sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Caixa 2 de partidos do Centrão vai secar, por Raquel Landim

O Estado de S. Paulo

Circulam informações em Brasília de possíveis delações premiadas de figuras-chave dos esquemas desbaratados

Ricardo Magro não é apenas o eixo central da Operação Poço de Lobato, que desbaratou o esquema bilionário de sonegação do grupo Refit. Ele é também um empresário de muitas conexões em Brasília, particularmente com políticos do Centrão. Na capital federal, a percepção é de que a operação capitaneada por polícias civis e militares, Ministério Público e Receita Federal vai trazer dois benefícios para o governo Lula: um aumento da arrecadação formal e secar uma fonte importante de recursos de caixa 2 para os políticos do Centrão.

Com operações mais inteligentes, feitas em conjunto também com autoridades estaduais, os investigadores chegaram ao primeiro elo: os empresários.

Com as operações Carbono Oculto e Poço de Lobato, começaram a colocar um torniquete na chamada “economia do crime” – um mundo paralelo no qual empresários inescrupulosos, muitas vezes ligados a grupos como PCC e CV, movimentam bilhões em sonegação, falsificação e adulteração de produtos.

Projeções do Fórum Nacional de Segurança Pública apontam que a “economia do crime” representa R$ 161 bilhões ao ano em apenas quatro setores: bebidas, ouro, combustíveis e fumo.

E, quando o malfeitor é coibido, o empresário sério floresce. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo, a arrecadação do Rio triplicou em outubro após o registro da Refit ter sido suspenso pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Só que a “economia do crime” não persiste sem a complacência da política. E é aí que as autoridades querem chegar: aos políticos.

Circulam informações em Brasília de possíveis delações premiadas de figuras-chave dos esquemas agora desbaratados – talvez uma espécie de Lava Jato do Centrão. Outras pistas (não provas) para as autoridades podem vir das relações entre esses empresários e políticos. Magro hoje é figura tóxica na capital federal, mas por muito tempo teve amigos poderosos.

Em maio, um seminário em Nova York organizado pela revista Veja – e que tinha a Refit como patrocinadora master – contou com a presença de figuras poderosas da República, como o presidente da Câmara, Hugo Motta, o então presidente do Supremo

Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, o senador Ciro Nogueira e o governador do Rio, Claudio Castro. O governador de SP, Tarcísio de Freitas, cancelou sua presença quando veio a público o patrocínio da Refit.

Ciro Nogueira, por exemplo, apresentou pelo menos duas emendas para brecar o projeto do devedor contumaz, que ficou parado no Senado por oito anos – só foi aprovado no rastro da Carbono Oculto. O projeto, que prejudica os interesses de Magro, está paralisado há três meses na Câmara. Ontem, finalmente ganhou um relator.

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