- O Globo
Em recente conversa, o ex-presidente Lula disse a um interlocutor o seguinte: "Vamos ter que passar dois anos comendo merda, para depois tentar sair da crise. Mas nesse período tem que fazer política, e a Dilma não faz".
Confirmado o diagnóstico com a recente pesquisa Datafolha mostrando a popularidade da presidente Dilma no chão, Lula resolveu trazer para si a tarefa de "fazer política" , e a primeira providência foi liberar a informação de que, sim, será candidato a presidente da República em 2018. Menos de dois meses do segundo mandato de Dilma, e a candidatura de Lula já está na rua para alimentar os militantes com uma expectativa de poder que a cada dia fica mais escassa diante das diversas crises que envolvem o governo , da economia à política. Lula em campanha, viajando pelo país revivendo a Caravana da Cidadania dos velhos tempos , é uma barre ir a política formidável a movimentos de descontentamento na sociedade e a manobras políticas que possam levar ao impeachment da presidente Dilma.
Com o decorrer do processo , veremos se a insatisfação popular crescerá a ponto de in viabilizar a campanha de rua de Lula ou se ele ter á força suficiente para neutralizar as previsíveis manifestações contrárias ao governo , nesses dois anos em que os governistas terão que "comer merda ". Assim como fez no mensalão, Lula começa sua campanha sobre o petrolão pregando "humildade e coragem " no discurso em Belo Horizonte no aniversário de 35 anos do PT . E, assim como em 2005, ele fala em re construir o partido , voltar às suas origens . Na célebre reunião na Granja do Torto em que ele se disse "traído", Lula lembrou a fundação do PT em 1980: "(...) no início da re democratização decidi criar um partido novo que viesse para mudar as práticas políticas , moralizá-las e tornar cada vez mais limpa a disputa eleitoral no nosso país. (...) Quero dizer a vocês , com toda a franqueza , eu me sinto traído.
Traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento . Estou indignado pelas revelações que aparecem a cada dia, e que chocam o país. (...) eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas ". Pois bem. Em 2015, Lula assume a mesma postura diante do petrolão: "Temos a oportunidade histórica de elaborar um novo Manifesto do PT , capaz de traduzir nossos compromissos para os dias de hoje e para os próximos 35 anos ".
Ele propôs "o desafio " de resgatar os ideais dos anos de fundação do partido , em 1980. "O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la . (...) O PT nasceu para mudar". Mais uma vez Lula falou em traição: "Se alguém tiver traído a nossa confiança, que seja julgado e punido , dentro da lei, porque o PT , ao contrário dos nossos adversários , não compactua com a impunidade ". Para Lula , o problema do PT é que ele "se tornou um partido igual aos outros. Deixou de ser um partido das bases para se tornar um partido de gabinetes . Há muito mais preocupação em vencer eleições , em manter e re produzir mandatos, do que em vitalizar o partido ". Lula citou a "militância paga" , sempre criticado pelo PT na "política tradicional". "(...) É nesse ambiente que alguns, individualmente , cometem desvios que nos envergonham diante da sociedade e perante a história do PT . (...) Penso que esse processo chegou ao limite no PT", decretou Lula .
Estaria tudo certo se, a partir do mensalão, Lula tivesse comandado uma refundação do PT, e o partido mudasse de atitudes. Como se vê agora no petrolão, enquanto Lula discursava quase chorando no mensalão, estava em curso um escândalo muito maior dentro da Petrobras, e sabe-se lá onde mais. No intervalo entre o julgamento do mensalão, com a condenação das principais lideranças petistas, e o surgimento do petrolão , Lula mudou o discurso e chegou a afirmar que o mensalão nunca existir a. Prometeu até mesmo se dedicar a demonstrar ao povo brasileiro que tudo não passou de uma farsa , coisa que nunca fez. Agora, ele encurtou o caminho: ao mesmo tempo em que fala em reencontrar as raízes fundador as do PT , Lula sugere que o caso do petrolão está sendo utilizado politicamente para criminalizar seu partido . Essa atitude dúbia faz parte do seu show, com o qual pretende neutralizar os efeitos das crises política e econômica que envolvem o segundo mandato de Dilma.
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