domingo, 13 de julho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

O destino nos permite estar aqui, juntos, para dizer a cada um dos brasileiros, na primeira semana da campanha eleitoral, que vamos resgatar o sonho de Tancredo e de milhões de brasileiros, de resgatar a capacidade de fazer o Brasil crescer.

Candidato à Presidência pela Coligação Muda Brasil, senador Aécio Neves, no Espírito Santo

O eco das ruas na renovação da Câmara

- Correio Braziliense

Sete em cada 10 deputados federais vão tentar permanecer no Congresso Nacional pelos próximos quatro anos. A ambição da maioria dos parlamentares, entretanto, deve esbarrar no desejo dos milhões de pessoas que foram às ruas em 2013 para reivindicar, entre outros temas, a renovação na política. Na análise de especialistas, os protestos do ano passado ecoarão nas urnas em outubro. A projeção inicial do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) é de que a mudança de nomes na Câmara bata recorde em comparação às últimas quatro eleições e supere a taxa de 50%.

De acordo com o Diap, 77,97% dos deputados federais serão candidatos à reeleição este ano. O percentual é praticamente o mesmo de 2010, quando 79% dos parlamentares tentaram se reeleger na Câmara. A renovação costuma ser inversamente proporcional à quantidade de deputados que tentam a reeleição dos mandatos. Desta vez, no entanto, a situação tende a ser diferente, segundo levantamentos do instituto.

"Acredito que o índice de renovação será de, no mínimo, 50%, algo atípico. Estaremos próximos dos percentuais verificados em 1990 e em 1994", diz Antônio Augusto Queiroz, assessor parlamentar e analista político do Diap. Ele explica que o prognóstico foi feito considerando o ambiente político, o custo de campanha e os históricos anteriores.

Para Queiroz, a tendência é de que a renovação seja superior às outras reeleições por causa de dois fatores: o sentimento de necessidade de mudança e a percepção negativa que se tem dos parlamentares. Na avaliação dele, os escândalos políticos recentes também podem influenciar a chegada de novas caras ao Congresso. Um exemplo é o caso de 2006, quando 86% dos deputados tentaram se reeleger, mas a renovação ficou em torno de 47%. "Teve o fenômeno do mensalão, que desgastou os parlamentares." Com o julgamento da Ação Penal 470, entre 2012 e este ano, o episódio voltou à tona e pode ter reflexos eleitorais, acredita o especialista, especialmente no momento em que o país ainda tem na memória a onda de protestos deflagrada em junho passado. "As manifestações tinham como motivação principal a má qualidade dos serviços públicos, a rejeição a atos de corrupção e a exigência de prestação de contas dos parlamentares", ressalta.

O cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) Cesar Romero Jacob acredita que a renovação no Congresso deve ser alta este ano, mas ele não atrela o fenômeno à insatisfação da sociedade.

O problema, de acordo com Jacob, é a fragmentação no sistema eleitoral. "Estamos em uma situação em que ninguém é de ninguém. A convenção nacional diz uma coisa, que não necessariamente a estadual respeita. São 30 partidos, mais de 90 coalizões com correntes políticas diversas e é difícil saber quem representa o quê atualmente", avalia. Essa situação, segundo ele, já se via em 2006 e em 2010, mas não de forma tão profunda. Ele acredita que esse cenário, aliado ao desejo de mudança que paira sobre a população, levará a um índice alto de renovação. "Há um desejo de mudança, mas não está claro quem representa a mudança", afirma. Jacob ressalta ainda que uma renovação não necessariamente significa melhoria do sistema.

Queiroz, por sua vez, aponta que falta estímulo para o aparecimento de candidatos comprometidos com a função parlamentar. "Hoje, uma pessoa que tem a vida organizada fora do parlamento não tem grandes estímulos para disputar um mandato, porque tem três custos que desaconselham a pessoa a concorrer. O primeiro é o custo de campanha, muito alto. Segundo, é o custo de imagem, já que todos olham o parlamentar com desconfiança, como alguém que só quer se dar bem. O terceiro é o desgaste do exercício do mandato, que é muito grande."

Colaborou Amanda Almeida

Aécio diz que erário agradece não criação da Futebrás

José Roberto Castro - Agência Estado

Depois de criticar a intenção do governo de intervir no futebol e receber resposta da presidente Dilma Rousseff, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, ironizou as declarações da adversária por meio de sua página no Facebook. Segundo Aécio, a notícia de que o governo não pretende criar uma estatal para cuidar do futebol é boa para os cofres públicos, mas não para os "companheiros" de Dilma.

"A presidente Dilma nos informou hoje, pelo Twitter, que não vai criar a ''Futebras''. Talvez isso entristeça alguns de seus companheiros, mas traz enorme alívio para milhões de brasileiros. Afinal, seria a 14ª estatal criada pelo governo do PT, a sétima só no seu governo. Os cofres públicos agradecem!", ironizou Aécio.

A discussão teve início ontem quando Aécio acusou o governo de oportunismo ao anunciar a intenção de uma maior interferência estatal no futebol. Hoje pela manhã, Dilma rebateu o tucano em seu Twitter dizendo que "os que queriam transformar a Petrobras em Petrobrax, desvirtuam, agora, nossa posição de apoiar a renovação do nosso futebol". Quando a presidente fala em Petrobrax, se refere a um processo iniciado no governo Fernando Henrique Cardoso para mudar o nome da estatal brasileira de petróleo.

Aécio e Campos criticam Dilma e afirmam que mexer no futebol agora é oportunismo

• Tucano diz que governo quer criar ‘Futebrás’ com proposta de reforma da modalidade e explora fama da presidente de intervencionista; já candidato do PSB questiona fato de discussão ser colocada pelo Palácio do Planalto durante a campanha eleitoral

Luciana Nunes Leal, Tânia Monteiro e Anna Ruth Dantas - O Estado de S. Paulo

A discussão sobre o futuro do futebol brasileiro após a derrota acachapante para a Alemanha na terça-feira virou tema central não só das mesas-redondas da TV mas também da campanha eleitoral. No sábado, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff propor mudanças estruturais no esporte e seu ministro Aldo Rebelo falar em “intervenção indireta” na organização das competições e na gestão dos clubes, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, acusou o governo de querer criar uma “Futebrás”. Já Eduardo Campos, candidato do PSB, sugeriu que os adversários querem ser presidentes da CBF, não do País.

Aécio usou as redes sociais para comentar as propostas de Dilma e seu ministro do Esporte. “O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo. Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo. E nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O País não precisa da criação de uma ‘Futebrás’. Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores”, disse Aécio, tentando explorar a fama de intervencionista do governo federal.

Em agenda de campanha em Natal, no Rio Grande do Norte, Campos também tratou do tema. “O debate de conteúdo é que precisa ser feito, um debate do bom senso. Pelo visto estão querendo se candidatar a presidente da CBF: a Dilma ou o Aécio”, afirmou a jornalistas. “(A reforma no futebol) precisa do envolvimento e escuta da sociedade sobre uma lei de responsabilidade nos esportes de uma maneira geral, precisa fazer isso sem estar contaminado pelo ambiente eleitoral”, disse.
O deputado tucano Otávio Leite (RJ) é relator da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que propõe o parcelamento das dívidas dos clubes em troca de modernização da gestão e punições para falta de transparência nas contas e atrasos nos pagamentos. Esse é um dos itens da “reforma” que o governo diz querer ver avançar.

Bola levantada. A questão sobre a “reforma” no futebol foi levantada novamente no mesmo dia da goleada sofrida pela seleção pelo ex-jogador Romário, deputado federal e candidato do PSB ao Senado pelo Rio. Na terça-feira, ele escreveu um longo desabafo depois da derrota brasileira, com críticas diretas a Dilma. “Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira (...), nossos jogadores (...). Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do governo federal no nosso futebol”, escreveu Romário, lembrando que em 2012 defendeu a instalação de uma CPI da CBF.

Na quinta-feira foi a vez de Dilma tratar do assunto em entrevista à emissora americana CNN. A presidente afirmou que era preciso uma “renovação” na organização do futebol brasileiro, destacando o fato de que muitos jogadores deixam muito cedo o País, fenômeno que reduz o público nos estádios.
Aldo, por sua vez, afirmou que era possível “fazer algo com a CBF”, a poderosa Confederação Brasileira de Futebol. Citou uma “intervenção indireta” na organização do esporte e anunciou as três linhas de atuação do governo: mudar o calendário, tentar criar travas para evitar a fuga de talentos abaixo de 19 anos e condicionar a renegociação das dívidas dos clubes a uma melhor gestão financeira.

Sem atritos. Ontem, o ministro voltou ao assunto, tentando esclarecer que a “intervenção” a que se referiu no dia anterior não era na CBF. “O governo não vai fazer nenhuma intervenção nas entidades administradoras do esporte”, disse Aldo, tentando desfazer qualquer mal-estar com a CBF. “O governo pretende recuperar a capacidade de fiscalizar o que há de interesse público e de interesse nacional na administração do esporte”, disse ele, após audiência com Dilma e com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach.

São Paulo já mistura Alckmin e Campos

• Campanha no maior colégio eleitoral do País terá palanques informais e apoios ocultos; direção estadual do PSB prepara 40 comitês 'Edualdos'

Ricardo Chapola, Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo

A disputa no maior colégio eleitoral do País se transformou num jogo de estratégia que envolve palanques informais e apoios ocultos. Do lado do favorito governador Geraldo Alckmin (PSDB), o PSB planeja montar 40 comitês "Edualdo" - chapa Eduardo Campos presidente e Geraldo Alckmin governador - em busca dos votos do PSDB. Já o Palácio do Planalto, que oficialmente está com o petista Alexandre Padilha, trabalha, sem alarde, pelo peemedebista Paulo Skaf.

