• Tucano diz que governo quer criar ‘Futebrás’ com proposta de reforma da modalidade e explora fama da presidente de intervencionista; já candidato do PSB questiona fato de discussão ser colocada pelo Palácio do Planalto durante a campanha eleitoral
Luciana Nunes Leal, Tânia Monteiro e Anna Ruth Dantas - O Estado de S. Paulo
A discussão sobre o futuro do futebol brasileiro após a derrota acachapante para a Alemanha na terça-feira virou tema central não só das mesas-redondas da TV mas também da campanha eleitoral. No sábado, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff propor mudanças estruturais no esporte e seu ministro Aldo Rebelo falar em “intervenção indireta” na organização das competições e na gestão dos clubes, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, acusou o governo de querer criar uma “Futebrás”. Já Eduardo Campos, candidato do PSB, sugeriu que os adversários querem ser presidentes da CBF, não do País.
Aécio usou as redes sociais para comentar as propostas de Dilma e seu ministro do Esporte. “O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo. Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo. E nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O País não precisa da criação de uma ‘Futebrás’. Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores”, disse Aécio, tentando explorar a fama de intervencionista do governo federal.
Em agenda de campanha em Natal, no Rio Grande do Norte, Campos também tratou do tema. “O debate de conteúdo é que precisa ser feito, um debate do bom senso. Pelo visto estão querendo se candidatar a presidente da CBF: a Dilma ou o Aécio”, afirmou a jornalistas. “(A reforma no futebol) precisa do envolvimento e escuta da sociedade sobre uma lei de responsabilidade nos esportes de uma maneira geral, precisa fazer isso sem estar contaminado pelo ambiente eleitoral”, disse.
O deputado tucano Otávio Leite (RJ) é relator da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que propõe o parcelamento das dívidas dos clubes em troca de modernização da gestão e punições para falta de transparência nas contas e atrasos nos pagamentos. Esse é um dos itens da “reforma” que o governo diz querer ver avançar.
Bola levantada. A questão sobre a “reforma” no futebol foi levantada novamente no mesmo dia da goleada sofrida pela seleção pelo ex-jogador Romário, deputado federal e candidato do PSB ao Senado pelo Rio. Na terça-feira, ele escreveu um longo desabafo depois da derrota brasileira, com críticas diretas a Dilma. “Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira (...), nossos jogadores (...). Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do governo federal no nosso futebol”, escreveu Romário, lembrando que em 2012 defendeu a instalação de uma CPI da CBF.
Na quinta-feira foi a vez de Dilma tratar do assunto em entrevista à emissora americana CNN. A presidente afirmou que era preciso uma “renovação” na organização do futebol brasileiro, destacando o fato de que muitos jogadores deixam muito cedo o País, fenômeno que reduz o público nos estádios.
Aldo, por sua vez, afirmou que era possível “fazer algo com a CBF”, a poderosa Confederação Brasileira de Futebol. Citou uma “intervenção indireta” na organização do esporte e anunciou as três linhas de atuação do governo: mudar o calendário, tentar criar travas para evitar a fuga de talentos abaixo de 19 anos e condicionar a renegociação das dívidas dos clubes a uma melhor gestão financeira.
Sem atritos. Ontem, o ministro voltou ao assunto, tentando esclarecer que a “intervenção” a que se referiu no dia anterior não era na CBF. “O governo não vai fazer nenhuma intervenção nas entidades administradoras do esporte”, disse Aldo, tentando desfazer qualquer mal-estar com a CBF. “O governo pretende recuperar a capacidade de fiscalizar o que há de interesse público e de interesse nacional na administração do esporte”, disse ele, após audiência com Dilma e com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach.
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