• Venda de participações seria forma de reforçar o caixa da companhia, mas preço do petróleo em queda deve dificultar as negociações
Fernanda Nunes - O Estado de S. Paulo
RIO - Em meio a dificuldades de caixa e com um pesado compromisso de investimento, a Petrobrás analisa vender participações em áreas no pré-sal como solução de curto prazo para enfrentar dificuldades financeiras. Investidores financeiros e petroleiras instalados no exterior estão sendo sondados para avaliar se têm interesse no negócio.
O projeto ainda está sendo tratado no âmbito da diretoria da estatal. Se concretizado, vai ajudar a empresa a enfrentar os percalços provocados pelas denúncias de corrupção e pelo endividamento, que cresceu no último ano com a elevação da cotação do dólar frente ao real. Da dívida total da empresa, 81% estão em moeda estrangeira.
De acordo com fonte envolvida na operação, o projeto faz parte do programa de desinvestimento da companhia, que, até agora, esteve focado na venda de ativos no exterior. A partir deste ano, a Petrobrás vai direcionar os esforços a ativos de exploração e produção no Brasil, principalmente em áreas atrativas a investidores, sem, no entanto, comprometer o plano de alcançar a marca de produção de 4 milhões de barris por dia, em média, a partir de 2020. Procurada para falar sobre o plano, a Petrobrás não respondeu até o fechamento desta edição.
Preços. O que deve dificultar o plano da Petrobrás é a atual queda livre no preço do barril de petróleo no mercado externo. O movimento começou em outubro, quando o barril era negociado na casa dos US$ 90. Nesta sexta-feira, o petróleo fechou cotado a US$ 48,36 na New York Mercantile Exchange (Nymex), com queda de 0,88%. Na Intercontinental Exchange, o petróleo Brent fechou com queda de 1,66%, cotado a US$ 50,11 o barril. Nesse cenário, a expectativa é que o interesse das petroleiras internacionais em ampliar a produção seja menor e mesmo que o caixa dessas companhias esteja enfraquecido.
O Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado, apurou que algumas das sócias da petroleira no pré-sal estão sondando possíveis parceiros na Europa e na China. Duas empresas chinesas, a CNPC e a Cnooc, já estão no pré-sal ao lado da Petrobrás, no campo de Libra, com 10% de participação cada uma. Mas, diferentemente de Libra, as áreas do pré-sal analisadas agora foram contratadas em regime de concessão e, por isso, não exigem que a Petrobrás seja a operadora e tenha uma participação mínima de 30%.
O desenho da operação pela Petrobrás ainda não está fechado, mas, o ideal para a estatal seria manter participação nos projetos. Outra alternativa seria recorrer a novos parceiros que entrem apenas com dinheiro, sem que as participações acionárias sejam alteradas. O ganho desses investidores viria do resultado da produção.
Esforço menor. O especialista Alfredo Renault, da PUC-Rio, acredita que o projeto seria bem recebido pelo mercado, porque diminuirá o esforço de investimento da Petrobrás. Ao mesmo tempo, alerta que esse não é o melhor momento para vender ativos em exploração e produção por conta da queda no preço do barril do petróleo.
Graça Foster, presidente da Petrobrás, confirmou, em encontro com jornalistas, em dezembro, que a estatal levará a diante seu plano de desinvestimento para fazer caixa e reduzir compromissos e manterá o foco nos projetos considerados prioritários. Ao comentar o plano, demonstrou também convicção de que o preço do petróleo voltará a subir, o que favorecerá a venda de áreas. “Dói falar em desinvestir em E&P (exploração e produção) com o petróleo em baixa”, afirmou a executiva.
A Petrobrás possui, atualmente, dez áreas em fase de exploração no pré-sal, com mais chance de entrarem na lista de desinvestimento, em sociedade com outras petroleiras, nas bacias de Campos e Santos, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Nesses casos, as participações da Petrobrás variam de 30% a 80%.
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