"Aqui temos uma aliança em que quem é do PSB vai apoiar o Campos e quem é do PSDB, como eu, vai apoiar Aécio Neves (candidato tucano à Presidência)", disse Alckmin no feriado de 9 de julho. O governador disputa mais um mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes.

Candidato a vice na chapa de Alckmin, o deputado Márcio França (PSB) é o principal articulador da dobradinha, considerada "estratégica" para buscar eleitores tradicionais do PSDB. Por isso, o PSB coordenará e bancará o custo das estruturas "Edualdo" - pelo menos 23 comitês já estão com imóvel alugado -, bem como do material de campanha. Adesivos (veja imagem à direita), faixas e camisetas começam a ser produzidos essa semana.

Para o PSDB nacional, a composição paulista é um problema, pois tem potencial de tirar votos de Aécio em São Paulo. A chapa é uma reconfiguração, com gosto de "revanche", das dobradinhas "Lulécio" e "Dilmasia", das campanhas de 2006 e 2010, como ficou conhecido o voto casado em Minas nos candidatos à Presidência do PT (que enfrentavam dois paulistas, Alckmin e José Serra) e nos candidatos tucanos ao governo local.

"Quando o Aécio, e depois o (ex-governador Antonio) Anastasia, garantiu em Minas, com uma bela faca nas costas do Alckmin e do Serra, o 'Dilmasia' e o 'Lulécio', ele não se deu conta das rupturas partidárias que teria que enfrentar depois", diz Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp. Para ele, esse fator oferece riscos para o desempenho do tucano em São Paulo. Tanto Campos como Aécio consideram que vencer bem no Estado (onde estão 22% dos votos do País) pode ser decisivo para definir se haverá 2.º turno - risco que o PT da presidente Dilma Rousseff quer evitar.

Tabuleiro. Na batalha pelos 32 milhões de votos do eleitorado paulista, PT, PSDB e PSB transformarão o território estadual em um tabuleiro de War - jogo de estratégia e sorte de 1972 que simula a guerra entre continentes pelo domínio do mundo.

O apoio velado de Alckmin não é problema para o PSB. O que mais interessa a Campos é a hegemonia dos tucanos em São Paulo. O PSDB governa o Estado desde 1995, e elegeu o maior número de prefeitos em 2012 (174, contra 89 do PT e 30 do PSB).

Com o Estado dividido em 15 mesorregiões, Dilma venceu José Serra, candidato do PSDB em 2010, apenas na área que engloba a Região Metropolitana. Pelas pesquisas, se dependesse de São Paulo, Aécio e Campos derrotariam Dilma num 2.º turno, se a eleição fosse hoje.

Campos atacará ainda em duas frentes na batalha pelo voto paulista: buscar o eleitor que votou em sua vice, Marina Silva, em 2010, e os votos anti-Dilma - concentrados nos pequenos e médios municípios.

Para Roberto Romano, a união Campos e Marina é de "risco". "A densidade do Campos chama-se Marina Silva, que é um voto, um apoio e uma aliança incertos. É mais um incômodo amigo do que um companheiro de combate."

Em busca do eleitor anti-Dilma - a presidente tem 23% de avaliação positiva de seu governo entre paulistas -, Campos usará o discurso do voto útil. "O eleitor paulista é mais pragmático. Vota para derrotar quem ele não quer. Como em 2010 a vitória de Dilma foi por 12 milhões de votos, 100% deles vindos do Norte e Nordeste, se o eleitor paulista se convencer de que o Eduardo tem melhor chance nesses Estados, ele buscará o voto útil", diz França. / Colaboraram Isadora Peron e Daniel Bramatti

É cedo para saber se vexame da seleção afetará a eleição

• Antonio Lavareda - Estrategista de FHC diz que derrota para a França na Copa de 1998 não influenciou a campanha, mas que agora é diferente

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Há 16 anos, quando a seleção brasileira passou pelo vexame dos 3 a 0 na final da Copa da França, vencida pela anfitriã, o sociólogo Antonio Lavareda cuidava das pesquisas e da estratégia da campanha pela reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

A "profunda tristeza" que tomou conta dos brasileiros naquela ocasião, porém, não foi motivo de preocupação na campanha tucana, diz.

Na época, a discussão que pautava a agenda política era se FHC venceria no primeiro ou no segundo turno. Acabou ganhando no primeiro, sem qualquer sinal de influência do futebol no resultado.

Apesar dessa experiência, Lavareda acha errado comparar 1998 com 2014. Para ele, que não está vinculado com qualquer candidatura hoje, a derrota para a Alemanha não produziu só tristeza, mas indignação e revolta.

"Sentimentos diferentes repercutem de formas diferentes", diz. Não quer dizer que a presidente Dilma Rousseff será necessariamente prejudicada, ressalva. Na sua opinião, é cedo ainda para conclusões consistentes.

Folha - O sr. fazia pesquisas para a campanha de FHC em 1998. A derrota para a França na Copa afetou alguma coisa?

Antonio Lavareda - Acho que algumas análises partem de uma premissa errada, que é a comparação de coisas diferentes. A situação de 1998 não tem nada a ver com a de hoje. Naquele ano, o Brasil perdeu para a França, foi um vexame, provocou tristeza profunda. Mas a proporção da derrota não é comparável.

Qual é a diferença?

O Brasil agora organizou a Copa do Mundo, foi anfitrião, havia um desejo generalizado de que recuperasse o trauma de 1950. E a derrota agora ocorreu de uma forma inimaginável. Então, não produziu só tristeza, mas indignação e revolta com esse fiasco. São sentimentos diferentes. E sentimentos diferentes repercutem de formas diferentes.

Como irá repercutir?

É muito difícil fazer uma previsão, dizer se esse fiasco vai afetar a eleição. Agora, é ingênuo comparar com situações anteriores diferentes e extrair conclusões. Só 1950 era uma situação razoavelmente assemelhada: o Brasil hospedando a Copa, visto como favorito, com vitórias fantásticas e, na final, perdendo por 2 a 1. Mesmo assim, a população, segundo registros da época, não reagiu com indignação e revolta, mas com tristeza profunda. E, obviamente, são sociedades bem diferentes do ponto de vista econômico, demográfico, social, cultural. Em 1950 também tinha eleição. E ganhou o candidato que havia sido deposto cinco anos antes, Getúlio Vargas. Ele estava no exílio [em São Borja]. Não era o candidato oficial.

Em 1998, a derrota para a França chegou a preocupar o núcleo da campanha de FHC?

Não. Não virou uma preocupação. Óbvio que o bom humor ou o mau humor geral ajudam ou prejudicam o incumbente. Mas muito circunstancialmente.

A presidente Dilma Rousseff não se escondeu após a derrota. Ela tuitou, depois deu entrevistas. Que tal?

Ela se posicionou rapidamente do lado da reformulação do futebol brasileiro. É uma saída meio improvisada, obviamente. Uma primeira reação que parece atabalhoada. Mas indica que ela e o seu marketing fizeram uma interpretação correta do sentimento que as pessoas tiveram. Eu também não estou dizendo que isso vai eleger ou deixar de eleger Dilma. Só estou refutando a possibilidade de chegar rapidamente à conclusão de que esta Copa não vai ter influência alguma. Ainda é cedo para saber. E não só na eleição, mas no inconsciente coletivo brasileiro. Na última terça, o Brasil perdeu um pouco da sua característica metafórica de ser o país do futebol.

Apesar das previsões catastróficas, a organização foi bem-sucedida. Turistas foram recebidos, não teve caos, protestos nem violência policial. Conta?

Houve a Copa, sim, e a euforia com os jogos substituiu a reflexão coletiva sobre o custo dos estádios, obras inacabadas e o legado insuficiente. Com o fiasco da derrota, é provável que, aos poucos, volte à tona esse tipo de discussão. Na campanha, ninguém vai discutir se o Brasil perdeu o jogo. O que vai ter espaço é essa discussão sobre investimento, infraestrutura, obras. Se o Brasil fosse campeão, toda essa discussão estaria completamente superada. A oposição não teria como colocar essas coisas. Agora, é inevitável que coloque.

Ex-ministro de Lula é pivô de crise no comitê de Dilma

• Franklin Martins ameaça deixar coordenação após embate com assessores

• Coordenador havia publicado crítica à CBF e se recusou a retirá-la do ar; petistas dizem que isso criou 'tensão'

Andréia Sadi, Valdo Cruz - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O comitê da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff enfrenta sua primeira crise interna na largada oficial da disputa eleitoral e corre o risco de perder um de seus coordenadores.

Ex-ministro do governo Lula, Franklin Martins, responsável pelo site da campanha --o "Muda Mais"--, entrou em atrito com interlocutores da presidente por causa de um post sobre a CBF, publicado depois do que foi classificado como "terrível eliminação da seleção".

Irritado, ele chegou a ameaçar deixar a campanha depois que integrantes do comitê ligados a Dilma pediram que fosse retirado o texto que apontava a CBF como responsável pela desorganização do futebol. "Impera na CBF um sistema que em nada lembra uma instituição democrática e transparente. É preciso mudar", diz o texto do site.

O pedido de retirada do post, no mesmo dia em que Dilma reclamou com o ministro Aldo Rebelo (Esporte) sobre suas declarações defendendo uma intervenção no futebol, não foi atendido por Franklin.

