• Antonio Lavareda - Estrategista de FHC diz que derrota para a França na Copa de 1998 não influenciou a campanha, mas que agora é diferente
Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Há 16 anos, quando a seleção brasileira passou pelo vexame dos 3 a 0 na final da Copa da França, vencida pela anfitriã, o sociólogo Antonio Lavareda cuidava das pesquisas e da estratégia da campanha pela reeleição de Fernando Henrique Cardoso.
A "profunda tristeza" que tomou conta dos brasileiros naquela ocasião, porém, não foi motivo de preocupação na campanha tucana, diz.
Na época, a discussão que pautava a agenda política era se FHC venceria no primeiro ou no segundo turno. Acabou ganhando no primeiro, sem qualquer sinal de influência do futebol no resultado.
Apesar dessa experiência, Lavareda acha errado comparar 1998 com 2014. Para ele, que não está vinculado com qualquer candidatura hoje, a derrota para a Alemanha não produziu só tristeza, mas indignação e revolta.
"Sentimentos diferentes repercutem de formas diferentes", diz. Não quer dizer que a presidente Dilma Rousseff será necessariamente prejudicada, ressalva. Na sua opinião, é cedo ainda para conclusões consistentes.
Folha - O sr. fazia pesquisas para a campanha de FHC em 1998. A derrota para a França na Copa afetou alguma coisa?
Antonio Lavareda - Acho que algumas análises partem de uma premissa errada, que é a comparação de coisas diferentes. A situação de 1998 não tem nada a ver com a de hoje. Naquele ano, o Brasil perdeu para a França, foi um vexame, provocou tristeza profunda. Mas a proporção da derrota não é comparável.
Qual é a diferença?
O Brasil agora organizou a Copa do Mundo, foi anfitrião, havia um desejo generalizado de que recuperasse o trauma de 1950. E a derrota agora ocorreu de uma forma inimaginável. Então, não produziu só tristeza, mas indignação e revolta com esse fiasco. São sentimentos diferentes. E sentimentos diferentes repercutem de formas diferentes.
Como irá repercutir?
É muito difícil fazer uma previsão, dizer se esse fiasco vai afetar a eleição. Agora, é ingênuo comparar com situações anteriores diferentes e extrair conclusões. Só 1950 era uma situação razoavelmente assemelhada: o Brasil hospedando a Copa, visto como favorito, com vitórias fantásticas e, na final, perdendo por 2 a 1. Mesmo assim, a população, segundo registros da época, não reagiu com indignação e revolta, mas com tristeza profunda. E, obviamente, são sociedades bem diferentes do ponto de vista econômico, demográfico, social, cultural. Em 1950 também tinha eleição. E ganhou o candidato que havia sido deposto cinco anos antes, Getúlio Vargas. Ele estava no exílio [em São Borja]. Não era o candidato oficial.
Em 1998, a derrota para a França chegou a preocupar o núcleo da campanha de FHC?
Não. Não virou uma preocupação. Óbvio que o bom humor ou o mau humor geral ajudam ou prejudicam o incumbente. Mas muito circunstancialmente.
A presidente Dilma Rousseff não se escondeu após a derrota. Ela tuitou, depois deu entrevistas. Que tal?
Ela se posicionou rapidamente do lado da reformulação do futebol brasileiro. É uma saída meio improvisada, obviamente. Uma primeira reação que parece atabalhoada. Mas indica que ela e o seu marketing fizeram uma interpretação correta do sentimento que as pessoas tiveram. Eu também não estou dizendo que isso vai eleger ou deixar de eleger Dilma. Só estou refutando a possibilidade de chegar rapidamente à conclusão de que esta Copa não vai ter influência alguma. Ainda é cedo para saber. E não só na eleição, mas no inconsciente coletivo brasileiro. Na última terça, o Brasil perdeu um pouco da sua característica metafórica de ser o país do futebol.
Apesar das previsões catastróficas, a organização foi bem-sucedida. Turistas foram recebidos, não teve caos, protestos nem violência policial. Conta?
Houve a Copa, sim, e a euforia com os jogos substituiu a reflexão coletiva sobre o custo dos estádios, obras inacabadas e o legado insuficiente. Com o fiasco da derrota, é provável que, aos poucos, volte à tona esse tipo de discussão. Na campanha, ninguém vai discutir se o Brasil perdeu o jogo. O que vai ter espaço é essa discussão sobre investimento, infraestrutura, obras. Se o Brasil fosse campeão, toda essa discussão estaria completamente superada. A oposição não teria como colocar essas coisas. Agora, é inevitável que coloque.
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