Folha de S. Paulo
Veto para os bancos fazerem a portabilidade
de salários e aposentadorias é entrave à concorrência
Em jogo, um embate sobre segurança versus
competição que vai nortear decisões com potencial impacto na vida dos
brasileiros
O veto de Lula ao prazo de dois
dias para as instituições financeiras fazerem automaticamente
a portabilidade
de salários e aposentadorias se transformou em mais um foco de
tensão na disputa entre bancos e fintechs.
Em jogo, um embate sobre segurança versus competição, que vai nortear decisões regulatórias do Ministério da Fazenda e do Banco Central nos próximos meses e anos —e com potencial impacto no dia a dia da vida dos brasileiros com conta em alguma instituição financeira.
Na lei sancionada pelo presidente nesta
semana, o Congresso tinha alterado o prazo de 10 para 2 dias. Lamentavelmente,
o governo vetou o corte, mesmo com o diagnóstico de que a portabilidade é um
instrumento importante para fomentar a competição e com pouca efetividade até
no Brasil.
Lula alegou que, embora houvesse boa intenção
do legislador, o prazo rígido poderia aumentar a exposição dos consumidores
bancários ao risco de fraudes.
Os bancos pressionaram e conseguiram negociar
com o governo um prazo de cinco dias, que será regulamentado em breve pelo
Conselho Monetário Nacional.
É inegável que a portabilidade precisa ser
feita com segurança e num prazo razoável para as devidas checagens. Dois dias
parecem ser suficientes para os bancos avaliarem essas condições. Com o prazo
de cinco dias, ganham mais tempo para amarrar o cliente. Com outro veto, ficou
também para o CMN a definição de restrições do INSS para
que os aposentados recebam pelas fintechs.
Nessa disputa, os bancos, em particular os
grandes, têm uma vantagem competitiva, porque desenvolveram ao longo dos anos
relacionamento com as empresas e compraram muitos direitos de pagar a folha de
salários. A maior delas é a do INSS.
O projeto tirava essa vantagem competitiva
dos grandes bancos. Eles não pagam pela folha à toa. Fazem isso porque
conseguem extrair lucros por meio de tarifas e taxas de juros mais altas.
Esse não é um debate menor na economia brasileira,
principalmente num país em que a taxa de juros está em 15% ao ano.

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