- Folha de S. Paulo
Retirada de radares nas estradas vai na contramão do que fez a Suécia para reduzir mortes
França, 2002. Chocado com um acidente automobilístico que matara cinco bombeiros, o então presidente Jacques Chirac aproveitou o tradicional discurso do Dia da Bastilha para declarar guerra às mortes no trânsito. A França detinha à época o título de país com as estradas mais perigosas da Europa. Seguiu-se um programa de instalação de radares de velocidade que contribuiu para poupar mais de 16 mil vidas entre 2003 e 2010.
O grito de guerra presidencial foi a forma como a França aderiu à mudança de paradigma sobre segurança no trânsito que vem ocorrendo em boa parte dos países desenvolvidos. A pioneira foi a Suécia, e lá a iniciativa ganhou o nome de Visão Zero, uma referência ao objetivo de zerar as mortes em acidentes automobilísticos.
A ideia dos suecos, lançada no final dos anos 90, é a de que é preciso abandonar a noção utilitarista de que existe um trade-off entre mobilidade e custos, orientado por um valor monetário que os técnicos atribuem à vida humana, e adotar o princípio de que qualquer morte no trânsito é eticamente inaceitável.
O Visão Zero admite que acidentes são inevitáveis, mas julga ser possível criar um ambiente em que eles não matem nem deixem feridos graves. Um dos pontos nevrálgicos do sistema é assegurar velocidades compatíveis com o perfil de cada via. Naquelas em que há conflitos entre pedestres e motoristas o limite deve ser de 30 km/h, já que mais do que isso é, na eventualidade de choque, garantia de ossos quebrados.
A meta do programa talvez seja inexequível, mas o fato é que, enquanto os suecos a perseguem, reduziram as mortes de 6 para cada 100 mil habitantes em 1997 para menos de três hoje. Por aqui, a taxa é de 23,4.
Brasil, 2019. Incomodado em ter de pagar multas por excesso de velocidade, o presidente Jair Bolsonaro mandou tirar todos os radares móveis de todas as rodovias federais. É o Brasil aderindo ao Zero de Visão.
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