carne.

A medida pode reduzir a competitividade das exportações brasileiras, sujeitas a 40% de tarifas, enquanto os concorrentes ficam isentos. A Casa Branca anunciou na quinta-feira acordos comerciais com Argentina, Equador, El Salvador e Guatemala, que concorrem com o Brasil nesses produtos.

A guerra de Trump na Venezuela, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Presidente dos EUA parecerá derrotado por Maduro se não fizer nada agora, dizem analistas

Força militar reunida não basta para uma invasão, mas é similar a de outros ataques

O dito mais poderoso porta-aviões dos Estados Unidos, o Ford, chegou na semana passada ao Caribe. Em breve, estaria em posição de lançar aviões para atacar a Venezuela, assim como outros navios da frota poderiam atirar contra os venezuelanos. Na quinta, 13, Pete Hegseth, secretário (ministro) da Guerra, anunciou a operação Lança do Sul para a Nossa Pátria, por ordem de Donald Trump, com o objetivo de eliminar o "narcoterrorismo" da "vizinhança" e do hemisfério (as Américas). No dia 3 de novembro, Trump havia dito que "os dias de Maduro estão contados".

Analistas ou integrantes anônimos do governo americano entrevistados pela mídia dos EUA não veem ou não sugerem plano coerente para o amontoamento de tropas e navios no Caribe e a mobilização de tropas e unidades aéreas em território americano. Não se sabe o objetivo do movimento e os meios militares reunidos ainda não explicitam um plano.

A derrota de Derrite, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

É uma pena que não haja oposição com quadros qualificados o suficiente para melhorar PL Antifacção

A política de segurança de Bolsonaro foi liberar armas para que cada um enfrente o crime por conta própria

Os fracassos de Guilherme Derrite (PP-SP) na semana passada provaram que o bolsonarismo sabe muito menos sobre segurança pública do que gosta de pensar que sabe. Foi feio de ver, mas foi educativo.

Quando Derrite tornou-se relator do projeto de lei Antifacções proposto pelo governo Lula, a direita lhe deu duas tarefas. A primeira era equiparar as quadrilhas de traficantes de drogas a terroristas, abrindo caminho para uma intervenção de Trump no Brasil. A segunda era manter o combate ao crime sob controle dos governadores.

Deu errado, e não tinha como dar certo.

Um prefeito bossa-nova, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Sem academicismo, Zohran Mamdani oferece uma perspectiva de enraizamento avessa à conduzida pela extrema direita

Existe um fio mal percebido entre figuras como o príncipe William Zohran Mamdani, recém-eleito prefeito de Nova York. William (43 anos), herdeiro do trono inglês, visitou o Brasil como co-fundador do Prêmio Earthshot, o Oscar da sustentabilidade. No Rio e em Belém, ele aplaudiu as oportunidades de inovação climática que discerniu entre nós. Já Mamdani (34 anos) vem galvanizando o seu eleitorado feminino, jovem, gentrificados do Brooklin e imigrantes. Um toque especial de juventude pode ser o elo inicial entre as duas personalidades. Mais profunda, porém, é a moção da diversidade.

O povo de Hitler, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro esmiúça os processos que levaram à nazificação da Alemanha

População foi ao mesmo tempo vítima e participante ativa do regime

Como indivíduos e grupos que defendem ideias que a maioria de seus concidadãos considera desprezíveis ou absurdas conseguem ascender ao poder numa democracia? E como, uma vez no poder, são capazes de instalar, com pouca ou nenhuma contestação, um regime de terror?

O caso mais extremo desse processo se deu na Alemanha com o nazismo. Embora racismo e antissemitismo já fizessem parte da paisagem teutônica, a maioria da população alemã dos anos 1930, que incluía a fina flor da "intelligentsia" europeia, não era favorável a espancar judeus nas ruas e menos ainda de exterminá-los junto com outros grupos tidos como indesejáveis. Ainda assim, Hitler, que nunca escondeu suas ideias mais chocantes, se tornou chanceler num sistema democrático e se converteu em ditador com amplo apoio popular.

O duto do crime, por Carlos Drummond

CartaCapital

A cruzada para regulamentar as fintechs tem dimensão internacional

A principal instituição financeira do País, segundo os usuários, não é o Itaú, o Bradesco ou o Banco do Brasil, inconfundíveis e tradicionais, com suas logomarcas e cores próprias em cada esquina do Brasil, mas o Nubank, fintech criada em 2013 que não tem agências físicas, não capta depósitos e opera totalmente online por meio de aplicativos e da internet. É o que apurou um levantamento da empresa de pesquisas de mercado Okiar. O Nubank é preferido por 21,7% da população, o Itaú por uma parcela de 14,2% e o Bradesco, por 12%. Em outubro, seu valor de mercado, de 77,7 bilhões de dólares, superou, pela primeira vez, aquele da Petrobras, maior estatal brasileira e detentora do direito à exploração de milhões de barris de petróleo. PicPay, PagSeguro, XP Investimentos, Mercado Pago e C6 Bank são outros integrantes do que poderia ser chamado “Lado A” das fintechs. O lado B inclui o 2Go Bank e o InvBank, citados pela Polícia Federal como suspeitos de utilização pelo PCC para lavagem de dinheiro, o T10 Bank, usado em esquemas de criptomoedas em conexão com o crime organizado, e o BK Bank, braço financeiro do Primeiro Comando da Capital, entre várias instituições menos conhecidas.

Chile: Quatro contra uma, por Murilo Matias

CartaCapital

Um quarteto reacionário disputa a vaga de adversário da comunista Jeannette Jara no segundo turno das eleições

Na primeira eleição presidencial após a instituição do voto obrigatório, sob pena de multas que podem variar ao equivalente entre 100 e 500 reais, mais de 15 milhões de chilenos escolherão no domingo 16 os dois candidatos que se enfrentarão no segundo turno. A comunista Jeannette Jara­, candidata oficial, lidera as intenções de voto, mas a direita, caso se una, reúne maiores condições de eleger o substituto de Gabriel Boric. Quatro nomes direitistas disputam palmo a palmo a vaga oposicionista para enfrentar Jara: o veterano senador Jose Antonio Kast, o extremista Johannes Kaiser, ­Evelyn ­Matthei e Franco Parisi. “Milhões que irão votar pela primeira vez não possuem cultura política ou ideologia, podendo escolher no último momento, com grande influência das redes sociais. São eleitores que podem optar por Jara, Kast ou Kaiser sem maiores contradições”, afirma o sociólogo Ivan Carrasco Mora.

Poesia | A arte de ser feliz, de Cecília Meireles

 

Música | Samba pretexto, por Roberto Riberti