Lula entrou no circuito e tentou acalmar seu ex-ministro, de quem é muito próximo, buscando demovê-lo da ideia de deixar a equipe. O tema vai ser discutido na reunião de coordenação da campanha nesta segunda (14).

Amigos de Franklin confirmam o atrito por causa do post, considerado como "coisa normal na temperatura elevada de eleição", mas negam que ele tenha ameaçado deixar a equipe.

Logo depois da derrota, Dilma buscou encampar a bandeira de reformulação do futebol, defendendo mais profissionalismo. Mas ficou preocupada com o risco de a oposição associá-la a uma estratégia populista, além de reforçar a crítica a seu estilo intervencionista.

Assessores da petista disseram à Folha que a nota da equipe de Franklin foi além do ponto e, em vez de ser propositiva, criou "tensão desnecessária" e um "sentimento de guerra equivocado".

Esse não é o primeiro atrito entre Franklin e dilmistas na organização da campanha de reeleição. Nome de Lula, ele tem sido "escanteado" no processo de decisões.

Nas discussões sobre estratégia de comunicação, João Santana acaba levando a melhor. Desde que defendeu, numa reunião de coordenação no Palácio da Alvorada, que Dilma fosse para o embate político, Franklin não se encontrou a sós com ela.

Ele não gostou, por exemplo, de não ter participado da elaboração do Plano Nacional de Transformação, anunciado com pompa por Dilma na convenção do PT, no último dia 21. Neste caso, não foi só Franklin quem ficou chateado. Na época, apenas Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e João Santana sabiam da ideia.

Por sinal, outra definição sobre a campanha criou desconforto entre Franklin e outros membros da equipe. Ele tentou convencer a presidente que o slogan "Muda Mais" era melhor que o "Mais Mudanças, Mais Futuro", proposto pelo marqueteiro.

Na reunião, Santana explicou a escolha do mote, e o slogan lançado foi o "Mais Mudanças, Mais Futuro".

Novo estilo
Independentemente da saída de Franklin, haverá mudanças. O novo estilo de coordenação da campanha mostra que sai de campo o comando único que imperou em 2010, quando a direção era do então presidente Lula. Entra em cena um duplo comando, que obriga a cúpula de campanha a se equilibrar entre visões nem sempre coincidentes de lulistas e dilmistas.

Na última eleição, Lula era o todo-poderoso. Dava as cartas e tinha um grupo de três assessores de peso --Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra.

Neófita na política, Dilma só seguia ordens de como se comportar nos embates políticos, sob o treinamento de João Santana. Agora que já não se sente mais como debutante, Dilma promoveu uma renovação quase integral na sua equipe e será mais ativa na definição das estratégias eleitorais, tomando as principais decisões ao lado de Lula.

Em 2014, o comando da campanha está mais diluído entre os petistas, que costumam se reunir às segundas-feiras no Palácio da Alvorada para definir as estratégias.

Crítica à CBF gera mal-estar na campanha petista

• Post que ataca presidente da entidade em site teria irritado Dilma e provocado discussão com Franklin Martins; ele nega atrito

Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Um texto postado na quarta-feira no site Muda Mais, vinculado à campanha à reeleição de Dilma Rousseff, causou constrangimento à presidente e provocou um atrito com o Palácio do Planalto.

Segundo relato de pessoas ligadas à campanha, Dilma ficou "muito irritada" com o post que atacava o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin - que estará ao lado dela, hoje, no Maracanã, para a entrega da taça ao campeão da Copa do Mundo (mais informações na pág. A8).

Para tentar contornar o mal-estar criado pelo site de apoio à sua campanha, a presidente pediu que o post fosse retirado do ar, ou que seu autor assumisse a responsabilidade pelo texto. Os pedidos não foram atendidos.

O incidente teria levado a uma conversa dura entre o ex-ministro Franklin Martins, responsável pelo monitoramento das redes sociais, e a própria presidente, o que gerou especulações de que ele poderia deixar a campanha.

Ontem, procurado pelo Estado, o ex-ministro negou a informação. "Não teve estresse algum entre eu e a presidente", afirmou Franklin.

O Planalto nega que Dilma tenha conversado com o ex-ministro sobre o conteúdo do Muda Mais. O comitê de campanha também não confirma a informação.

'Arena'. O texto do post dizia que "a terrível eliminação da seleção na Copa do Mundo reforçou o que há muito se dizia: a organização do futebol brasileiro está ultrapassada e presa ao nome de poucas figuras que revoltam o torcedor faz algumas décadas".

Afirma ainda que depois de ficar "por infindáveis 23 anos nas mãos de Ricardo Teixeira", a CBF passou, em 2012, para o comando de José Maria Marin.

"Marin foi deputado estadual pela Arena e em 1975 proferiu um discurso contra a TV Cultura, que por muitos é visto como um dos desencadeadores da morte de Vladimir Herzog, ex-diretor de telejornalismo da Cultura, encontrado morto 16 dias depois" dizia o texto, que ontem permanecia na página.

O post criou uma queda de braço entre integrantes da própria campanha de Dilma à reeleição. Um dos dirigentes concordou com a presidente e foi contra o conteúdo do texto, alegando que era "inadmissível" atacar Marin no momento em que todos estão trabalhando juntos para que o torneio seja concluído com o maior sucesso possível.

'Constrangimento'. Segundo informações obtidas pelo Estado, a presidente entendeu que a postagem criticando Marin criou um "constrangimento desnecessário". O grupo da campanha petista que defendia a veiculação do post, contudo, achou que não deveria voltar atrás, embora tenha reconhecido que o tom foi exagerado. Mas não aceitou retirar o post do site.

Para ampliar bancada de deputados, PMDB aumenta número de candidatos a governador

• Sigla lançou o maior número de candidatos a governador desde 1994: 18, contra 13 em 2010

Mariana Sanches – O Globo

SÃO PAULO - Se a política fosse um jogo de tiro ao alvo, o PMDB estaria mirando na borda para acertar no centro. Em 2014, a sigla lançou o maior número de candidatos a governador desde 1994: 18, contra 13 em 2010. Aliado do governo Dilma em plano nacional, o partido enfrentará o PT em 17 unidades da federação. Em 2010, peemedebistas e petistas estavam em polos opostos em 12 disputas estaduais.

A mudança de postura do PMDB, segundo analistas e políticos, tem um objetivo claro: fortalecer a campanha estadual para garantir a eleição de grande número de deputados federais. Quanto maior a bancada, maior a presença e o poder de barganha do partido na Câmara e mais robusta a sua importância, qualquer que seja o próximo governo.

A tática adotada pelo PMDB tem sido pensada por seus estrategistas desde o começo da gestão Dilma. Para o sociólogo Rudá Ricci, ela faz sentido.

— Nas últimas eleições parlamentares, o governador eleito levou quase sempre as maiores bancadas federais. É importante perceber que candidatura majoritária puxa as bancadas — diz Ricci.

Em 2012, PMDB perdeu prefeituras
Na leitura de dirigentes do partido, a mudança de postura do PMDB é uma reação à agressividade do seu maior parceiro federal, o PT, nas eleições mais recentes. Segundo Marcos Nobre, cientista político da Unicamp e autor da tese do “peemedebismo”, o partido está replicando uma estratégia adotada primeiramente pelo próprio PT:

— Durante seu governo, Lula inventou uma acomodação com o PMDB: o PT ficava com o Executivo federal e deixava os dividendos políticos miúdos para o PMDB. O PMDB tinha preferência nas disputas estaduais e municipais e, em troca, cedia seu espaço na TV para a campanha presidencial. Mas, quando saiu do poder, Lula voltou a investir pesado nas forças locais e quebrou esse acordo tácito — afirma Nobre.

A postura competitiva do PT ficou evidente já na disputa municipal de 2012. Naquela eleição, o partido fez a maior quantidade de prefeitos de sua história (635), impondo uma derrota ao PMDB, que perdeu quase 200 prefeituras e chegou ao seu mais baixo patamar desde 2000. Mesmo assim, não perdeu a liderança no ranking, com 1.023 prefeitos eleitos. Coerente com esta trajetória, em 2014 os petistas voltam à carga: lançaram 16 candidatos a governador, contra dez candidaturas em 2010.

O objetivo do PT é aumentar sua bancada federal e ficar menos vulnerável a rebeliões da bancada peemedebista, como aconteceu no fim do ano passado e começo de 2014. Na ocasião, capitaneado pelo deputado federal Eduardo Cunha (RJ), líder do PMDB na Câmara, um grupo de deputados rebeldes quase deixou de aprovar o Marco Civil da Internet, defendido pelo Executivo, e ameaçou impor uma derrota política ao governo, ao criar a CPI da Petrobras. A crise foi grave.

PT conquista eleitor peemedebista
A mudança de comportamento do PT foi sentida por caciques do PMDB e provocou preocupações para além da disputa deste ano. Para Rudá Ricci, peemedebistas se deram conta de que, nos últimos anos, o PT tem investido e conquistado setores de seu eleitorado cativo, tradicionalmente “mais pobre e de mais baixa instrução”. Tal realinhamento teria acontecido em 2006, quando uma parcela de baixa renda e conservadora da população consolidou o entendimento de que o Bolsa Família aliviava a pobreza, sem abalar as estruturas sociais do país, e decidiu dar seu apoio ao projeto petista.

