quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Um sistema de justiça que só pensa naquilo, por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Supersalários são manifestação gritante de corrupção institucional

Gastamos pelo menos R$ 20 bilhões em remuneração ilegal no último ano

Um magistocrata de estirpe não pensa em crescer como pessoa. Pensa em crescer como pessoa remunerada, abusadamente remunerada. Pertence ao gênero dos que vieram ao mundo a negócios, e de uma espécie particular: explora a função de operador da justiça para se locupletar à margem da lei. Está num lugar mais seguro para torcer a legalidade em benefício próprio.

O extrativismo magistocrático é praticado por grileiros do orçamento público, os maiores grileiros do Estado brasileiro. A predação de recursos pela cúpula do serviço público fabrica instituições corruptas. Não é o preço inevitável do estado de direito, é o preço de um estado de direito sequestrado por uma minúscula fração de agentes do Estado.

Jair, o presidiário, por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Não há pacificação sem justiça e não há justiça sem direitos humanos

Imagino que Bolsonaro não seja mais a favor do adágio "bandido bom é bandido morto", agora que o bandido condenado é ele mesmo. A redescoberta recente de normas de direitos humanos pelo grupo bolsonarista é, portanto, seletiva; não expressa de forma alguma adesão irrestrita à proteção da dignidade humana para todas as pessoas, inclusive golpistas. Jair, o presidiário, tem os mesmos direitos que historicamente seu campo político desprezou com afinco. E isso Jair deve agradecer ao tal povo dos direitos humanos.

No que chamaram de visita técnica ao Complexo Penitenciário da Papuda, parlamentares bolsonaristas, entre eles a senadora Damares Alves, listaram uma série de preocupações com as condições do local.

Bolsonaro marcou palpites triplos e errou todos, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Apostou na impunidade, na imortalidade e na invencibilidade, e se deu mal

Via-se como onipresente, onisciente e onipotente, mas não combinou com a vida real

Lembra-se da frase de Bolsonaro na Presidência? "Só saio daqui preso, morto ou vitorioso." E completou, com ponto de exclamação: "Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso!". Pois, desapontando os canalhas a quem prometeu sua eternidade no Planalto, Bolsonaro está preso, vivo e derrotado. Marcou palpite triplo e conseguiu errar os três. Para quem se julgava senhor de um latifúndio de 8.509.379 quilômetros quadrados, terá de se contentar agora com um três por quatro —12 metros quadrados— e ainda lamber os beiços.

A direita depois de Bolsonaro, por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Os candidatos a substituir o golpista estão muito distantes da moderação

Dificilmente voltaremos, a curto prazo, aos tempos em que o centro conduzia a direita

Ele acabou de vez? O patético episódio da tornozeleira mutilada parece ter precipitado o ocaso da liderança do "mito" —como se derretiam em chamá-lo os seus seguidores—, recém-condenado à prisão por tentativa de golpe.

Enquadrado pelas instituições democráticas, o ex-capitão se expôs agora ao ridículo. Tanto faz se a causa foi um surto psicótico; ou rematada estupidez política, como sugere João Pereira Coutinho em sua imperdível coluna publicada nesta semana; ou ainda por irremediável falta de dignidade e compostura.

O fim da democracia liberal dos Estados Unidos, por Cláudio Carraly*

A democracia americana, por mais de dois séculos, apesar de profundas falhas, serviu como farol de aspirações democráticas globais, porém atravessa hoje uma crise existencial que ameaça sua própria natureza. O que testemunhamos não é um colapso súbito, mas uma erosão sistemática e deliberada das instituições que sustentaram o experimento democrático mais antigo do mundo moderno. Esta transformação segue padrões reconhecíveis de deriva autoritária, ecoando experiências contemporâneas desde a Hungria de Orbán até El Salvador de Bukele, passando pela Polônia de Kaczynski e os primeiros anos do Brasil de Jair Bolsonaro.

Arquitetura da Autocracia: Quando a Democracia se Devora

O processo em curso nos Estados Unidos replica um roteiro familiar aos estudiosos do autoritarismo competitivo, teorizado por Steven Levitsky e Lucan Way. Diferentemente dos golpes dramáticos do século XX, essa transformação utiliza as próprias instituições democráticas para desmontá-las por dentro. Viktor Orbán, na Hungria, forneceu o modelo mais refinado: manter as aparências eleitorais enquanto esvazia sistematicamente o conteúdo democrático das instituições por meio do que Bálint Magyar denomina "captura de Estado mafioso".

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Prisão de militares golpistas é um momento histórico

Por O Globo

Processo correu com serenidade e dentro da lei, revelando maturidade da democracia brasileira

É uma demonstração histórica da maturidade da democracia brasileira o desfecho do julgamento do núcleo central da trama golpista pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com a prisão inédita de militares de alta patente condenados por tentativa de golpe de Estado. Além do ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente no sábado por suspeita de fuga ao tentar violar a tornozeleira eletrônica, foram encarcerados na terça-feira os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, já estava preso preventivamente.

Opinião do dia – Karl Marx* (As circunstâncias}

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.”

*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril, 1988

 

Poesia | Amar, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Maria Rita - Ai que saudade do meu amor