Folha de S. Paulo
Será preciso acompanhar passo a passo o
quadro eleitoral paulistano para uma avaliação mais firme sobre chances do
ex-coach
A rápida ascensão de Pablo Marçal nas
pesquisas de intenção de voto interferiu no mapa político paulistano e nacional
de maneira que não se previa. A trollagem do autodenominado ex-coach seria,
sim, para dar algum resultado. Esperava-se que pudesse levá-lo a ganhar alguns
pontos nas sondagens, mas que acabaria ficando por ali, como terceiro colocado
sem aspirações à vitória. Acumularia cacife para tentar negociar alguma coisa
no segundo turno.
Agora, já é outra história. Depois de o Datafolha flagar, em duas semanas, o salto de 14% das intenções para 22%, foi a vez da pesquisa Quaest reafirmar o empate técnico entre o deputado Guilherme Boulos, o prefeito Ricardo Nunes e Pablo Marçal.
Espécie de bolsonarista sem Bolsonaro, o
candidato surpresinha da eleição paulistana vive um momento de glória, mas não
tem garantia de prazo de validade. Muito forte na internet, não terá espaço
algum na propaganda de TV que começa nesta sexta (30). Mesmo nas redes, perdeu
terreno, com a suspensão de seus perfis determinada pela Justiça. Seu passado
nebuloso, com uma condenação criminal, e as conversas sobre supostas ligações
com o PCC podem
se voltar contra ele.
Por ora, Marçal causa turbulências no campo
da extrema direita populista e desafia, com certa ambiguidade e dentro de
certos limites, o reinado de Jair
Bolsonaro. Pesquisas são retratos de um momento, e neste
momento Nunes seria,
segundo a Quaest, o grande vitorioso nas simulações de segundo turno.
Bateria Boulos e Marçal com certa folga.
Na disputa contra o influenciador, o prefeito
teria 47% contra 26%. Já num confronto com Boulos, o emedebista marcaria 46% a
33%. Caso o candidato do PSOL e
Marçal passem, a Quaest indica, hoje, um empate em 38% das intenções do
eleitorado.
É fato que a experiência da vitória de
Bolsonaro em 2018, em sintonia com a ascensão de líderes de perfil autoritário
em outros países, trouxe uma dose extra de cautela nas avaliações sobre o que
pode acontecer em eleições neste
admirável mundo novo em que vivemos.
Como poucas vezes se viu, nos últimos anos
pesquisas foram questionadas por movimentos de última hora ou por correntes
mais profundas e não muito captadas. Apostas na predominância das opções
institucionais, como partidos com história, postulantes com máquina ou nomes
conhecidos do eleitorado tornaram-se mais incertas.
Diferentemente de outras grandes capitais,
como o Rio, onde o quadro se mostra menos sujeito a chuvas e trovoadas, a
eleição paulistana terá de ser acompanhada passo a passo pelos serviços de
medição do clima eleitoral —sem dispensar frequentes olhadelas pela janela para
conferir se não há raios caindo do céu azul.
Estive em Buenos Aires alguns meses antes da
eleição de Milei.
Conversei com amigos, intelectuais, jornalistas, gente informada. Estavam todos
assustados com o ultraneoliberal antissistema, mas, talvez um pouco por desejo,
céticos quanto a uma vitória. Sim, Bolsonaro era uma referência, mas do Brasil,
não da Argentina, um país mais politizado, educado etc
Pois bem, deu no que deu.
PS - Estreia nesta sexta (30) o podcast
Bocas de Urna, no qual terei a satisfação de conversar com
Mônica Bergamo e Patrícia Campos Mello, duas craques do jornalismo, sobre
eleições municipais no Brasil e eleição presidencial nos EUA. Toda semana nas
principais plataformas.
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