Desde então, de acordo com Ricci, o PT vem avançando sobre esse eleitorado, tirando do PMDB uma fatia maior a cada eleição e aumentando sua bancada federal. O raciocínio de Ricci se apoia na tese defendida pelo cientista político André Singer, que batizou o fenômeno de “lulismo”:

— Quando o PT anuncia que pretende fazer 150 deputados federais nesta eleição, quem perde é o PMDB, e não a oposição. Ao lançar muitos candidatos aos governos estaduais, o PMDB tenta se impor como aquele que dará estabilidade ao Executivo nacional eleito, qualquer que seja ele. Uma aliança muito ampla, em um momento em que aliados avançam sobre seu espaço eleitoral, traria o risco de diminuir o tamanho do partido— avalia Ricci.

Um dos principais antagonistas do governo dentro do PMDB, Eduardo Cunha confirma a análise dos cientistas políticos:

— Agora, o PT quer partir para fazer bancada. É mais uma parte do processo de hegemonia deles. Tudo bem, partido está aí para competir mesmo, é do jogo. Mas contestamos a ruptura de algumas alianças que já existiam, como a do Rio e a do Ceará, e, por isso, uma grande parte do PMDB se rebelou e rompeu. Estamos reagindo à mudança de postura do PT — dispara Cunha.

Apoio a Dilma por margem apertada
A tensão na relação entre os dois partidos levou uma pequena maioria do PMDB a ratificar a união em torno do nome de Dilma Rousseff — apenas 59% do partido aprovaram a coligação. A divisão interna dos peemedebistas ficou clara.

Ao se enfrentarem em arenas estaduais, PT e PMDB estão decidindo a importância que cada um deles terá nos rumos do próximo governo. Mas não só. Embora detenha a vice-presidência na chapa de Dilma, com Michel Temer, o PMDB acena também para a oposição com a possibilidade de compor uma nova coalizão governista, se o PT for derrotado. Tucanos e socialistas enviaram sinais trocados às intenções ambíguas do PMDB. No fim de junho, Aécio Neves (PSDB) não escondeu o interesse em ampliar sua base aliada, atraindo partidos que hoje compõem a sustentação política de Dilma.

— Muito mais gente já desembarcou, e o governo ainda não percebeu. Vão sugar um pouco mais. E eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem mais um pouquinho e, depois, venham para o nosso lado — disse Aécio, em evento pré-eleitoral em Pernambuco.

Semana passada, Eduardo Campos (PSB) adotou postura oposta. Em visita ao Maranhão, terra do recém-aposentado senador José Sarney (PMDB), Campos declarou que, se eleito, não aceitará o apoio do PMDB:

— Fui o único candidato que disse, com todas as letras, que, quando eu e Marina estivermos governando o Brasil, a partir de 1º de janeiro, o PMDB, de José Sarney, estará na oposição. Será a primeira vez, em 50 anos, que a gente vai ter muita unidade política. Quem quiser prestar homenagem a Sarney vota na Dilma. Quem quiser continuar com o Sarney no governo pode votar também no Aécio, porque todo mundo sabe que esse PMDB está com o pé em duas canoas. Agora, a única canoa em que ele (o PMDB) não bota o pé é a nossa — disse Campos, em São Luís.

Apesar das palavras fortes do candidato do PSB, é unânime entre analistas políticos o entendimento de que a governabilidade é quase inalcançável sem uma composição com o PMDB.

Petistas querem manter o aliado
A depender do PT, uma eventual disputa dos opositores por seu maior aliado não ocorrerá. O partido tem feito uma crítica interna, segundo a qual o governo não soube lidar com os peemedebistas, adotando um estilo muito centralizador e de pouca negociação com os partidos aliados, e que a costura para a disputa eleitoral foi mal feita. Os dirigentes do PT acreditam que um governo Dilma sem o PMDB seria inviável.

— É claro que gostaríamos de fazer uma bancada de 140, 150 deputados e conquistar a presidência da Câmara, mas nenhum partido no Brasil é capaz disso. Então, deveríamos ter nos preparado melhor para a disputa, mas não o fizemos. Nem o PT, nem o PMDB tiveram uma postura de construir um projeto para 2014. Em vez disso, ficaram riscando a faca um para o outro. Então, vamos ter que competir com o PMDB nas urnas. Mas, depois da eleição, vamos ter que continuar conversando com eles. Não nos interessa exercitar a política da intriga — contemporizou Florisvaldo Souza, dirigente nacional do PT.

Perguntado sobre alianças de governo, Eduardo Cunha respondeu como típico peemedebista, que conhece a vocação do partido para mirar nas bordas e acertar no alvo:

— A campanha nem começou ainda. Vamos ver como é que fica depois da eleição.

As disputas mais ruidosas
Embora PT e PMDB se enfrentem em 17 unidades da federação (contra 12, em 2010), em três a relação entre os partidos ficou muito tensa: Rio de Janeiro, Ceará e Goiás.

No Rio, o PT apoiou a eleição de Sérgio Cabral (PMDB) ao governo. Os peemedebistas consideravam certo o apoio dos petistas para o sucessor de Cabral, Luiz Fernando Pezão. Porém, diante da baixa popularidade do então governador, o PT resolveu lançar candidato próprio, o senador Lindbergh Farias.

No Ceará, o PMDB também esperava o PT na coligação que lançaria o peemedebista Eunício Oliveira. No entanto, o PT resolveu fechar um acordo de última hora com os irmãos Cid e Ciro Gomes (PROS) e encampou o nome do deputado estadual Roberto Santana (PT) como candidato. Em retaliação, Eunício, que lidera a disputa no estado, fechou aliança com o PSDB e abriu palanque para o tucano Aécio Neves.

Em Goiás, o PT rompeu um apoio supostamente acertado desde 2012 e lançou Antonio Gomide (PT) para enfrentar o peemedebista Iris Rezende.

PMDB teme perder hegemonia no Senado

• Partido tem hoje 20 senadores, mas sete encerram seus mandatos em janeiro, e só Kátia Abreu tenta a reeleição

• PT possui 13 senadores, mas apenas três estão em fim de mandato; PSB e PSDB também têm boas perspectivas

João Pedro Pitombo – Folha de S. Paulo

SALVADOR - O mapa da disputa por 27 cadeiras do Senado indica o enfraquecimento do PMDB, dono hoje da maior bancada da Casa, e o crescimento de partidos como o PT e o PSB.

O partido do atual presidente da Casa, Renan Calheiros, tem hoje 20 dos 81 senadores. Sete, porém, encerram seus mandatos em janeiro próximo e somente Kátia Abreu (TO) tentará a reeleição.

Para compensar essa sangria, o partido terá que apostar em novos nomes, como Dário Berger (SC) e Geddel Vieira Lima (BA).

O temor do PMDB é perder o posto de maior bancada para o PT, hoje com 13 senadores, mas com apenas três em fim de mandato: Eduardo Suplicy (SP) e os suplentes Ana Rita (ES) e Anibal Diniz (AC).

"Se o partido não fizer um esforço para impulsionar candidaturas competitivas, [a perda da maioria no Senado] é um risco real", afirma Geddel, que disputa a eleição na Bahia e apoiará Aécio Neves (PSDB) para presidente.

O PT está otimista: tem 12 candidaturas certas ao Senado e mais duas (PB e AM) que estão sub judice por ações movidas pelo diretório nacional, que quer apoio a aliados.

"Difícil ter maioria, mas vamos reduzir significativamente a diferença para o PMDB", diz Humberto Costa (PT-PE), líder do partido no Senado.

No campo das oposições, o PSDB deve ter uma renovação substancial na bancada.

Dos 11 senadores, cinco encerram o mandato, e só Alvaro Dias (PR) e Mário Couto (PA) disputam a reeleição.

O partido, todavia, aposta nos retornos ao Senado de José Serra (SP) e de Tasso Jereissati (CE), além de nomes novos como os dos ex-governadores Antonio Anastasia (MG) e Anchieta Júnior (RR).

"Certamente teremos uma bancada experiente e com muita influência, o que será fundamental no governo com a vitória de Aécio", avalia o senador Alvaro Dias, vice-presidente do PSDB.

O PSB, partido do presidenciável Eduardo Campos, tem atualmente quatro senadores, mas todos encerrarão seus mandatos em 2019.

Além disso, o partido possui candidatos competitivos em sete Estados, o que representa a oportunidade de ao menos dobrar a sua atual bancada na legislatura que será eleita agora e se inicia em fevereiro do ano que vem.

"Com uma bancada forte no Senado muda tudo. Passaremos a ter mais força e teremos que ter ouvidos", afirma Roberto Amaral, vice-presidente do partido.

O PTB tende a ter uma das principais baixas: com seis senadores, cinco concluem o mandato em janeiro. Fernando Collor (AL), Gim Argello (DF) e Mozarildo Cavalcanti (RR) disputam a reeleição, e o partido terá candidatos novos na Paraíba e no Piauí.

"A intenção é manter a bancada do mesmo tamanho", diz Benito Gama, presidente nacional do PTB. Contudo, dos cinco candidatos, apenas Collor (PTB) lidera as pesquisas já registradas.

Nestas eleições, o Senado terá uma forte renovação. Dos 27 senadores em final de mandato, só 10 disputam a reeleição --menor índice desde as eleições de 1998.

Para Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), é uma oportunidade para "oxigenar o Senado e reduzir a força das oligarquias".

O Brasil mostrou a sua cara: O Globo - Editorial

• A Copa foi um sucesso naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro, alegre, hospitaleiro, acostumado com a diversidade, fatores que cativaram os estrangeiros

Hoje chega ao fim uma jornada de sete anos, iniciada quando o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa de 2014. Foi uma viagem cheia de percalços, com altos e baixos, e um desfecho muito ruim para o futebol brasileiro. A seleção não chegou ao hexa, e assim não pôde exorcizar 1950 no mesmo Maracanã da derrota histórica de há 64 anos. E os sete gols sofridos na semifinal com a Alemanha ficarão como dolorosa marca nos cem anos de seleção brasileira. O estádio, renovado, coloca, porém, no currículo a honra de passar a ser o segundo do mundo, ao lado do mexicano Asteca, a servir de palco por duas vezes a uma final de Copa. Adicione-se, ainda, a qualquer balanço de saldos do evento a enorme exposição que teve o Brasil nos meios de comunicação globais, ajuda incalculável na atração de viajantes. Vai caber à indústria do turismo cativá-los.

No muito que se disse sobre a catastrófica derrota da seleção no Mineirão, identificaram-se entre as raízes da humilhação imposta pelo time alemão algumas facetas observadas na comissão técnica, mas que também fazem parte da vida pública brasileira: a arrogância, a empáfia, o ufanismo, a autossuficiência. O projeto da Copa começou com alguma contaminação desses ingredientes. O então presidente Lula, lembre-se, desejava um número de cidades-sede superior às 12 do projeto final. E ficou provado que se a Copa de 2014 tivesse se limitado a menos estados, com melhores condições de infraestrutura, o custo final para o contribuinte teria ficado menor, sem que o evento perdesse o brilho que teve. Além de haver uma quantidade menor de obras, um flanco vulnerável da Copa, como se confirmou.

Animal político, Lula pode ter percebido as oportunidades que o torneio daria, em ano eleitoral, para que ele desfilasse ao lado da candidata à reeleição Dilma Rousseff em estádios novos ou reformados. Mas, antes, precisava eleger a ministra em 2010. Conseguiu. Trapaças da vida real não o deixaram dar o fecho neste plano de rara antevisão política. A inflação, a impopularidade em alta, as vaias impediram-no. E, no fim, a própria derrota da seleção, e da maneira como ocorreu, foi tremendo gol contra os planos de marquetagem político-eleitoral.

Mas a Copa foi um sucesso. Naquilo que dependeu do futebol e do povo brasileiro. Houve ótimos jogos, com alta média de gols — infelizmente, com a colaboração da defesa brasileira no jogo com a Alemanha — e, para injetar mais emoção, seleções sem maior tradição brilharam, como Costa Rica, duro adversário da forte Holanda nas quartas de final. Foi derrotada apenas nos pênaltis. A Colômbia, com folha corrida no esporte, terminou sendo difícil adversário do Brasil na disputa por uma vaga na semifinal. O Chile, com tradição, outro obstáculo à seleção brasileira, veio com a melhor seleção das últimas Copas. Perdeu nos pênaltis, mas quase eliminou o Brasil, também nas quartas, no último minuto da prorrogação. Ficou a percepção de que a emigração de atletas de todos os continentes para a Europa, o mais forte centro mundial do futebol, tende a nivelar a qualidade dos jogadores do ponto de vista do condicionamento físico, conhecimento de táticas, etc — africanos, asiáticos, de onde sejam.

O sucesso da Copa também foi devido à simpatia e hospitalidade dos brasileiros. O estrangeiro é recebido com alegria por uma cultura que gosta da diversidade — ela própria fermentada na miscigenação. As Fan Fests espalhadas pelas cidades-sede viraram caldeirões de confraternização.

Foi assim desde o começo. E os grupos minoritários radicais, donos da palavra de ordem “não vai ter Copa”, logo perceberam que o melhor seria recolher as faixas e guardar capuzes e máscaras.

A imprensa estrangeira, antes cética, passou a registrar a boa qualidade do evento. Simon Kuper, da revista do jornal inglês “Financial Times”, escreveu um artigo sob o título “Porque o Brasil já ganhou”. Veterano em Copas, Simon lembrou que antes de sair para a viagem recebeu o conselho da mulher: “Não vá ser morto”. Registrou saber das altas taxas de homicídio no país, mas saudou a segurança nas áreas em que transitavam os visitantes. “Esta é uma Copa sem medo”. Kuper gostou do que viu, de Manaus a Copacabana. Na Copa de 2002, recorda que, no Japão, todos eram bem educados. E no Brasil, mesmo o policial “afaga amigavelmente suas costas quando você passa”, se você for “um estrangeiro branco, de classe média”. Para ele, esta foi a melhor das sete Copas em que trabalhou, desde 1990. Deu certo, portanto, o plano de contingência montado pelos governos para criar seguras zonas de exclusão em estádios, adjacências e áreas de circulação de visitantes, Fan Fests, vizinhanças e bairros turísticos. Decisão correta.

Porém, a outra face de medidas como esta é que o Brasil, diante das deficiências que tem, as quais não consegue resolver — mesmo, no caso da Copa, com sete anos para equacioná-las — precisa se valer de grandes planos de emergência. Eles sempre são necessários em qualquer país do mundo, mesmo o desenvolvido, mas a diferença está na dimensão. A segurança continua precária? Exército nas ruas durante o evento. Virou registro histórico o carro de combate Urutu estacionado à frente da subida da Rocinha na Rio-92. Passado o evento, o tanque foi embora e os traficantes voltaram à rotina de violência.

Os aeroportos também foram uma surpresa positiva. O índice de atrasos chegou a 7,3%, contra 8,3%, em todo 2013, nos países da União Europeia. Também aqui, funcionou a improvisação, porque, diante de tamanha demora na passagem da administração de grandes aeroportos à iniciativa privada, por obtusidade ideológica, a saída, em vários casos, foi também o jeitinho — terminais improvisados, etc.

Já tinha sido previsto que não haveria maiores dificuldades nos estádios, apesar dos atrasos. Elas estariam fora deles. Dados do próprio Ministério do Planejamento: apenas 24 das 70 obras de mobilidade urbana financiadas com recursos federais ficaram prontas. Ou seja, só 30%. Grande parte do legado para a população ainda está pelo caminho.

Mais soluções “meia boca” para contornar o obstáculo: decretar feriado nas cidades-sede em dia de jogo. Com menos veículos e pessoas nas ruas, a falta de estrutura de transporte público condizente faz menos estragos. O Brasil mostrou a sua cara: festeiro, alegre e hospitaleiro, mas incompetente em planejamento, administração de custos — sem falar em superfaturamentos, outro esporte nacional — e em gerenciamento de obras. Resta uma tênue esperança de que alguma lição tenha sido aprendida com vistas às Olimpíadas do Rio, daqui a dois anos. Mas o tempo é curto.

Criou-se, durante um mês, uma espécie de Brasil da fantasia: segurança extrema, feriados, menos dias de trabalho. A Copa, indiscutivelmente, foi um sucesso. Mas, a partir de amanhã, volta a dura realidade do cotidiano.

Hora de virar o jogo: Folha de S. Paulo - Editorial

• Fracasso da seleção é uma oportunidade para refletir sobre o atraso do futebol brasileiro e lançar novas bases para o esporte

A Copa do Mundo chega hoje a seu ápice, com a disputa do título pelas equipes da Argentina e da Alemanha. São dois adversários de tradição no futebol, que já se encontraram em outras duas finais: em 1986, no México, os sul-americanos triunfaram; em 1990, na Itália, a vitória foi dos europeus.

Aos brasileiros, que viram se frustrar o sonho de vencer um Mundial em seu país, cabe reconhecer os méritos dos finalistas e encerrar a festa como os bons anfitriões que têm sido desde o início.

Com os reparos que sempre se podem fazer, não há dúvida de que a Copa foi bem-sucedida; ficará nos anais da história como uma das mais emocionantes e surpreendentes já realizadas.

Embora tenha conquistado um lugar entre os quatro melhores, a campanha da seleção brasileira deixou muito a desejar. Como admitiu o craque Neymar, em nenhum momento o Brasil teve em campo um desempenho à altura de suas glórias futebolísticas.

A derrocada, que se consumou nos 7 a 1 para a Alemanha e se reforçou nos 3 a 0 para a Holanda, oferece oportunidade para a reflexão e a ação. Será uma lástima se o futebol brasileiro não conseguir extrair daí lições que o levem a superar suas precariedades estruturais, a começar pelo caráter amadorístico, patrimonialista e, não raro, corrupto de sua gestão.

Durante décadas, a administração do esporte mais popular do país assumiu um perfil quase extrativista: entidades e dirigentes voltavam-se à exploração da admirável capacidade do Brasil de produzir talentos futebolísticos.

Jovens das classes populares acorriam em massa aos clubes. Tratava-se apenas de peneirá-los para descobrir as pedras mais valiosas, que logo atrairiam multidões aos estádios e surpreenderiam o mundo com sua inventividade.

Mas o país mudou; as condições socioeconômicas que propiciavam essa realidade já não existem. Ao mesmo tempo, o planejamento e a gestão do futebol na Europa avançaram de maneira notável. A globalização do esporte levou o velho continente a contar com os melhores atletas do mundo e a conviver com excelência inédita.

O Brasil logo se conformou com o papel subdesenvolvido de exportador de matéria-prima. Seu futebol, internamente, viu-se condenado à indigência, ao endividamento e ao desinteresse dos torcedores.

Já há alguns anos, contudo, pressões modernizadoras se fazem sentir em setores da imprensa, em iniciativas de alguns clubes, em áreas restritas da política e, por fim, entre os principais artífices do espetáculo --os jogadores.

O surgimento do Bom Senso Futebol Clube, associação que congrega atletas interessados no aperfeiçoamento da gestão do esporte, é sem dúvida um sinal auspicioso.

Tais movimentos, contudo, têm esbarrado num conluio de dirigentes --a começar pelos que comandam a poderosa CBF-- com políticos e parlamentares que formam a chamada "bancada da bola". Trata-se de frente empenhada em defender o status quo.

