- Folha de S. Paulo
Como se habitasse algum círculo de inferno dantesco, o paulistano vislumbra, simbolicamente, morrer afogado e com sede. E 2015 trouxe um bônus: a agonia pode ser abreviada pela queda de uma árvore sobre sua cabeça.
Pois é. A grande novidade do verão na maior metrópole do país é que árvores despencam de forma destruidora, às vezes fatal, a cada uma das chuvas torrenciais que trazem conhecidas enchentes (menos nos tais reservatórios secos).
É uma triste ponte entre a crise hídrica de Alckmin e a gestão Haddad, tão preocupada em formar o "homem novo" na marra --a versão século 21 dele vem com bicicleta e capacete, talvez pensando nos galhos à espreita que a prefeitura deixou de podar. Cereja do bolo, outro elo entre os mandatários, Gabriel Chalita, vai cuidar da educação na cidade.
Invertendo a equação de que Brasília se faz microcosmo do Brasil, o verão da árvore é uma metáfora do que se passa no mundinho político.
Nele, a "Pátria educadora" vê o MEC ser tosado no primeiro corte do doutor Levy. O ajuste é inevitável, mas cabe questionar a tesourada linear quando cada pasta tem uma composição de gastos própria.
Tanto faz: o que vem pela frente é mais duro, a começar por investimentos. Como o ministro já disse, a gestão Dilma-1 tem de ser corrigida. Resta rezar para que a crise não nos afogue enquanto morremos de sede.
E há árvores, nesta semana encarnadas no combativo Eduardo Cunha. A disputa do deputado com o Planalto pela presidência da Câmara se parece cada vez mais com aquele filme de James Bond em que os jogadores de pôquer se enfrentam civilizadamente no carteado só para tentarem aniquilar-se mutuamente a cada intervalo. E a aposta só sobe.
Se por um lado surge como alvo da poda da Lava Jato, a cada lance Cunha se torna uma frondosa tipuana prestes a estatelar-se sobre o governo. O verão da árvore promete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário