- Folha de S. Paulo
Para autor, tendências ajudam a explicar cisão entre vontade popular e preservação de direitos
Povo e democracia podem opor-se um ao outro? Por mais paradoxal que pareça —“democracia” significa “governo do povo”—, podem. Essa ao menos é a tese do cientista político Yascha Mounk (Harvard), desenvolvida nas páginas de “The People vs. Democracy”.
Lançado pouco depois do best-seller “Como as Democracias Morrem”, dos colegas harvardianos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, o livro de Mounk também procura explicações para a onda de sobressaltos que a democracia vem experimentando globalmente. Embora “The People vs. Democracy” tenha feito aqui no Brasil menos barulho do que “Como as Democracias Morrem”, seus insights não são menos valiosos.
Para Mounk, fica mais fácil compreender fenômenos populistas como Trump e Erdogan (aos quais poderíamos acrescentar Bolsonaro), se deixarmos de pensar a democracia como a união indivisível da soberania popular com a preservação de um núcleo de direitos fundamentais.
Temos, afinal, assistido a uma proliferação de democracias iliberais, que são governos autoritários e que vão contra os direitos de minorias, chancelados pelo voto popular. O contraponto disso é o liberalismo não democrático, presente em estruturas como a União Europeia, que asseguram um núcleo de direitos cada vez mais robusto, mas que são cada vez mais percebidas como insensíveis à vontade dos eleitores.
Para Mounk, uma série de tendências recentes, como o crescimento das mídias sociais, a ressurgência de nacionalismos e a percepção de que o futuro econômico das próximas gerações não será tão promissor, ajuda a explicar a cisão entre vontade popular e preservação de direitos.
Tentar resgatar a boa e velha democracia liberal, diz Mounk, é um desafio, mas não chega a ser impossível. E aqui não existem medidas mágicas. É preciso dar às pessoas propósitos comuns em torno dos quais possam unir-se e oferecer melhores perspectivas para todos, não apenas para grupos específicos.
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