É o status quo, todavia, que está em xeque depois do vexame diante da Alemanha. Enfraquecidas as correntes retrógradas, abre-se a melhor oportunidade em décadas para um esforço modernizador.
Há a perspectiva, por exemplo, de serem aprovados instrumentos legais que induzam à responsabilidade fiscal do futebol. O endividamento de clubes com o poder público surge, mais uma vez, como chance de exigir contrapartidas.

Não faz sentido, porém, perdoar tais débitos. Estima-se que girem na casa de R$ 4 bilhões, mas o descalabro é tal que nem se conhece a cifra exata. Vale lembrar, ademais, que programas de recuperação fiscal, como o que se discute no Congresso, já foram lançados --e descumpridos-- no passado.

Se é verdade, por outro lado, que o futebol tem inegável dimensão pública e que a CBF explora as cores da bandeira brasileira e o sentimento de nação --que não são bens privados--, nem por isso faria sentido apoiar uma intervenção estatal nesse esporte.

O caminho é outro. Passou da hora de os compromissos com a modernidade serem assumidos por aqueles que respondem pela maior fatia da sustentação financeira da atividade: os grandes patrocinadores e a Rede Globo. Basta dizer que os recursos da TV equivalem a 40% da receita dos clubes --além da divulgação de suas marcas.

Só uma reação em conjunto, congregando os interessados na criação de bases sustentáveis e racionais para o futebol, poderá mudar o quadro atual, que beneficia apenas uma casta de dirigentes.

A Alemanha deu mais que uma lição de futebol. Aquele país soube orquestrar um plano para formar jovens talentos e fortalecer seus clubes. Um programa como o que lá foi implementado poderia --e deveria-- ser adaptado ao Brasil. É preciso mudar. E a hora é essa.

O descaramento como política: O Estado de S. Paulo - Editorial

O programa de governo Dilma Rousseff 2014 é uma peça publicitária, com forte dose de ficção. Um dos tópicos, intitulado Os 12 anos que transformaram o Brasil, é constrangedor. Ali, a mentira parece adquirir status de verdade histórica.

O que primeiro choca é a incongruência entre o título do programa (Mais mudanças, mais futuro) e o conteúdo proposto. Era de esperar que, com resultados tão pífios - reconhecidos não apenas por analistas econômicos, mas, como as pesquisas têm indicado, pela população em geral, que já percebeu qual é a qualidade do atual governo -, o leitor do programa se deparasse com algo diferente do que viu nos últimos anos. Mas o que lá está é mais do mesmo, com a reedição de "programas" pontuais e desconexos, sem uma visão ampla do que o Brasil precisa. Vê-se logo que é um programa feito pró-forma, em que o País é um simples acessório.

Furtando-se de analisar os seus anos de governo - o que seria mais honesto -, sempre que pode Dilma inclui os oito anos de Lula nas suas comparações. Disso resultam afirmações que se chocam com a verdade. Por exemplo, "ao final de três mandatos, todos os indicadores do período são positivos e sempre muito melhores do que os vigentes em 2002". Haja criatividade nos números para tamanha miopia!

Em relação ao seu calcanhar de aquiles - a inflação -, não tendo o que apresentar, usa bravatas pouco convincentes. "Entendemos o poder devastador da inflação (...) e por isso jamais transigiríamos ou transigiremos com um elemento da política econômica com esse potencial desorganizador da vida das pessoas e da economia". Se de fato Dilma entendeu o poder devastador da inflação, seus anos de governo são um exercício explícito de má-fé. O que ela de fato compreendeu foi o efeito político da inflação, daí a manipulação de números e os preços e tarifas administrados.

Há passagens que são a mais deslavada mentira. "Os governos do PT assumiram a histórica tarefa de investir na infraestrutura logística brasileira. (...) O Brasil dos governos do PT e de seus aliados ficará marcado como o período da história recente com mais entregas de grandes obras de infraestrutura."

Será uma piada de mau gosto? Se há um setor onde existe uma distância abissal entre o que o País necessita - e o governo prometeu - e a administração petista entregou, este é o da infraestrutura. É dessa forma que a Mãe do PAC vê os resultados pífios do seu mandato?

No programa, renova-se a "profissão de fé do PT" no seu modelo de desenvolvimento. Informa que ele está assentado em dois pilares - a solidez econômica e a amplitude das políticas sociais - e que ganhará no próximo governo um terceiro sustentáculo: a competitividade produtiva. Infelizmente, não houve, como afirma o documento, "defesa intransigente da solidez macroeconômica". É fato de domínio público. Sobre as políticas sociais, também é conhecido como o PT entende o seu maior trunfo: repasse de verba, sem acompanhamento de resultados efetivos. "Social", para o governo atual, é sinônimo de voto. Na sua lógica, se deu voto, houve transformação social. E o terceiro pilar é algo de que o PT pouco entende, como já se viu. No máximo, sabe dar incentivos pontuais, de alcance duvidoso, sem uma política de governo séria e responsável, que garanta a confiança no ambiente dos negócios.

Para aparecer bem na foto, o PT não tem escrúpulos de editar a imagem real. No programa, afirma-se que "a tarefa de combater a extrema pobreza (...) foi superada". Confundem o título de programa social, "Brasil sem Miséria", com a realidade vivida. Afronta a sensibilidade humana fazer campanha eleitoral ignorando a realidade de tantos brasileiros e brasileiras que ainda vivem em condições sub-humanas.

Não foi o PT quem inventou certa "flexibilidade" nos programas de governo. Já existia antes dele. Mas o atual governo pôs em outro patamar o nível de descaramento. Eleições merecem respeito, porque o cidadão merece respeito. Há limites até mesmo para o que se põe no papel, ainda que na ética petista tudo aquilo que o mantenha no poder seja visto como legítimo. O Brasil merece outra ética, outra política.

Merval Pereira: A pátria nos ombros

- O Globo

Mais uma vez a seleção brasileira soçobrou ao peso da sua incompetência, aumentada pela enorme carga emocional com que cada um dos jogadores entrou em campo. Mais uma vez cantaram o Hino Nacional como se fossem guerreiros, e não jogadores de futebol. Mais uma vez disputaram o terceiro lugar para salvar a honra da pátria.

O que define bem o pensamento dos jogadores é a frase emblemática de Davi Luiz após a acachapante derrota para a Alemanha: “Só queria poder dar uma alegria ao meu povo, a minha gente que sofre tanto. Infelizmente, não conseguimos. Queria ver meu povo sorrir. Todos sabem o quanto era importante para mim ver o Brasil inteiro feliz pelo menos por causa do futebol”.

Nesta análise sociológica rasa, porém bem-intencionada, de nosso capitão-herói (e pobre de um país que precisa de heróis, como já disse Bertold Bretch) está simbolizado todo o peso que jogaram em cima da seleção brasileira mais uma vez.

Certamente essa ideia de que é uma responsabilidade de cada um dos jogadores dar alegria ao povo brasileiro “pelo menos no futebol” foi incutida neles nas intermináveis sessões de autoajuda em que o suposto técnico tratava do espírito de seus guerreiros, esquecendo-se de treinar jogadas, de montar esquemas táticos que neutralizassem nossos adversários.

Não se viu nos estádios nada parecido com uma organização de jogo, mas se viu muita emoção, símbolos diversos como a camisa de Neymar a indicar que ele estava presente, um 12º jogador em espírito.

O contraponto a essa opressão patriótica podia-se ver nos jogadores da Alemanha e da Holanda, andando tranquilos pelas praias onde estavam concentrados, dançando com índios na Bahia, dando autógrafos nas praias do Rio, misturando-se à multidão de torcedores.

A visão distorcida de uma missão dos jogadores para além das quatro linhas do campo, sobrecarregando-os a ponto de paralisar suas ações, é consequência de objetivos equivocados. Imaginar que é sua responsabilidade dar alegria ao povo brasileiro “pelo menos no futebol” já embute uma visão política crítica enganosa, como se uma vitória da seleção brasileira fosse suficiente para dar forças ao povo para aturar uma vida difícil.

Do ponto de vista do puro futebol, o alemão Özil resumiu bem a situação: “Vocês têm um país maravilhoso, um povo fantástico e jogadores incríveis — esse jogo não pode destruir seu orgulho!”. Já Podolski, depois de elogiar “a amarelinha”, afirmando que os “heróis que nos inspiraram são todos daqui”, deu um sábio conselho aos torcedores:

“Brigas nas ruas, confusões, protestos não irão resolver ou mudar nada. Quando a Copa acabar e nós formos embora, tudo voltará ao normal. Então, muita paz e amor para esse povo maravilhoso, um povo humilde, batalhador e honesto, um país que eu aprendi a amar”.

Nas visões dos jogadores brasileiros e alemães está a diferença: os nossos deixaram a técnica de lado para se dedicar de corpo e alma ao objetivo de serem campões aos trancos e barrancos, pois já começaram o campeonato “com a mão na taça”, como determinara o assessor técnico Parreira.

Os alemães, como disse Podolski em sua mensagem, realizaram em campo a técnica desenvolvida com muito esforço e dedicação nos anos anteriores, para se recuperar das derrotas a partir da Eurocopa de 2000. Sem misturar a pátria com o futebol, deixando a metáfora do grande Nelson Rodrigues na sua dimensão literária.

E muito menos misturar futebol com política.

Dora Kramer: Fogo de palha

- O Estado de S. Paulo

De início uma promessa: fica encerrado aqui, junto com o fim da Copa, o assunto futebol. Haja o que houver hoje à tarde no Maracanã, o tema volta ao escaninho daqueles distantes da alçada deste espaço.

