O Globo
Confiança é uma coisa, competência é outra, e
prevalece massagem dos egos na mudança de Dino para Lewandowski
Ricardo
Lewandowski assumirá um Ministério da Justiça transformado em algo
parecido com a mal falada Codevasf.
Pela primeira vez na história dessa pasta ocupada por Diogo Feijó (1831-1832),
por Bernardo Pereira de Vasconcelos (1837-1839) e Tancredo
Neves (1953-1954) discutiu-se o preenchimento de cargos no seu segundo
escalão a partir de critérios partidários ou regionais.
O PT quer
cadeiras ocupadas pelo PSB e seria desmontada a "República do
Maranhão" criada por Flávio Dino.
Nenhum dos prováveis degolados foi classificado como incompetente e nenhum dos
prováveis sucessores é louvado pela competência em questões de segurança
pública. Trata-se apenas de discutir a filiação partidária ou a origem
regional. Pior: prevalece nas aspirações a massagem dos egos de candidatos
interessados em melhorar seus contatos e polir seus currículos.
Na campanha eleitoral, quando o tema da segurança pública teve a importância que merecia, Lula prometeu dividir o ministério. Na cadeira, atendeu às ponderações de Flávio Dino e Lewandowski, desistindo da ideia.
Enquanto isso, o Brasil vive numa tempestade
perfeita. O crime organizado cresceu e tem 53 quadrilhas. Na outra ponta,
aumentou a letalidade policial sobre os pobres inclusive em áreas governadas
pelo PT.
Como o Ministério
da Justiça tem a maior quantidade de advogados por metro quadrado, o
problema da segurança pública é enfrentado com planos e regras que servem para
nada. A passagem de Flávio Dino pela pasta confirmou essa anomalia.
Lewandowski anunciou que o combate ao crime
organizado será a prioridade de sua gestão. O que ele fará com essa prioridade,
só Oxalá sabe. É de justiça reconhecer que o comando da Polícia
Federal ficou fora do loteamento. Seu atual diretor, Andrei Rodrigues,
deverá continuar no cargo.
Lewandowski quer preencher os cargos de
confiança com pessoas da sua confiança. É uma ideia que conforta o ministro,
mas tem pouca serventia. Confiança é uma coisa, competência é outra.
A segurança pública dos Estados
Unidos deveu a J. Edgar Hoover a criação do Federal Bureau of
Investigation. Ele ficou no cargo de 1935 até sua morte, em 1972. Sujeito
detestável, passou por seis presidentes. Pelo menos três não confiavam nele.
Robert Kennedy, seu superior hierárquico, achava que era maluco. Lyndon Johnson
manteve-o no cargo com uma explicação simples: "É melhor tê-lo urinando
para fora do que tê-lo urinando para dentro".
Implacável com inimigos e bandidos, Hoover
era um competente puxa-saco. Vizinho de Johnson por cerca de 20 anos, deu-lhe
de presente um cachorrinho e, quando o bicho morreu, mandou-lhe outro.
Hoover trabalhou em duas direções. Organizou
uma polícia federal técnica, disciplinada e praticamente incorruptível. Além
disso, federalizou crimes que eram tolerados nas jurisdições estaduais.
Policiais e juízes corruptos temiam seus agentes.
Os sistemas não se comunicam
Vários especialistas em segurança pública
queixam-se porque os diversos bancos de dados não se comunicam. Antes de
comprar novos equipamentos, seria boa ideia chamar quem comprou as traquitanas
atuais. O fornecedor sabia que seu sistema não falaria com o outro.
Guarda Nacional
Pelo andar da carruagem, há uma pequena
possibilidade de que reapareça a ideia de se criar uma nova repartição
policial. Seria a criação de uma Guarda Nacional. Depois do 8
janeiro de 2023, essa ideia circulou no comissariado petista e, aos poucos,
foi esquecida.
A quem interessar possa:
As instituições militares detestam a Guarda
Nacional desde o fim do século 19. No início de novembro de 1889, falava-se na
transferência de batalhões sediados no Rio e no fortalecimento da Guarda. Na
noite do dia 14 começou um levante e no dia 15 estava proclamada a República.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acredita ter percebido
um padrão na defesa da moralidade pública e na sua vulnerabilidade.
De uma maneira geral, o cidadão começa a
delinquir no ano Zero. No ano Um, o doutor é exposto, mas nega os malfeitos. No
ano Dois, ele começa a ser investigado. No ano Cinco, se a culpa é
estabelecida, ele é condenado e vai para a cadeia, condenado a duras penas. Na
pior das hipóteses, por volta do ano Dez é libertado por algum benefício,
revisão ou indulto.
Livre, caso ele circule no andar de cima e
disponha de bons advogados, no ano Quinze consegue na Justiça a anulação das
penas a que foi condenado por motivos que nada têm a ver com a essência das
malfeitorias.
As denúncias de irregularidades em quatro
ministérios de hoje estão no ano Um.
Esse padrão só vale para o andar de cima, no
de baixo a vítima fica na cadeia mesmo sem culpa formada.
Madame Natasha com Eremildo
Madame Natasha tem horror a Eremildo porque
ele é um cretino confesso, mas associou-se a ele e concedeu uma de suas bolsas
de estudo ao secretário-geral da Presidência, Márcio
Macêdo, que atribuiu a um "erro formal" a viagem de três de seus
assessores para festas em Sergipe, com passagens e diárias pagas pela Viúva.
Nas suas palavras: "Houve um erro formal
do meu gabinete, erro de procedimento, e isso nunca mais se repetirá.
"Natasha acredita que o doutor falou
demais. Não precisava enfiar o "formal" na confissão. O erro seria
formal se a trinca tivesse pedido passagens para Aracaju e tivessem sido
mandados para Roraima.
Festa nas bancas
Os repórteres Jéssica Sant’Ana e Marcelo
Ribeiro revelaram que o governo criará 19 grupos de trabalho para regulamentar
a reforma
tributária. Além disso, a nova ordem exigirá uma penca de leis
complementares para esclarecer 71 pontos cegos. Nos estados os subgrupos serão
21. Estimando-se que cada grupo tenha cinco pessoas, serão 200 os burocratas
convocados.
É possível que a reforma simplifique o
sistema tributário nacional, mas até lá, a balbúrdia fará a alegria de
burocratas, parlamentares e advogados.
A estrela de Camilo
A estrela do ministro da Educação, Camilo
Santana, brilhou quando ele governou o Ceará. Com um ano no Ministério da
Educação, começou a piscar.
Ele entrou com o pé esquerdo. Um dos
primeiros anúncios do MEC sob sua gestão foi a suspensão dos planos para se
aplicar eletronicamente as provas do Enem.
Continuar aplicando as provas de papel pode
ser conveniente, mas fechar a porta para a prova eletrônica é exercitar a opção
preferencial pelo atraso.
Eleição municipal
Às vezes as eleições
municipais soltam sinais de fumaça que prenunciam os dilemas da
sucessão presidencial.
Em 2020, a eleição municipal sinalizou o
esgotamento da maré que em 2018 havia alimentado o bolsonarismo.
Em 2018, a jornalista Joice
Hasselmann elegeu-se deputada federal com mais de um milhão de
votos. Dois anos depois, disputou a Prefeitura de São Paulo e saiu do jogo com
98,3 mil votos.
O ex-capitão e seu entorno desprezaram o
sinal.
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