• Foi a maior dispensa de trabalhadores desde 1998, quando a crise na Rússia obrigou o setor a cortar 22,2 mil vagas no Brasil
Cleide Silva - O Estado de S. Paulo
A indústria automobilística demitiu 12,4 mil trabalhadores no ano passado, dos quais 1,6 mil em dezembro. Foi a maior dispensa em 16 anos. Em 1998, quando a economia mundial sofreu os impactos da crise na Rússia, o setor, incluindo fabricantes de tratores, cortou 22,2 mil postos de trabalho no Brasil.
As montadoras encerraram 2014 com 144,6 mil funcionários, voltando assim aos níveis de emprego de 2011. Este ano, contudo, já começou com demissões - foram 800 vagas na Volkswagen e 260 na Mercedes-Benz, ambas em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, diz que o setor “ainda tem excedente de nível de emprego em relação à produção”. Afirma, contudo, que o caso da Volkswagen é pontual e que “por parte das demais associadas não há informação de cortes iminentes”.
Moan informa que as demissões no ano passado foram feitas por meio de mecanismos acertados com o governo, como Programa de Demissão Voluntária (PDV), não renovação de contratos temporários e acordos com os sindicatos. O acerto foi feito para o período de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre maio de 2012 e dezembro. No dia 1º o imposto voltou a ser cobrado integralmente.
Projeções. A produção de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus caiu 15,3% no ano passado na comparação com 2013, para 3,146 milhões de unidades. Foi o pior desempenho desde 2010. Para este ano, a Anfavea projeta alta de 4,1%, para 3,276 milhões de veículos.
A aposta tem como base um crescimento de 1% nas exportações (para 337,9 mil unidades) e redução de 17,6% para 16% da participação dos carros importados nas vendas internas, em razão da alta cambial. “Serão pelo menos 70 mil carros importados que vão ser substituídos por nacionais”, calcula Moan.
As vendas internas, que caíram 7,1% em relação a 2013 (para 3,498 milhões de unidades), devem se manter estagnadas em 2015. Apesar do quadro econômico desfavorável, Moan acredita que os bancos vão liberar mais crédito para financiamento em razão da recente lei que facilita a retomada de carros de inadimplentes.
Fábricas e concessionárias encerraram dezembro com 351 mil veículos em estoque, ante 414,3 mil em novembro.
O número atual equivale a 28 dias de vendas - em novembro eram 42 dias -, se for levada em conta a média de vendas de dezembro, que registrou o terceiro melhor mês da história, com 370 mil unidades comercializadas.
Se o cálculo for feito com base na projeção de vendas para este mês, contudo, o número de dias de estoque sobe para 35 dias a 36 dias, afirma Moan, o que é “bastante preocupante”, diz ele. Em razão da antecipação de compras ocorrida no mês passado por causa da volta do IPI, a expectativa é de um janeiro fraco em vendas.
Protesto. Os 13 mil trabalhadores da Volkswagen entram nesta sexta-feira no quarto dia de greve em protesto contra as 800 demissões anunciadas pela empresa na fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
Na Mercedes-Benz, após paralisação de 24 horas na quarta-feira, os 11 mil funcionários retornaram ao trabalho nesta quinta-feira, mas nesta sexta-feira fazem protesto em frente aos portões da fábrica com a presença de familiares de demitidos.
Dos 260 cortes na Mercedes, 160 foram demitidos pela empresa e 100 entraram num Programa de Demissão Voluntária (PDV). Eles estavam num grupo de cerca de 1 mil trabalhadores que ficaram em lay-off (contratos suspensos) por cinco meses até novembro. A empresa renovou o programa para 750 trabalhadores e vai bancar os custos, sem a participação do Fundo de Amparo aos Trabalhadores (FAT).
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