- Folha de S. Paulo
Durante meses em 1989 ouvi de marqueteiros de Ulysses Guimarães que sua candidatura a presidente decolaria após o horário eleitoral. Ele era honesto. Havia comandado a elaboração da nova Constituição. Seu apelido, "senhor Diretas". Tudo verdade. Sem contar o principal: Ulysses teria o maior tempo de TV disponível.
O resto é história. Ulysses amargou o sexto lugar na eleição presidencial de 1989. Teve meros 4,7% dos votos válidos. Não empolgou os brasileiros. O PMDB o abandonou. Havia um desejo de mudança no ar. Dois novatos foram ao segundo turno --Fernando Collor e Lula.
Dilma Rousseff não é Ulysses Guimarães. O Brasil de 2014 não é o de 1989. O PT não é o PMDB. Mas o fato é que as coisas começam a andar mal para a petista. As análises ouvidas são as de sempre: ela é honesta, o país melhorou e após o horário eleitoral vai deslanchar.
Na política vale a mesma explicação usada sobre tragédias aeronáuticas. Um avião nunca cai apenas por um motivo isolado, mas por causa de um conjunto de erros. O desastre decorre de uma sucessão de equívocos, desídia e falta de atenção.
É assim numa campanha eleitoral. A presidente da República negligenciou durante seus três primeiros anos de mandato certos protocolos básicos. Não recebeu políticos de maneira regular e orgânica. Evitou o quanto pode entrevistas nas quais poderia ter sido submetida ao contraditório. Há inúmeros exemplos. A pesquisa Datafolha de ontem é a consequência disso tudo. Dilma recuou para 34% das intenções de voto.
Em junho de 2002, Lula tinha 40% no Datafolha. Em 2006, tinha 46% nesta época. Dilma, em 2010, registrava 38%. Além dos percentuais, qual é a diferença da eleição atual em relação a esses três pleitos anteriores? Nas últimas vezes, a curva petista era nitidamente ascendente. Agora, está embicando para baixo. É um mau momento para o governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário