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O que Bolsonaro é
O assombroso é que Jair Bolsonaro, o capitão expulso do Exército por indisciplina, nem se esforça para disfarçar sua má índole. Ele é mau e gosta de ser. Podendo apenas criticar um adversário, ataca para destruí-lo. Vale-se de todos os meios, lícitos ou não, para alcançar o que quer. E depois celebra sem pudor o que conseguiu.
Não tem a menor empatia. Não consegue se pôr no lugar do outro. Não liga para sentimentos, a não ser os seus. Não reconhece limites. Não admite erros. Só pede desculpas, quando o faz, se isso lhe render vantagens imediatas. Põe a família – a dele – acima de tudo. E o enriquecimento dela é o que importa. Que mau sujeito!
Até chegar por acidente onde chegou, somente ele e seus parentes amargavam as consequências perversas dos seus defeitos. Desde então quem as suporta é o país. Está se tornando rapidamente um perigo para as instituições que jamais prezou, que enxerga como obstáculos à sua vontade. Se elas vacilarem ele as esmagará.
Tratar um presidente desvairado e nada confiável com reverência ou brandura servirá para que ele possa ir muito além dos seus poderes. Pobre de um país onde escasseiam as vozes de referência, abundantes no passado. Ou onde elas se calam por conveniência ou por medo. Se um dia resolverem falar poderá ser muito tarde.
Enquanto aumenta a miséria, Guedes faz brincadeira
Desigualdade em alta
Então de brincadeira, como anotou um jornal, o ministro Paulo Guedes, da Economia, o ex-Posto Ipiranga do governo Bolsonaro, anunciou que a Petrobras poderia ser privatizada.
Uma vez que os sites de notícias, ao longo da tarde de ontem, levaram a sério suas palavras, ele foi obrigado a corrigir-se. Afirmou que tudo não passara de brincadeira ou especulação.
Bem que ele poderia especular sobre o que fazer para desemperrar a economia e produzir empregos para os 12 milhões de desempregados que vagam por aí à procura de ocupação.
O Brasil, segundo estudo do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, atravessa o ciclo mais longo de aumento da desigualdade de sua história – pouco mais de 4 anos.
De 2014 para cá, a renda da metade mais pobre da população desabou quase 20% – exatos 17%. No mesmo período, a renda da parte do 1% dos mais ricos cresceu pouco mais de 10%
Entre 2015 e 2017, a fatia mais pobre da população passou de 8,3% para 11% do total. Temos 23,3 milhões de pessoas sobrevivendo com menos de R$ 233 por mês.
Ganha um fim de semana em Washington para a posse do garoto Eduardo como embaixador quem se lembrar de falas de Guedes ou de Bolsonaro que traiam sua preocupação com os mais pobres.
Como observou um experiente político com livre trânsito no Palácio do Planalto, este é um governo de ricos para ricos, e que pouco liga para a vida dos que estão na base da pirâmide social.
O melhor emprego do mundo. Ou do Brasil. Ou do governo
O risco que corre o general
Tem melhor emprego do que o de porta-voz do presidente Jair Bolsonaro? Primeiro porque trabalha pouco, uma vez que Bolsonaro prefere falar diretamente aos jornalistas, em média três vezes ao dia, incluindo os fins de semana. Segundo porque está dispensado de passar pelo constrangimento de reproduzir tudo o que o capitão ouve e repete, ou pensa e espontaneamente diz.
Por ora, o porta-voz é o general Otávio Rêgo Barros, que cunhou a expressão “nosso presidente” para referir-se ao patrão. Rêgo Barros é um militar de primeira linha, respeitado, talentoso e com vasta experiência na área de comunicação. Foi uma das poucas escolhas boas de Bolsonaro para assessorá-lo. Por elegante e bem educado, seria embaraçoso para ele ter que portar certas coisas.
Não dá para imaginar Rêgo Barros dizendo: “O nosso presidente mandou a primeira-ministra alemã enfiar no rabo o dinheiro que mandaria para o Fundo da Amazônia”. Ou então: “A respeito da decisão do governo da Noruega de suspender sua ajuda à preservação da Amazônia, nosso presidente limitou-se a declarar: ‘Estou nem aí. Foda-se a Noruega. E a França de quebra’”.
Homem de bons modos, exemplar chefe de família, famoso entre seus ex-colegas de farda por sua cordialidade e estrito senso do dever, já pensou se em um encontro com jornalistas nacionais e estrangeiros, aqui ou no exterior, fosse cobrado a explicar o que Bolsonaro quis dizer quando aconselhou os brasileiros a fazer cocô dia sim, outro não, para preservar o meio ambiente?
É o fato de não ter de portar a voz do Excelentíssimo Senhor Presidente da República do Brasil, missão honrosa em tempos idos, que confere ao emprego de Rêgo Barros a condição de o melhor do mundo. Ou de o melhor do Brasil. Ou o melhor do governo do tosco capitão. Mas como nada é perfeito, acautele-se o general, pois poderá ser demitido por ser o oposto do seu chefe.
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