Ex-secretário-geral no governo FHC, Graeff diz que troca em governos é vacina contra corrupção
Roldão Arruda
O cientista político Eduardo Graeff, tucano histórico, vem se destacando em seu meio por não caminhar sempre alinhado com o senso comum partidário. Em uma palestra sobre corrupção, proferida na noite de quinta-feira, em São Paulo, o ex-secretário-geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso defendeu a alternância do poder, inclusive em São Paulo, governado há quase 20 anos por seu partido, o PSDB.
O título da palestra - para estudantes das Faculdades Integradas Rio Branco - era Corrupção: de Sarney a Lula. Após apresentar um quadro dos entraves que ainda persistem na tarefa de combate à corrupção, ele também apresentou fatores que favorecem essa peleja. "Uma das coisas básicas da democracia é a alternância do poder", assinalou.
Embora tivesse a possibilidade de continuar falando do assunto de modo genérico, como princípio democrático, ele fez questão de localizar o PSDB. "Isso que vou dizer serve, para começar, para o meu partido, em São Paulo: quando você fica muitos anos no governo, a tendência é ir relaxando, não só do ponto de vista da criatividade, das ideias novas, mas também do ponto de vista dos procedimentos. A alternância é uma coisa básica para conter a corrupção."
O PSDB vai completar 20 anos no poder ao final do mandato de Geraldo Alckmin, em 2014. Para Graeff, se o governante não tem no horizonte a expectativa da alternância, tende a se comportar de maneira menos responsável.
O ex-secretário-geral da Presidência também criticou a bandeira do voto distrital, quase consensual no meio tucano. A ideia de que esse tipo de estrutura eleitoral funcione como mais um instrumento de combate à corrupção não encontra correspondência na realidade, na avaliação de Graeff. Como exemplo, o tucano costuma citar a Índia, país emergente como o Brasil, no qual o voto distrital convive historicamente com alto índice de corrupção.
Ataque. O tucano também mostrou ceticismo quanto à tese de que o financiamento público de campanha, defendida sobretudo por petistas, dá mais transparência ao processo eleitoral. "Os sindicatos têm financiamento público e problemas sérios com a falta de transparência", lembrou. "O financiamento público de campanha significa estatizar o processo eleitoral."
Após a palestra, ao ser indagado sobre as constantes negociações e concessões a que a presidente Dilma Rousseff tem sido submetida para manter unida a base aliada, ele fez a seguinte observação: "A principal dificuldade da Dilma hoje não é com a base, mas com o partido dela. O Fernando Henrique também fez composições. A vantagem dele foi não ter um partido como o PT para atender e alimentar. Ao alimentá-lo, a presidente aguça o apetite dos outros."
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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