sábado, 24 de março de 2012

Transposição do São Francisco é mais um desastre administrativo do governo federal

Deputados vistoriaram obra da transposição em Mauriti, no Ceará

Por: Roberto Emerich

Agricultor familiar perdeu o pouco que tinha em pró do empreendimento. Segundo José Almir, a indenização paga pelo governo federal, pela desapropriação de suas terras, não compensou os danos causados

Mauriti (CE) - O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), e o deputado federal Simplício Araujo (PPS-MA) visitaram, nesta sexta-feira (23), a obra de transposição do rio São Francisco em Mauriti, no Ceará. Os parlamentares acompanharam a comitiva formada pelos partidos da oposição (PPS. PSDB e DEM) para checar paralisações no empreendimento. Bueno afirmou que o descaso observado com o projeto apenas confirma a incompetência gerencial do governo petista.

Ele lembrou que a transposição do rio São Francisco é uma obra de extrema importância econômica e social para o povo nordestino e criticou o andamento das construções do canal que já sofre com atrasos de pelo menos oito anos. Segundo o parlamentar, o governo federal fez muitas promessas, mas até o momento não conseguiu cumpri-las.

“Nós estamos aqui cumprindo com o nosso dever como oposição em fiscalizar. Queremos mandar uma mensagem para o governo federal para que inaugure a obra que deveria ter saído há três anos atrás. Infelizmente o que vemos aqui, mais uma vez, é a incompetência do governo petista sendo paga pelo povo brasileiro”, afirmou.

O líder do partido ressaltou que a obra da transposição, além de atrasada, já consumiu quase o dobro daquilo que havia sido divulgado inicialmente. De acordo com Bueno, o custo inicial era de quatro bilhões e seiscentos milhões de reais, valor hoje que já alcança a cifra de oito bilhões de reais. “Cadê a boa aplicação do dinheiro público? Com essa diferença poderíamos construir cerca de 70 mil casas, comprar 44 mil ambulâncias, 23 mil postos de saúde ou sete mil hospitais. Veja como é o tamanho do desperdício. Eles estão simplesmente jogando o nosso dinheiro pela janela”, disse.

Deputado nordestino, Simplício Araújo afirmou que a obra, até o momento, trouxe apenas expectativas para os moradores do sertão brasileiro. O parlamentar destacou que a visita dos congressistas ao local não pode ser compreendida como um protesto contrário a transposição, mas sim uma forma de pressionar pela sua conclusão. Para ele, o empreendimento é importante, pois beneficiará e trará conforto para diversas comunidades.

“Nós não encontramos uma obra e sim uma grande cicatriz no meio do sertão. Ela atrapalha e dificulta a vida destas pessoas. A obra destruiu a rotina desta população. Bilhões e bilhões de reais escorrendo pelos ralos. Não somo contra a transposição e sim a favor de um beneficio tão importante para todas essas pessoas”, defendeu.

Pernambucano, o líder tucano, Bruno Araújo, ressaltou que em seu estado o quadro é igualmente desolador. “Já foi mostrado em jornais nacionais as placas se soltando, o desamparo da população e comerciantes quebrados no trecho próximo a Floresta (PE). O que vimos aqui hoje é prenúncio de que vai ocorrer o mesmo no Cariri: ou seja, uma obra mal feita, abandonada e que precisará ser refeita. Isso explica o salto de mais de 80% do preço inicial e a prorrogação da sua conclusão para uma data que acho mais uma vez enganosa”, disse.

Os verdadeiros prejudicados

Os moradores próximos as obras conhecem bem os problemas causados por ela. Seu José Almir é prova das dificuldades enfrentadas por conta do projeto. O agricultor familiar perdeu o pouco que tinha em pró do empreendimento. Segundo ele, a indenização paga pelo governo federal, pela desapropriação de suas terras, não compensou os danos causados. Almir, que nasceu e criou todos os filhos na região, hoje mora em um lote com menos de 500 metros quadrados.

Ele ressaltou que a vida antes das obras não era fácil mais garantia o sustento de toda a família. Hoje, ele critica o projeto e diz que não consegue mais produzir como antes. “Era pouco, mas a plantação garantia a nossa sobrevivência. Agora não tenho mais como plantar. O restinho de terra que tenho serve apenas para a minha horta e para a plantação de algumas plantas de mandioca”, desabafou.

Almir lembrou que antes da desapropriação estava prestes de fazer a colheita de 60 pés de caju. “Eu recebi 26 mil reais pelas minhas terras. Tudo bem que fomos pagos, mas não poderiam esperar apenas um pouquinho. Os pés estavam carregados e prestes a serem colhidos. Não tiveram dó e derrubaram tudo. Agora está ai como vocês podem ver. Tudo parado, um verdadeiro descaso com o dinheiro público e nós passando dificuldades. Se eu fosse o presidente da República não gastaria com essa obra. Não tenho tanta certeza se a transposição garantirá melhorias para nós”, confessou emocionado.

O vizinho de Almir, Altacir Fortunato, não sabe se estará vivo para ver a água correndo pelos canais. Ele, que é responsável pelo poço que abastece a comunidade com água, afirmou que os responsáveis pela obra ameaçam tirar a única fonte de água potável da região. Diferentemente de Almir, ele espera que a transposição possa, um dia, beneficiar o pequeno agricultor.

“Essa obra é bem vinda para o Nordeste. Espero que ela possa beneficiar nós, pequenos agricultores. Agora, pelas previsões que nos chegaram, parece que vai demorar um pouco mais. Pode ser que os mais novos aproveitem um dia dessas águas que passarão por aqui, mas eu, com 61 anos, talvez não consiga ver essa conclusão, não sei se estarei vivo até lá. Como um bom nordestino não desejo as coisas apenas para mim, mas também para os outros. Posso não ver, mas espero que minha família talvez um dia possa. Vamos ver”, disse.

FONTE: PORTAL DO PPS

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