• Lula manda recado à equipe econômica e diz que governo tem que retomar crédito a consumo
• Declaração do ex-presidente vem no mesmo dia em que Datafolha indica aumento do pessimismo com a economia brasileira
Flávio Ilha – O Globo
PORTO ALEGRE – No mesmo dia em que uma pesquisa divulgada pelo Datafolha revela que aumentou o pessimismo do brasileiro com a economia do país, o ex-presidente Lula cobrou que o governo aumente a oferta de crédito para o mercado interno como forma de retomar o crescimento da economia. Em um evento nesta sexta-feira promovido pelo jornal espanhol El País, em Porto Alegre, Lula se dirigiu diretamente ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, e disse que sem crédito “não se vai a lugar nenhum”.
- Arno, um dia você vai ter que me explicar por que, se a gente não tem inflação de demanda, por que a gente está barrando crédito. Porque com o crédito todo mundo vai à luta, o comércio vai à fábrica, a fábrica vai produzir, melhora a vida de todo mundo. Sem crédito ninguém vai a lugar nenhum – disse.
Lula aproveitou a presença do secretário do Tesouro na plateia e cobrou mais ousadia da equipe econômica para reverter a desaceleração. Além disso, advertiu que a combinação entre queda da demanda interna e redução do fluxo de comércio internacional pode colocar o país numa “rota delicada”.
- Nós podemos chegar a 80% do PIB de crédito, a 90%, não tem nenhuma importância. Tem país com 120%. Nós não temos problema de dinheiro para investimento. Mas por que não tem investimento? Não tem porque o país não quer vender nada. Se está diminuindo a demanda, por que eu vou investir? Se tem dinheiro à vontade para investir mas não tem gente para comprar, eu não vou fazer. Não temos que ter medo. Temos que ficar um pouco mais afoitos agora. Apenas seguir a rotina técnica não dá mais certo. Tem que colocar um pouco do charme do compromisso social para a gente melhorar a situação – afirmou.
Segundo Lula, o país está passando “pelo momento mais delicado” da crise. O ex-presidente recomendou ao secretário da Receita a criação de um fundo de incentivo ao comércio de US$ 2 bilhões com a África como forma de vender mais ao continente africano. Também sugeriu que o governo faça um acordo com as montadoras para que direcionem uma parte da produção nacional de automóveis para o mercado africano.
- Temos que comprar uma briga, porque todas as empresas automobilísticas estão vindo produzir carro para o mercado interno. Acho que temos que dizer para as matrizes o seguinte: tchê, quer investir aqui, ótimo. Agora, uma parte das exportações para o mercado africano deve sair da produção brasileira. Quem pode fazer esse jogo, Arno, é o Brasil – recomendou.
Em tom de brincadeira, disse que é preciso superar a mentalidade de “tesoureiro” de Augustin.
- Se depender só do pensamento do Arno, você não faz nada. Não é por maldade dele não, é que um tesoureiro de um sindicato é assim. A nossa tesoureira dentro de casa, que é a nossa mulher, também é assim. Elas não querem gastar, só querem guardar. Mas tem que gastar um pouco também – disse Lula.
Na sua palestra, Lula voltou a fazer críticas à imprensa dizendo que, se depender da mídia brasileira, "o Brasil acaba todo dia".
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