Isso, evidentemente, se políticos de oposição e situação não resolverem usar os acontecimentos do campeonato nas respectivas campanhas eleitorais. Mais uns dias de mistura de política com o esporte já estará de bom tamanho. Inclusive porque a politicagem parece ser dos males um dos maiores no futebol.

Caso a oposição continue acusando o governo de se valer da Copa estará ela fazendo o mesmo. Já a situação, se prosseguir na toada de tentar tomar para si a tarefa de reformular o futebol como legado governamental, corre o risco de cair em vazio semelhante ao provocado pelos pactos sugeridos como resposta aos protestos de junho de 2013.

Até agora o Planalto não parecia preocupado com isso. A presidente Dilma Rousseff, em recente encontro com o grupo Bom Senso F.C., surpreendeu-se com os relatos e demonstrou estar completamente alheia à realidade do esporte no País.

O ex-presidente Lula, apaixonado e, mais que isso, bastante familiarizado com o assunto, jamais empregou esforços para enfrentar os problemas a respeito dos quais agora todos falam como de um passivo acumulado há anos. Liderou o cordão do oba-oba na hora da bonança e, nesse momento de tempestade, como é de seu estilo, recolheu-se ao silêncio.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, saiu propondo "alguma intervenção do Estado" no futebol. Se estiver falando de empenho junto à base governista para a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte e de outras medidas que coíbam corrupção e gestões temerárias, é um bom debate.

Já controle estatal é outra coisa. Para ficarmos no terreno administrativo, está bem demonstrado que presença do Estado não é garantia de eficiência. Nem de lisura. Mas a presidente Dilma Rousseff, em sua entrevista à CNN Internacional, pareceu talvez falar daquela outra coisa. Defendeu "mudanças".

A começar pelo fim da "exportação de jogadores" de modo a assegurar atrativos para os campeonatos locais. Não ficou claro se deu um mero palpite - cuja validade é a mesma de qualquer outro - ou se fez uma proposta.

Na segunda hipótese, tão inexequível quanto o plebiscito para a Constituinte da reforma política. Não há como o governo impedir o ir e vir de jogadores. A menos que a ideia seja fazer algo parecido com o controle cubano sobre seus médicos.

Mais barato. Assim que o STF concluir a votação sobre a inconstitucionalidade das doações para campanhas eleitorais feitas por pessoas jurídicas, a Ordem dos Advogados do Brasil vai atuar para que o Congresso aprove o quanto antes uma regra estabelecendo limite de gastos igual para todos os partidos.

A OAB entrou com a ação junto ao STF em 2011. O julgamento começou neste ano, mas foi suspenso por pedido de vista quando a votação estava 6 a 1. Se nenhum ministro voltar atrás no voto, já há maioria para proibir as doações de empresas.

Segundo o presidente da Ordem, Marcus Vinícius Coelho, o objetivo da ação não é criar atalho para se chegar ao financiamento público puro, como defende o PT. "Não temos compromisso com partido algum", diz.

A finalidade é unicamente reduzir os custos de campanha. Segundo ele, comparativamente ao PIB o Brasil é o país que mais gasta. "Dez vezes mais que a Inglaterra, por exemplo, que empenha 0,09% do PIB em campanhas eleitorais e nós, 1%."

A consequência natural, na opinião de Marcus Vinícius, será a inibição do uso do caixa dois. "Havendo limite, se reduz o volume de dinheiro em circulação e todos são obrigados a montar estruturas mais modestas, o que torna identificável a olho nu aquele que usar recursos por fora, além do permitido."

Marco Aurélio Nogueira: Bola com a política

• ‘Politizar’ as eleições significaria abrir o jogo entre interesses coletivos e particulares

- O Estado de S. Paulo / Aliás

A oportuna e enigmática declaração da presidente Dilma Rousseff de que a próxima disputa presidencial será “a mais politizada da história” sugere reflexão.

Pode-se antes de tudo imaginar que a presidente quis se referir ao fato de que a disputa privilegiará a dimensão política, de modo a fazer com que as divergências entre os candidatos ultrapassem o plano adjetivo, mesquinho e superficial e se explicitem de forma substantiva, consistente.

Há dois modos típicos de se discutir divergências políticas. Cada um se subdivide em dois, que se combinam.

Um deles privilegia o público e o que é de interesse coletivo; o outro privilegia os correligionários e o que é de interesse particular (de um partido ou candidato). O primeiro politiza bem mais que o segundo, que pouco faz além de partidarizar.

A outra polarização sugere que se pode agir para destacar o que diferencia as posições divergentes ou o que as aproxima. No primeiro caso, busca-se a preponderância, aquilo que isola e distancia um do outro. No segundo, busca-se o que os divergentes têm em comum e pode servir de base para que se atenuem as diferenças. Nesse caso, o primeiro produz tensão e exclusividade: é arrogante, digamos assim. O segundo produz relaxamento e cooperação: é mais humilde.

São duas formas de pensar a politização. Uma politiza mais, tem qualidade superior: incorpora, agrega e educa, busca enfatizar o que é comum e mais relevante. A outra politiza menos, tem baixa qualidade: trabalha dividindo e separando, oferecendo ao público um alimento já mastigado e artificialmente universal.

No Brasil atual, todos os protagonistas - tucanos, petistas, socialistas, verdes, comunistas, liberais, conservadores, democratas - politizam buscando afirmar a própria posição e desrespeitando ou ignorando as posições alheias. Por isso, o debate político não avança, não gera interlocução. A explicação para tal situação pode ser encontrada tanto na má qualidade dos debatedores quanto na ausência, neles, de algo mais do que interesse de parte, cegueira perante o que é interesse coletivo.

Tem-se dito o tempo todo: faltam projetos de sociedade, sobram projetos de poder.

Os dois modos podem ser combinados no decorrer de um embate político. Costumam ser combinados, aliás, já que política é busca de afirmação e de sedução, tentativa permanente de ser protagonista e de atrair os que pensam diferente, se possível para impedi-los de ser protagonistas.

Mas um dos modos tenderá a prevalecer, na dependência da personalidade, das intenções e dos projetos dos contendores.

O modo como se pensa a politização interfere no modo como se faz política. Por mais que sofra a influência das circunstâncias históricas globais - cada época tem sua política -, a discussão política está fortemente determinada pela cultura de cada sociedade. Ocupa, aliás, um lugar central nessa cultura, tendendo a preencher muitos espaços e florescer onde menos se espera.

As manifestações dos torcedores brasileiros durante a Copa de 2014 refletiram de alguma maneira o modo como pensam e agem politicamente. A facilidade com que se passou do campo de jogo para o campo político indica com clareza isso, assim como as vaias e ofensas dirigidas à presidente e aos hinos de outros países. Quiseram indicar com isso que a culpa pelo fracasso no campo ou pelo que muitos consideram erros de organização do evento devia ser imediatamente associada à política.

Assim como esteve encharcado de política o modo como se reagiu ao cataclismo provocado pelos 7 a 1 da Alemanha. Queimaram-se bandeiras, buscaram-se responsáveis, fizeram-se acusações, falou-se que a seleção teria “obrigação de vencer” mesmo que estivesse despreparada e praticasse um futebol abaixo da média. Não se viu o jogo politicamente, quer dizer, como uma disputa entre contendores que respeitam regras e buscam fazer com que o substantivo prevaleça sobre o adjetivo.

A derrota humilhante ainda não foi processada. Poderá ser - e é de desejar que seja - devidamente politizada, analisada com a prevalência do coletivo sobre o individual, do todo sobre a parte, assim como com a devida consideração do que há de processo e de história, de projeto e mentalidade, de preparo e improviso, de fortuna e virtù, de disciplina e organização num simples esporte popular.

Sem isso, pouco se tirará de positivo do fiasco. Não se aprenderá com ele e, no dia seguinte, a vida futebolística seguirá a mesma. Despolitizada.

*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política e Coordenador do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp

Eliane Cantanhêde: O pós-Copa

- Folha de S. Paulo

A Copa acaba, as seleções se dispersam e os turistas voltam para casa, mas Dilma continua no gramado, com a bola rolando e sob todos os holofotes e atenções.

Nas últimas partidas, tome de entrevistas para estrangeiros. No final de semana, manchetes na internet até falando de corrupção. E chegou o dia de enfrentar o Maracanã, cercada por 12 chefes de Estado.

Entregue a taça, para o bem ou para o mal, Dilma continuará em campo para minimizar as perdas abstratas com os 7 a 1 contra a Alemanha e potencializar os ganhos concretos com o sucesso da Copa.

Hoje, domingo (13), as fotos com a taça no Maracanã e do almoço com presidentes no Palácio Guanabara. Amanhã, o início de infindáveis entrevistas, balanços e badalações com os resultados objetivos da Copa: tantos turistas, tantos dólares, estádios assim, aeroportos assado.

Os 7 a 1 entram para a história, o sucesso da Copa entra para a campanha. A Copa deu certo, isso é inegável. Agora, é refletir nas pesquisas.

Depois vêm infindáveis entrevistas, balanços e badalações da reunião de cúpula dos Brics, com os chefões de Rússia, Índia, China e África do Sul. Parte na aprazível Fortaleza, parte na simbólica Brasília.

A agenda é extensa e não há como os oposicionistas competirem em exposição, em manchetes, em temas. Enquanto isso, por onde andarão e o que estarão fazendo e falando Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB?

Apesar de tudo, ambos têm trunfos e discurso político, dados de graça pela ganância do PT e pela arrogância de Dilma: Aécio rachou os palanques estaduais da reeleição, Campos tem Marina Silva e ambos podem desfiar um novelo de erros destes quatro anos na economia e na gestão.

Aécio terá menos de cinco minutos e Campos, menos de dois na TV, suficientes para provocar: e aí, classe média, excluída do paraíso, dos estádios e dos supermercados?

Luiz Carlos Azedo: A bola que vai rolar

- Correio Braziliense

A Copa do Mundo do Brasil acaba hoje, com um jogão entre a Argentina e a Alemanha no Macaranã. Quem tem ingresso será um privilegiado. Assistirá de corpo presente a uma partida de futebol inesquecível, com a torcida urrando nas arquibancadas tomadas por argentinos e, em menor número, por alemães. Quem não tem ingresso que reserve um lugar para assistir pela televisão. Será mais uma partida imperdível.

Os brasileiros farão parte do show, muitos com a camisa do Flamengo, cores da Alemanha, outros com a do Grêmio, da Argentina, a maioria com a da nossa Seleção. Estarão divididos em relação aos dois times: somente com a bola rolando é que saberemos quem vai ganhar o coração da maioria da torcida tupiniquim.

Não importa o resultado do jogo de ontem, entre Brasil e Holanda, no Mané Garrincha, pela disputa de um honroso terceiro lugar. A festa acabou para nós na terça-feira passada, com aquele 7 x 1 vexatório que levamos dos alemães. Entretanto, o jogo de hoje será um colírio para quem ainda chora o fracasso da nossa Seleção. Mais uma vez, haverá um duelo entre as melhores escolas europeia e latino-americana de futebol.

Não se pode mais falar de futebol-arte contra futebol-força, como antigamente, ma non troppo. A Argentina dependerá da raça e da criatividade de seus jogadores, liderados por Messi e Di María. A Alemanha contará com mais preparo físico e a aplicação técnica de seu time, além de craques do naipe de Klose e Müller.

Vaia anunciada
A bola que vai rolar a partir de agora, porém, é a outra: a disputa pelo poder político, com a campanha eleitoral pegando fogo. A propósito, Dilma Rousseff corre o risco de ser vaiada e xingada no Maracanã, que não costuma perdoar os políticos que se apresentam naquele templo do futebol. O consenso criado em relação à Copa pela Seleção Brasileira se perdeu com a derrota no Mineirão.

Mas, diferentemente do que aconteceu no jogo de abertura, no Itaquerão, desta vez a presidente da República não pretende ser nada discreta. Quer entregar a taça ao time vencedor, mesmo que debaixo de apupos da torcida. Por mais constrangedor que seja, é um gesto de coragem. Mas também há muito de cálculo político nessa decisão.

As pesquisas mostraram que Dilma ganhou muito mais do que perdeu com as vaias e xingamentos recebidos na abertura do torneio em São Paulo, na qual pretendia ter a presença mais discreta possível. A maioria considerou essa atitude uma tremenda falta de educação. Com o sucesso da Copa do Mundo, pelo menos até a goleada alemã, Dilma subiu 5% nas pesquisas de opinião. Com o fim dos jogos, analistas acreditam que voltará aos índices anteriores, mas isso ainda é puro "achismo". É preciso aguardar as próximas pesquisas para saber o que aconteceu.

Evento político
Dilma convidou o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, que está se aposentando, para acompanhá-la na final dos jogos. Ex-peladeiro (um problema na coluna o afastou da bola), o ministro aceitou com gosto. Outro companheiro de tribuna de honra será o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição, esse, sim, outro forte candidato às vaias da torcida.

Candidata à reeleição, Dilma ainda quer fazer da final da Copa do Mundo um evento político a seu favor. Aécio Neves (PSDB e Eduardo Campos (PSB), seus principais concorrentes nas eleições, já subiram o tom das críticas ao governo, inclusive em relação à Copa. Depois do torpor da opinião pública por causa do futebol, a oposição acredita que voltarão à pauta os problemas do país, principalmente os que mais interferem na vida dos cidadãos.

Uma das estrelas internacionais aguardadas por Dilma no Maracanã é Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanhã, que vem com a esperança de levar a taça pra casa. As duas se tornaram amigas depois de descobrirem que estavam sendo espionadas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Merkel acaba de expulsar do país um espião da CIA, a agência de inteligência dos EUA. Na entrevista que deu à rede norte-americana CNN nesta semana, Dilma pegou leve. Disse que Barack Obama não sabia dos grampos.

Também estarão aqui os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da China, Xi Jinping; e da África do Sul, Jacob Zuma; além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, líderes dos países que formam os Brics, juntamente com o Brasil. Na reunião que farão em Fortaleza, na terça-feira, será criado um banco de desenvolvimento conjunto e uma espécie de fundo de estabilização econômica de US$ 100 bilhões.

A grande ausente, porém, será a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que vai assistir ao jogo na Casa Rosada, em Buenos Aires. Teme a "Síndrome de Menem", alusão à fama de pé-frio do ex-presidente Carlos Menem, que viajou à Itália em 1990 para presenciar o jogo de estreia da Argentina, que era a favorita da Copa e perdeu para a seleção de Camarões, em Milão, por 1 x 0.

Ferreira Gullar: A Copa das Copas

• O que vai acontecer agora com aqueles milhões de torcedores que acreditavam em nossa seleção?

Ilustrada – Folha de S. Paulo

Deixei para escrever esta crônica depois da semifinal entre o Brasil e a Alemanha. A principal razão era que, como esta crônica é publicada no domingo, isto é, hoje, dia da decisão final da Copa do Mundo, já teria uma ideia do desfecho que eu mais temia: uma segunda derrota de nossa seleção, jogando em casa, como ocorreu em 1950.

Não que, na minha opinião, o Brasil fatalmente estaria na final. Nada disso, mas, em futebol, como se sabe, tudo é possível. Conforme declarou o técnico da seleção argentina, após a derrota do Brasil, na terça-feira, "futebol é o esporte mais ilógico que existe". De fato, perder para a Alemanha, no meu entender, era previsível, mas não de 7 a 1.

Fiz bem, portanto, em esperar o resultado do jogo Brasil X Alemanha para escrever esta crônica. É que, conforme o leitor teria deduzido de comentários anteriores, eu temia que algo de muito ruim acontecesse. Achava mesmo que passar pela seleção alemã seria difícil, quase impossível.

Isso pensava meu lado racional, mas o outro lado, certo de que em futebol tudo é possível, admitia que talvez a gente passasse para a final. Claro que minha maior preocupação, neste caso, seria a derrota na última partida da Copa e a perda do título.

Veja bem, se a derrota em 1950, por apenas 2 a 1, deixou um trauma que dói até hoje, imaginem a repetição disso no Brasil de hoje, que decidiu realizar a Copa das Copas?

Não queria nem pensar nisso, mas não sei se o que aconteceu não foi pior: não chegamos sequer à final e levamos uma lavada de 7 a 1, num jogo em que a nossa seleção parecia um time amador enfrentando uma seleção de verdade.

Confesso que, quando vi os alemães, depois do primeiro gol, dominarem inteiramente a partida e, em poucos minutos, marcarem mais três gols, temi pelo pior: eles vão nos vencer de dez a zero ou mais!

De fato, nunca tinha vivido uma situação semelhante. O que vai acontecer com aqueles milhões de torcedores que acreditavam em nossa seleção e que agora a veem correr como baratas tontas atrás da bola que os alemães dominam como querem?

O primeiro tempo terminou com o escore de 5 a zero. Um vexame, mas também uma tragédia.

Alguns minutos depois, comecei a ouvir na minha rua um rumor estranho. É que moro próximo à praia de Copacabana, onde há um telão transmitindo o jogo. O rumor que ouvi vinha de uma multidão que deixava a praia para não ter que assistir ao segundo tempo daquela derrota inacreditável.

O mesmo ocorreu no Mineirão, onde o jogo se realizava: grande parte dos torcedores deixou o estádio antes de começado o segundo tempo da partida. Tive vontade de fazer o mesmo, mudar de canal e assistir a outro qualquer programa que nada tivesse a ver com aquela derrota patética.

Mas não fiz isso, fiquei ali, perplexo, esperando o jogo recomeçar. Não que alimentasse qualquer esperança de reverter aquele escore; é que não podia fingir que estava indiferente ao que ocorria naquele estádio de futebol e dizia respeito ao país inteiro.

Foi aí que me lembrei das declarações de Felipão e de Parreira, ambos afirmando que a vitória da seleção brasileira era certa. Segundo Felipão, não éramos pentacampeões por acaso e, se éramos pentacampeões, éramos melhores que os demais.

Essas afirmações, na época, me pareceram absurdas, uma vez que não é título que ganha jogo e, sim, jogando é que se ganha o título.

O Brasil é pentacampeão mundial porque, em determinados momentos, possuiu craques e times de alta qualidade e, por isso mesmo, quase imbatíveis.

Mas ele meteu isso na cabeça dos nossos garotos e na cabeça de milhões de torcedores.

Na verdade, essa nossa seleção não é tão boa assim. Possui craques como Neymar, David Luiz e Thiago Silva, mas não um time à altura de nossas seleções vitoriosas, constituídas de craques que, na época, estavam entre os melhores do mundo.

A verdade é que a seleção de agora chegou às semifinais a duras penas, indo para a prorrogação e para os pênaltis. Jamais acreditei que ela ganharia a Copa.

Pois bem, hoje, Alemanha e Argentina decidem quem ficará com o título de campeão do mundo. Ontem, o Brasil deve ter disputado com a Holanda o terceiro lugar. Espero que tenha tido melhor sorte.