O Estado de S. Paulo
A
feroz hostilidade do presidente Lula à política do Banco Central (BC), com a
qual seu futuro presidente, Gabriel Galípolo, terá de lidar tem a ver com uma
mentalidade antiga do que tem de ser uma política fiscal e sua relação com a
política de juros.
Para
o presidente Lula, tanto a rigorosa disciplina na administração das contas
públicas como a política de juros de controle da inflação são exigências do
mercado, que trombam com uma política de desenvolvimento e de emancipação da
pobreza. Gastar menos ou cobrar mais juros, entendem Lula e as antigas
esquerdas do Brasil, é empurrar uma conta injusta para a população mais pobre.
Para eles, os banqueiros adoram juros altos porque ganham mais dinheiro com o retorno dos empréstimos. Este é grave erro de entendimento. Banqueiro ganha mais com juros baixos. Os juros são o preço do dinheiro. Se o juro está alto é porque o dinheiro, por certas razões, está escasso e os banqueiros têm menos recursos para emprestar. Se os juros estão mais baixos é porque há mais dinheiro disponível e, por isso, também, os banqueiros pagam menos pelo dinheiro dos aplicadores que lhes é dado por empréstimo. Ou seja, juros altos pouco ou nada têm a ver com ganância dos banqueiros.
Uma
política fiscal flácida, como a que pretende o presidente Lula, prejudica a
população mais pobre não só porque produz inflação, mas, também, porque tromba
com a política de combate à inflação do BC. É fácil de entender: quando gasta
mais do que arrecada, o governo injeta dinheiro na economia e, pelo efeito da
lei da oferta e da procura, tende a produzir inflação. Para combater a
inflação, porque há mais moeda do que mercadoria e serviços, o BC aumenta os
juros. Mas este é apenas o efeito: os juros sobem porque o BC retira dinheiro
da economia.
Também
é preciso entender que há um nível em que o tamanho dos juros praticados no
mercado escapa dos juros impostos pelo BC. Quem faz um empréstimo para compra
de casa própria ou quando uma empresa compra uma máquina a prazo, em ambos os
casos, se pagam os juros ao longo do tempo.
Se
há desencontro entre a política fiscal e a política de juros ou se perdeu a
confiança no BC (distorção das expectativas), os juros futuros sobem
independentemente do nível em que estão os juros básicos (Selic) – como
aconteceu nos tempos de Alexandre Tombini e Dilma Rousseff.
Quando
pressionam o Banco Central para derrubar os juros na marra, o presidente Lula e
tanta gente no PT mostram que ignoram como as coisas funcionam. E se por força
política, conseguem inibir a política de juros, contribuem para o aumento das
distorções e para a inflação esmerilhar a renda dos mais pobres.
Por
carregar DNA do PT, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gabriel
Galípolo parece ter mais condições de mostrar ao presidente Lula o quanto uma
política social pode fracassar quando o BC é atrapalhado pelo governo no que
tem de fazer. A conferir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário